sexta-feira, 1 de outubro de 2010


CRÍTICA AO DAMPYR 122
O PRESIDIÁRIO
Roteiro e argumento: Diego Cajelli
Desenhos: Giuliano Piccininno
Capa: Enea Riboldi
Editora: Sergio Bonelli
Série Mensal - edição 122 (maio/2010)

Diego Cajelli tínha-nos "deixado mal", querendo usar uma expressão familiar. O seu último trabalho "A Sombra do Dragão", não convenceu nem a nós, nem a maior parte dos leitores dampyrianos. Mas Dié (apelido de Cajelli) prontamente se recuperou, somente dois meses depois, com a edição "O Presidiário", história sobre violência em um presídio e esoterismo.

Aos desenhos encontramos Giulliano Piccininno, que em par com Cajelli, ultimamente tem dado mostra que trabalham bem juntos, porque as últimas edições do desenhista, são textos de Cajelli.


Entre Presidiários e Maldições
A idéia principal da edição é uma clara homenagem ao início de "As asas da liberdade", belíssimo filme de Frank Darabont, estrelado por Rita Haywort e "A redenção de Shawshank" de Stephen King. Desde as primeiras páginas da edição, os desenhos se impenham ao máximo, para tornar real a atmosfera da prisão, aquela sensação claustrofóbica de violência e perversão que domina as narrativas do gênero. Mais uma vez, Cajelli se utiliza de um personagem coadjuvante da saga dampyriana para se esgueirar na vida de Harlan Draka. Se na edição anterior, foi Ann Jurging a fazer isso, agora temos em grande estilo, o médium Dellroy Washington, que apareceu pela primeira vez na edição 85, sempre pelas mãos de Cajelli, pelo fato de que este personagem, foi idealizado por Dié, chama a atenção claramente no decorrer da história, como também chama a atenção na diferença de tratamente com que Cajelli dispensa ao médium em relação a Ann Jurging. É um exemplo notável também a escolha inquietante do autor de privar-se desse personagem ao final da edição. A forma, como Dellroy Washington nos deixa é surpreendente, imprevisível, o que melhora em muito a história, transformando o final, já previsível (querendo ou não, todas as séries Bonellianas, já têm final previsível).
A escura atmosfera do presídio da história, se insere com uma certa prepotência, também o elemento esotérico de uma maldição maia, bom para justificar a presença do fantasma na prisão. Francamente, desloca muito o leitor, passar de uma cela a um templo maia, um destaque narrativo e de elementos que cria perplexidade. Para justificar a presença do fantasma, nós pensamos em tudo, exceto que uma maldição tem raízes no distante mundo dos indígenas mexicanos, uma explicação eficaz, que permite também a inserção de efeitos visuais, como o monstro no final, que ficou bem inserido. Mas, apesar disso, o sentido de perplexidade desta temática, não resolve o problema.

Apesar da presença usual, mas inevitável nas narrativas do gênero (guardas prisionais mesquinhos, violentos condenados, entre os quais vemos um Denny Trejo (ator de Hollywood), Cajelli supreende inserindo entre os personagens um diretor reformista, que procura ajustar as coisas, um "bom" que veste os panos de uma figura negativa, como diretor de presídio (o mesmo Cajelli esclarece que é uma homenagem ao "Brubaker").

Edição perfeitamente calcada no rolo de história entre um Boselli e outro, "O Presidiário" executa admiravelmente sua tarefa, apresentando sempre o argumento de Cajelli, com personagens bens delineados e também discretos golpes de cena, com um roteiro que talvez possa criar alguma perplexidade, mas que não compromete o prazer da leitura.


Seção Mórbida
Aos desenhos encontramos talvez, o melhor Giuliano Piccininno que já tivemos oportunidade de ver nas páginas de Dampyr. O desenhista salernitano, é considerado pela maioria dos leitores de Dampyr, como o mais fraco do staff estelar da coleção bonelliana, erradamente na nossa opinião. Piccininno não tem a potência de alguns de seus colegas, e também não ofereceu provas convincentes, mas estamos seguros que essa edição marcará um guinada na carreira dampyriana do desenhista.

O cuidado com as páginas é óbvio, que chega a deslumbrar. O desenhista se concentra, outro que é fiel às ambientações, também a atmosfera, elemento imprescindível desta história. A linha tracejada que muitas vezes provém das páginas, poucas vezes perturba os olhos, sempre bem calibrado. A luminosidade das páginas é tratada de acordo com a narrativa, sem grandes retrocessos, basta notar a estupenda sequência das 40-43, onde o tracejado e os escuros, criam uma angustiante sensação de fatalidade, e a incrível sequência das páginas 58-61, cuja a luz tem um efeito insalubre perfeitamente esotérico.

Há algo no traço de Piccininno, nada que é difícil de explicar com palavras. Pegando como exemplo a edição nº 32 "OS Insaciáveis", e confrontando com essa, encontramos entre as páginas algo doentio, de mórbido, que "marca o lápis" com as histórias narradas. Piccininno é capaz como poucos da infundir esta insalubridade de fundo sem efeitos especiais, acreditamos que seja um dom natural.

É que Giuliano Piccininno tem sobre suas costas, experiência de desenhista humorístico.


No Geral
Curiosa a "história" da capa de Enea Riboldi, trocada de última hora. Na versão que se encontra no site da SBE, o braço de Harlan está mais alto, numa postura muito natural, na versão que foi para as bancas, ao invés, não existe este problema.

"O Presidiário" se revela uma ótima edição, uma leitura agradável, que causa os "terremotos" prometidos pelos autores na série. São edições necessárias estas, edições que fazem o leitor respirar. Pode fazer "torcer o nariz", que pela enésima vez Harlan, é usado para uma história que não tem nada a ver com a trama principal da coleção, aquela dos vampiros, aos mais pessimistas pode-se fazer pensar que edições como esta desnatura o personagem. Em parte é verdade, em parte não, mas é inegável que o trabalho de Cajelli é precioso, se não necessário para a coleção. E então, logo parece que Diego Cajelli, entrará a todo vapor na complicadíssima continuidade da série.

Roteiro: 6,5
Argumento: 7
Desenhos: 7,5
No todo: 7

Matéria publicada originariamente no site: www.osservatoriesterni.it
Tradução: Janete e Joe Fábio Mariano de Oliveira.

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