quinta-feira, 9 de abril de 2015


A  PROPÓSITO DOS "DESAPARECIMENTOS INEXPLICÁVEIS"... DAMPYR 177 E 178

por Nazzareno Giorgini


A lição de hoje fala sobre aquelas anomalias da comum percepção da nossa realidade e do espaço-tempo, que vai sob o nome de "Desaparecidos" (Dampyr nº 177): assim o Professor Zardek nos introduz naquele fascinante argumento que fala de dimensões paralelas e falhas do multiuniverso, temas muitíssimos difundidos na literatura de ficção científica-horror, pescado pelas mãos infadigáveis de Boselli, para construir seu argumento (argumento, vale dizer, não muito longe dos recentes estudos científicos e matemáticos a respeito).
Para usufruir desta história dupla de Dampyr deve-se seguir o conselho que o mesmo Boselli nos dá a página 4 de Dampyr 177: "entreguem-se aos pesadelos magistralmente desenhados por Alessandro Bocci". Na verdade, a história se presta a vários planos de leitura: pode ser vista como um modo de revisitar as tantas histórias de Harlan Draka que ele prepara e se cruzam com isso (característica basilar da série, que a faz, de uma lado, extremamente complexa na compreensão das tramas menores e maiores, e de outro, extremamente rica em acontecimentos imprevisíveis), mas também como uma possibilidade deixar-se à deriva no infinito mar do multiuniverso, guiados pelos desenhos de Bocci, base da história, que garante, aliada a história de Boselli, uma sensação de incredulidade. 
No início da história encontramos em Londres o Mestre da Noite Sho-Huan, inimigo de longa data dos nossos heróis, que se diverte ressuscitando personagens decadentes, explorando as recordações e o amor daqueles que estão vivos: a humanidade e a sensibilidade de Kurjak, rude homem da guerra, que revê a mulher e o filho mortos, são o primeiro plano desta sequência de sabor nostálgico. Em Cardiff, Harlan, Kurjak e o detetive Fine, encontram o esconderijo de Sho-Huan, mas caem numa armadilha urdida pelos inimigos deles, e, são projetados para a "casa na beira do precipício do mundo" e consequentemente, lançados na imensidão do multiuniverso.

  
A partir desse momento, inicia-se uma extrema variedade de horríveis ambientações (para deleite dos olhos dos leitores), que representa a fase onírica e fantástica da história, unida porém, também a um ponto de interrogação fundamental típico de uma história de suspense: que coisa Sho-Huan está procurando no multiuniverso, explorando as recordações sepultadas no inconsciente de nossos heróis? Para usufruir ainda mais da história, necessita-se ter lido Dampyr 86, "A casa na beira do precipício do mundo", uma jóia escrita por Mauro Boselli e desenhada por Luca Rossi, que, com o auxílio da vidente Ann Jurging, revela o segredo da referida casa. Para que não leu, Harlan resume para nós os momentos fundamentais necessários para compreendermos melhor o pesadelo que estão vivendo os três personagens, mas, nos recorda que viajando no espaço-tempo, antes ou depois, perde-se a memória (Dampyr 178, página 16). 
Foi dito antes que os acontecimentos imprevistos que a complexidade do enredo da série bonelliana de Dampyr permite realizar, graças a capacidade de Boselli de considerar a mais simples história como uma peça de um enorme mosaico (graças ao estilo narrativo do autor, que sabe construir uma história de uma forma densa, que parece mais adaptada ára um filme ou romance do que para um quadrinho). Temos uma prova disso nessa história dupla, onde presenciamos o retorno de Lady Nahema, espiã a serviço de Nergal, príncipe internal; de Liam O´Keefe, guardião da "casa na beira do precipício do mundo"; do povoado hebraico Radzin, desaparecido da Polônia em 1945 (Dampyr 99); e de Charles Moore, o pequeno Dampyr (Dampyr 162).


E o herói, o que faz neste enredo de pesadelo? Vale dizer que Harlan Draka se saiu muito bem; certo, a suspeita de que ele serve apenas ao narrador para explorar os mundos infinitos procede, mas quando precisa de uma decisão improvável e determinante para resolver uma situação de "máxima tensão", Harlan faz. Também se apresenta a humanidade do personagem, revelada na página 67, de Dampyr 178, como a reafirmar sua dupla natureza, humana e monstruosa juntas, inerente ao caráter de Dampyr, filho de uma humana e de um vampiro.
O final da história é carregado de ações destinadas a eliminar o perigoso Sho-Huan. Não vamos revelá-lo, para não estragar a surpresa de quem, por ventura, ainda não leu a história, mas asseguramos que o suspense é garantido. Depois de tantos pesadelos e visões fantásticas, o final positivo é uma obrigação, como sabe, quem conhece as tramas criadas pelo nosso Boselli. Na última página da história, encontramos Harlan telefonando a seu amigo Londres, Matthew Shady, prenunciando uma nova aventura destinada a encontrar a escritora de romances históricos Dolly Maclaine, desaparecida há anos, talvez raptada pela Bruxa Black Annis. 
À disposição, Dampyr!



Matéria publicada no site: www.dimeweb.blogspot.com

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