quinta-feira, 21 de outubro de 2010


CRÍTICA AO DAMPYR 123/124

OS SEM MORTE/NO COVIL DE QERATÛ
Roteiro e argumento: Claudio Falco
Desenhos: Maurizio Dotti
Capa: Enea Riboldi
Editora: SergioBonelliEditore (SBE)
Série Mensal - edição 123/124 (junho e julho/2010)

Depois da decepcionante estréia, foi dada a Claudio Falco a honra de escrever a primeira edição dupla de Dampyr, não realizada por um dos idealizadores da série. Como coadjuvante encontramos, como na edição nº 117, um Maurizio Dotti, que finalmente parece ter retornado aos velhos tempos.


Problemas de Base

Uma opinião partilhada quase unanimamente pelos críticos (poucos) de Dampyr é baseada na repetição excessiva de histórias, sob um esquema narartivo muito rígido, mas que é a base de toda a série: Harlan Draka é um Dampyr, e seu trabalho é destruir os Mestres da Noite. Não é um investigador ou um agente especial, ou um ranger, o seu trabalho vira e mexe é sempre aquele. Eu não estou certo se falta no curso dos anos as divagações em outros temas (e com outros esquemas), que fez Dampyr mais versátil e menos escravo desta "gaiola" narrativa. Se tomarmos o trabalho de Boselli, idealizador da série que sempre consegue fazer as histórias baseado neste esquema (o esquema principal de Dampyr) interessante, com muito sucesso, porque no fundo a base destas histórias é sempre a continuidade, verdeira alegria para a mente de muitos leitores (especialmente dampyrianos). Tomando como base o trabalho do segundo argumentista do staff, por ordem de importância, no seu explendido "O Navio Fantasma", Diego Cajelli conseguiu escrever uma história de grande apelo emocional, raridade de continuidade, que a transformou numa das melhores histórias de Dampyr. Esta edição dupla "Os Sem Morte/No Covil de Qeratû", ao invés não surte o mesmo efeito. Claudio Falco está no seu segundo trabalho, e parece que ainda vai um tempo para "pegar o jeito" de como escrever para o mundo dampyriano. Nesta última edição dupla não há a continuidade (ao menos aparentemente), não temos elementos fortes. Claudio Falco se limita a construir uma boa história bem arquitetada, bem escrita, todos os elementos que os leitores conhecem bem: Há um Mestre da Noite, temos um bando de não-mortos a seu serviço, há uma parte do mundo (o Curdistão e o Afeganistão) devastada por conflitos e guerrilhas, temos uma parte histórica perfeita, que descreve de forma perfeita o passado do Mestre da Noite, temos também um bando de rebeldes e claro Dampyr e seus pards. Elementos que já vimos dezenas de vezes na série.
Querendo ser desagradável, esta edição dupla não tem personalidade (do ponto de vista do roteiro e não do argumento). Não temos elementos em destaque, que poderiam fazer a diferença dessa história ou de outras, não tem originalidade. E as ambientações permitiam, o Curdistão e sobretudo o Afeganistão, são ambientações férteis para contar algumas histórias, para intrometer alguns aprofundamentos. em si mesmo e não na história. É a zona mais quente do mundo atualmente, mas nesta história, tudo se resume como de costume no Mestre da Noite, ávido por grana e poder.


Alguns Buracos

O argumento é indubitavelmente de qualidade, muito cinematográfico: Kurjak explode alguns carros, simplesmente jogando o isqueiro às suas costas é digno de cinema, assim como a manifesta citação grática de "Vampire: the masquerade", na edição 123, tudo conduzido por bons diálogos e uma excelente pronúncia dos fatos fazem com essa edição dupla ainda mais agradável e divertida. Mais que os outros, são alguns "buracos" a criar alguns problemas: desde o início da história se fala de Habatja, como um lugar chave, mas os nossos sabem que o covil é naquela cidade deserta, graças a um providencial (e muito bem arquitetado) golpe de sorte, quando talvez fosse amplamente previsível. Mas nessa mesma sequência do "golpe de sorte", Tesla e Kurjak não citam em algum momento, que as armas que carregam, contêm dezenas de quilos de Semtex, um explosivo plástico, quem sabe quantas armas mais. Na sequência, se faz entender que Kurjak explodirá tudo, mas não sabemos se sobreviveria a uma explosão do gênero. O que aconteceu depois com todas aquelas armas, que como disse um traficante é "capaz" de fazer uma "limpeza" de todos os inimigos de Samarra", com um estrondo único?
Há depois o confroto entre Harla e Qeratû, verdadeiro Calcanhar de Aquiles. Falco viu bem aqui, utilizar os poderes de Qeratû, para enganar Dal e tentar matar ele e Harlan... mas por quê? Porque perder tempo neste complicado estratagema, quando o mesmo Qeratû está a poucos passos de Dampyr, ferido e desarmado, e o mesmo Qeratû tem uma arma nas mãos, a pouquíssimos metros de seu mortal inimigo?


O Retorno de Dotti
Desde o Especial nº 4, "A Viagem dos Loucos", datado de novembro de 2008, que Maurizio Dotti, não oferecia um trabalho tão convincente. Nesse meio tempo, apresentou edições decepcionantes, como a história contida no Maxidampyr 1 e na estréia do próprio Falco (edição nº 117), o que parecia ser um certo cansaço do talentoso desenhista da Lombardia. Talvez por causa da veia de ação desta edição, Dotti, dá espetáculo, oferecendo um de seus melhores trabalhos em toda a série. Simplesmente espetacular a sequência histórica da edição 123, realmente sucesso em todas as sequências de ação e ambientações perfeitamente preparadas.
Um belíssimo trabalho, cuja o único defeito é o rendimento dos personagens, muito flutuantes (um problema que Dotti sempre teve no curso de sua carreira dampyriana). Em alguns quadrinhos Kurjak está irreconhecível, Harlan Draka frequentemente e voluntariamente troca ligeiramente às feições, enquanto Tesla parece sempre se manter fiel a sia mesma. Os múltiplos personagens, especialmente o exército de Peshmerga, lembram um pouco de tudo, e é sobretudo a caracterização gráfica de Qeratû, que decepciona, por se tratar de uma caracterização simplória.

Mas todos estes defeitos, que em todo o caso têm o seu peso, o trabalho de Dotti, para esta edição dupla é uma festa para os olhos.


Serve um Roteiro
Boa a capa de Enea Riboldi, também se na segunda capa, o capista dá uma versão totalmente distorcida de Qeratû.

Falco demonstrou com essa história, personalidade no argumento, mas não para propor elementos de destaque no roteiro. "Os Sem Morte" seria perfeito como história se colocada no início da série, para se fazer conhecer melhor aos leitores, as ambientações de Dampyr, para mostrar aquela grata narrativa em que seria trabalhada no curso dos anos, sendo modificada frequentemente por Boselli e outros autores. Mas uma história similar, colocada no centésimo vigésimo terceiro episódio da série, "faz torcer o nariz", porque não foi sentida necessidade de enfatizar certas características.

Precisamos uma coisa fundamental: este é o segundo trabalho de Falco. Haverá tempo e modo para aperfeiçoar os roteiros, mas Boselli parece confiar cegamente nele, visto que lhe confiou uma edição dupla, já no seu segundo trabalho. Boselli possui um talento natural para encontrar novatos com qualidade (Fabiano Ambu pode testemunhar com seu trabalho de estréia), difícil para nós acreditar que não será assim também com Falco.

Roteiro: 6
Argumento: 6,5
Desenhos: 7,5
No todo: 7

Matéria originariamente publicada no site: www.osservatoriesterni.it
Tradução de Janete e Joe Fábio Mariano de Oliveira

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