quarta-feira, 15 de abril de 2015




MOÇAS MALVADAS

Em 3 de abril foi para as bancas na Itália, o número 181 de Dampyr "A Longa Noite de Ódio". Entrevistamos as duas autoras da tenebrosa aventura: Rita Porreto e Silvia Mericone!

Uma pequena e tranquila cidadezinha qualquer, no coração de Iowa. Um demônio andarilho e uma menina cansada de submeter às regras e ao assédio dos pais, estão para desencadear uma tempestade de horror, que somente Dampyr poderá tentar parar. Essa é a sinopse de "A Longa Noite de Ódio", número 181 de Dampyr, nas bancas desde 3 de abril. Uma edição que marca a estréia na série de duas moças malvadas: Rita Porreto e Silvia Mericone, autoras que conheceremos melhor através desta entrevista.

Vamos lá, façamos um acordo: como responderão às minhas perguntas: Em uníssono ou de forma individual? 
Rita Porreto: Um pouco de cada. Aproveito a oportunidade para dizer que Silvia é a inteligente e eu a simpática...
Silvia Mericone: Disse tudo, não ouso contradizê-la.

Conte-nos quais são as experiências de vocês, antes da história para Dylan Dog Color Fest e do Dampyr que foi para as bancas esse mês.
RP e SM: Depois de pequenas produções, conseguimos publicar a série "Dr. Morgue" pela Star Comics, uma história que estamos ligadas de modo visceral, fundamentalmente por dois motivos: pudemos tratar de argumentos que nos interessava muito e do modo que queríamos, mas sobretudo pudemos contar sobre Yoric Malatesta, o primeiro personagem de Asperger em uma série de revista em quadrinhos popular. Graças a "Dr. Morgue" adquirimos credibilidade como profissionais, ou pelo menos, nos sentimos profissionais o suficiente, para apresentarmos propostas para as séries Bonelli.


Como se aproximaram dos quadrinhos e quais estradas as levaram a serem autoras? 
RP: Aprendi a ler quadrinhos. É uma paixão que sempre me acompanhou, porém, a paixão não basta para transformá-lo em um trabalho. Nós pensávamos, nós brincávamos e queríamos, mas ainda era um sonho... Então, por puro acaso, descobri um curso na minha cidade, e, mesmo com tantas dúvidas, resolvi frequentá-lo. Lá, entendi que não sabia nada e era muita arrogância da minha parte acreditar ser capaz, somente porque... eu queria tanto. Silvia me ajudou muito, sem ela não teria a menor possibilidade de escrever e contar sobre um personagem complicado e multifacial como "Dr. Morgue", e por consequência não teria chances com monstros sagrados como Dylan Dog e Dampyr.
SM: Eu posso me considerar um pessoa fora de tudo, no âmbito dos quadrinhos. Não pensava de fato escrever histórias, porque meu sonho era trabalhar como diretora e tinha estudado para isso; por um longo tempo as minhas únicas leituras em quadrinhos foram "Mickey Mouse", "Lobo Alberto", "Calvin&Hobbes", "Strumptruppen", a revista "Linus" e o jornal de sátiras "Cuore". Confesso que, quando estudava, muitos dos meus colegas de escola liam Dylan Doge e eu o achava incompreensível... como são as coisas! Me aproximei desse universo aos dezoito anos, quando li "Eternauta": que me "mostrou" a complexidade estética e poética que está por trás de um quadrinho, mas sobretudo a possibilidade narrativa que delimitava. 


Falando de "estradas", como são aquelas da pequena cidade americana em que se passa a primeira história de Dampyr de vocês? 
RP: Sou muito metódica, quando trabalho. A história precedente em que aparece o demônio andarilho se passou em Illinois. Para começar a escrever a nossa aventura, pegamos o mapa dos Estados Unidos e, para decidir as ambientações da história, imaginei o possível caminho percorrido pelo andarilho, baseando-me sobre os meios à sua disposição, sobre as precipitações atmosféricas e sobre fenômenos meteriológicos dos últimos cinquenta anos. A escolha do local caiu sobre Iowa., terra de tornados e raios. Dali, procuramos uma cidadezinha tipicamente americana, daquelas de calendário, que ao mesmo tempo tivesse uma atmosfera inquietante. Winterset respeitava todos os pressupostos e ainda é a cidade natal de John Wayne! Para "A Longa Noite de Ódio", nós recriamos as estradas e os lugares de Winterset, e também trocamos o nome para Winter... nos pareceu mais sugestivo.

SM: Quando Rita diz que é metódica, na realidade está brincando: é obsessiva e eu sempre me senti provocada. A escolha de Winterset, no que me diz respeito, foi praticamente automática.
Gosto muito da cidadezinha americana isolada e fechada na própria rotina cotidiana, sempre igual, que vira de cabeça para baixo, com uma tempestade de crueldade e sinistros presságios. Isso me divertiu muito, talvez porque sou sádica, e outras coisas mais.

Como nasceu a idéia desta história? Quais foram as vossas fontes de inspiração, para a trama e as atmosferas que a caracterizam?
RP: Dampyr é uma série complexa. Existem diversos filões narrativos, todos ricos e encorpados, mas há também histórias, aparentemente fora da continuidade, que são as mais difíceis, porque Harlan Draka é o resultado das muitas experiências e aventuras vividas, que sempre deve ser levado em conta. Havia uma aventura, "Chuva de Demônios", que segundo nós, precisava de uma sequência e parecia um desafio interessante. Refletimos sobre a figura do demônio andarilho, sobre suas características e diferenças a respeito de outros andarilhos que apareceram na série e procuramos entender o que poderia ser feito. Nesse período estava lendo um livro de Clive Barker, deixado na minha biblioteca por anos, e tinha revisto a pouca transposição cinematográfica de uma história interessante. Queríamos uma história que inspirasse veracidade, que fosse horror e tragédia juntos.
SM: Minha relação com esta história foi muito profunda, quase "matemática". Acredito que o horror seja caracterizado por uma série de clichês e de medos, que um autor deve saber reelaborar de um modo banal. Mais que fonte de inspiração, pelo menos para mim, falarei de "sugestões old style", referindo-me ao horror dos anos noventa, ao início, a um romance gótico de Fritz Leiber: a sinistra figura da colina de fronte a casa do protagonista, me sugeriu a aparência do demônio andarilho da nossa história, embora num contexto diferente.

No centro da história há uma menina cuja vida é atormentada: porque tanta fúria contra ela? 
RP: Não sei se é tanta fúria assim, mas posso dizer que Cathy McDougal foi perseguida por muito tempo! Em muitas histórias de horror, há um personagem que tenta dar o passo maior que a perna, e, não tem a capacidade de arcar com as consequências. Cathy, a despeito de tudo e de um modo pessoal, conseguiu.
Não é exatamente uma vítima, não é uma sedenta por canificina, é na verdade as duas coisas. Cathy foi enganada, teve o azar de encontrar um andarilho que se aproveitou de sua ingenuidade, mas também teve uma parte que ela queria. Acredito que Nicola Genzianella esteve particularmente atento para colher tudo daquela mulher e dos outros personagens de Winter, cada um com seus problemas.

"Não sei se fomos más, mas podemos
dizer que Cathy McDougal foi
perseguida por um longo tempo!"

SM: Eu me sinto rancorosa e acredito que ela também esteja rancorosa comigo, porque tive com esse personagem uma relação de "amizade" muito grande. Às vezes me dava pena dela, depois queria que morresse da pior maneira, e por fim que morressem todos. Provavelmente porque detesto as mulheres que não se auto afirmam e Cathy McDougal é exatamente isso. Fiz as pazes com ela, quando a vi desenhada. Nicola Genzianella, que é um mestre em ambientações, conseguiu dar-lhe a justa desumanidade, que paradoxalmente a tornou mais humana ao meu monstruoso cinismo.

Depois desse número, já estão trabalhando em uma nova história de Dampyr? Quais outros projetos que têm na gaveta? 
RP e SM: Estamos trabalho em diversos argumentos que estão sendo analisados pelo incansável Mauro Boselli. Nós não paramos, Dampyr é uma série que exige tempo e atenção, histórias intrincadas, que não são banais e com referências interessantes. Por isso, muitas vezes, a inspiração vem de episódios que realmente aconteceram, então não perdemos a oportunidade. Fizemos uma história para Nathan Never e estamos finalizando a nossa segunda história para Dylan Dog... e depois a cercada de um ano estamos trabalhando num projeto do qual, não queremos falar nada, mas que é muito importante para nós.
 
 

Matéria publicada originariamente no site: www.sergiobonellieditore.it

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