sábado, 4 de dezembro de 2010


CRÍTICA AO MAXIDAMPYR 2

SPECTRIANA/GARGOYLE
Textos: Alessandro Baggi, Maurizio Colombo, Diego Cajelli e Mauro Boselli
Desenhos: Alessandro Baggi
Capa: Enea Riboldi
Editora: SergioBonelliEditore (SBE)
Série Anual - nº 2 (Agosto/2010)

A coleção dos Maxidampyrs não é historicamente bem vista pelos leitores bonellianos, a visão é de que essa publicação é uma solução editorial para histórias não tão boas. Basta pensar em alguns Maxi de Dylan Dog e Nathan Never para encontrarmos uma confirmação. No entanto, a coleção dos Maxi, nasceu graças a uma das melhores histórias da editora milanesa, uma história de Tex, "OKLAHOMA", de 1991, assinada por Berardi & Letteri, colocada naquele número, por causa de sua natureza diferente das histórias habituais do Ranger. Em Dampyr a coleção dos Maxi veio a ser lançada no ano passado, numa edição contendo três histórias bastante insignificantes, um volume que recebeu muitas críticas, primeiramente por causa da diferença de qualidade entre as três histórias e a qualidade média das da série mensal. Mas Mauro Boselli tinha prometido um segundo Maxi muito mais fundamentado e manteve sua promessa: o segundo Maxi é um volume bi-temático ou dedicado a dois temas diversos. Um é o tema das pseudo-bíblias, os livros malditos, como o famoso Necromicon de H.P. Lovrecraft. O segundo tema é totalmente diferente: tem nome e sobrenome, se chama Alessandro Baggi, profissão desenhista, artista, e quem sabe outras coisas, considerado pelo mesmo Boselli, o personagem mais fora dos padrões do staff dampyriano, a quem foi bem pensado dedicar este Maxi, permitindo-lhe realizar todas as 254 páginas do mesmo, mais a realização dos textos de duas mini-histórias, que compõem o grande "Spectriana".

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SPECTRIANA
Textos: Alessandro Baggi, Maurizio Colombo, Diego Cajelli e Mauro Boselli
Desenhos: Alessandro Baggi

Seis mini-histórias coligadas entre elas dá uma crônica, 160 páginas de delirantes eventos, Baggi que muitas vezes fica chateado com a grade bonelliana, forte acenos de continuidade nas mini-histórias bosellianas, histórias "solo" para Kurjak, Tesla e Caleb, e sobretudo o retorno de Maurizio Colombo. Tudo isto é "Spectriana", a primeira história do Maxidampyr 2, introduzida por um interessantíssimo artigo sobre pseudo-bíblia do "versátil" Gianmaria Contro. Uma imponente estátua de horror, que pisca o olho; há diversos autores cult da literatura "obscura", em cujas as seis mini-histórias, que mais ou menos, resultam fascinantes, delirantes como pano de fundo. A abrir a dança, "Uma Coisa Vermelha", a primeira mini-história de Baggi, tendo como protagonista Harlan: é uma delirante viagem de trem, uma maldição e o inconsciente de um fantasma, e com um final supreendente, que coloca "Uma Coisa Vermelha" no pódio das mini-histórias como uma das melhores de "Spectriana". Também porque Baggi não consegue chegar aos mesmos resultados com o segundo episódio, escrito por ele mesmo, cujo título é "Eu Sou a Ilha", provavelmente a história mais fraca do Maxi 2, mas que tem um bom final, a seu modo poético.

Após a "overdose" de Baggi, é o momento do grande retorno de Maurizio Colombo, co-criador de Dampyr junto a Mauro Boselli. Não é um retorno definitivo, Maurizio escreveu esta história faz muito tempo, e foi introduzida no Maxi em questão. "A Recorrência" é uma típica história de Colombo, com uma abordagem do argumento, muito cinematográfico, um Kurjak solitário, em uma misteriosa aventura em que vê envolvida uma cidadezinha de muitos mistérios. Não é um episódio memorável, mas ler qualquer coisa de Colombo, depois de tanto tempo do seu último trabalho é um grande presente para os leitores dampyrianos de longa data.
A honra de trazer de volta à cena, Kurjak, coube a Diego Cajelli, com "As Rosas de Caim", uma bela história de gangster e assassino de aluguel, temas "pulp" com que o jovem argumentista milanês se "encontra em casa", o todo conduzido a um final onírico e trágico. Reencontramos Cajelli algumas páginas mais tarde, com "Gargoyle". As mini-histórias de Mauro Boselli, se fazem conhecer desde a primeira página. São mini-histórias com "peso", mais importantes, que não desprezam legendas repletas de palavras, e que sobretudo revelam dois elementos muito importantes da conturbada continuidade dampyriana: revela uma pequeníssima parte do passado de Tesla (viveu na segunda guerra mundial quando era menina), em uma poética mini-história, cujo título é "A Estação Esquecida", onde um furação que varre a cidade é uma metáfora as bombas que destruíram Berlim.
Outro elemento chave é a revelação de que entre os dois irmãos, Caleb e Samael, ambos traíram sua respectiva parte. Na última mini-história (A Rosa de Paris), a mais apurada, aquela mais aprofundada (e por assim dizer, a mais bela do Maxi 2), vemos um Caleb Lost solitário, e tem muitas referências à continuidade, especialmente ao quarto especial "A Viagem dos Loucos". Revemos também personagens como a diabólica Lady Nahema e o maléfico Nergal, chefe das forças do mal, em uma mini-história fundamental para toda a série.
"Spectriana" solicitou a beleza de 10 anos de trabalho, como vem a revelar as assinaturas de Baggi nas páginas, e na curiosa entrevista que o mesmo Boselli realizou com o desenhista, ao final do Maxi 2 (introdução de Gianmaria Contro e entrevista com Alessandro Baggi), que tornam este Maxi, singular.

Os desenhos de Baggi são a quinta essência da descontinuidade, particularidade de uma longuíssimo período de trabalho da história. No final de "Spectriana", nós percebemos como Baggi melhorou também na construção das figuras humanas e nas cenas de ação, verdadeiro calcanhar de Aquiles do eclético desenhista. Baggi é simplesmente o melhor em retratar cenas mórbidas e delirantes. Uma grandíssima apuração nas ambientações, com o sábio uso da perspectiva, mas ao mesmo tempo com problemas (às vezes graves) nas já citadas cenas de ação, na construção dos corpos e na realização de muitos primeiros planos (certos apuradíssimos, outros nem tanto). Um desenhista como Baggi não conhece "coluna do meio": ou o odeia ou o ama.
Pela sua natureza "Spectriana" não pode ser deixada de lado, com um padrão de narrativa, com final muito rígido, composto de tantas mini-histórias que não permitem uma decolagem completa da leitura, mas leva a risca de colocar entre nossas mãos, a mais atípica história de Dampyr, que jamais foi publicada da dez anos para cá.

Textos: 7
Desenhos: 7
No todo: 7

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GARGOYLE
Roteiro e Argumento: Diego Cajelli
Desenhos: Alessandro Baggi

O segundo episódio não pode obviamente competir com "Spectriana", pela originalidade do esquema narrativo. "Gargoyle" é composto de 94 páginas, e foi terminado em 2007, particularidade que faz pensar em uma história destinada a série regular, justamente em seguida, colocada neste Maxi 2, feito por Baggi. Não é a história de destaque "do Maxi", como aquelas citadas no início deste artigo. Diego Cajelli pela enésima vez, leva Harlan para a Alemanha, tão querida ao argumentista milanês, às voltas com a maldição de plantão, um "Demônio da Montanha", que se revelará um Gargoyle em pedra e músculos. Um enredo narrativo muito abusado de Cajelli, acima de tudo o seu amor pela Alemanha, o leva a utilizar personagens esquecidos da complexa continuidade dampyriana, como o Professor Hans Milius, que Cajelli faz retornar em poucos meses, duas vezes (esta e na edição 120), depois que sua última aparição, foi nada menos que na edição 59, que já saiu há 5 anos.

Estabelecido o esquema narrativo e as ambientações mais que provadas, Gargoyle se revela uma leitura talvez não fresca, mas convincente, às vezes muito profunda, e com um pequeno golpe de cena final, que explica o misterioso comportamento da criatura, um golpe de cena muito interessante e nada trivial. O argumento de Cajelli, orgulho de todos os seus trabalhos, deixa intrigado os leitores, especialmente com a utilização das explicações abaixo nas ilustrações, que mostram os fascinantes quanto terríveis pensamentos do Gargoyle. Uma história que completa de maneira digna, o belo Maxi, e que não desfigurou a série regular.

Os desenhos de Baggi neste caso não sofrem a descontinuidade de Spectriana, mas é óbvio que o Baggi de agora, seja uma outra coisa que o Baggi que realizou Gargoyle. Em Gargoyle há ainda, claramente, os problemas que o desenhista encontrava (e encontra toda hora, todo momento) na realização das figuras e nas cenas de ação de Gargoyle. Muitos são os desenhos que apresentam figuras muito "moles", que acentuam uma dinâmica que à primeira vista, resulta excessivamente "líquidos", por vezes, impossível. Além disso, a história se passa em grande parte nas floresta da Alemanha, particularidade que não permite a Baggi poder satisfazer o próprio capricho na realização de cenas de tirar o fôlego, coisa que ele faz muito bem.

O desenhista falta em alguns casos, também na interpretação e na atuação dos personagens, às vezes excessivamente, às vezes quase ausente. Curioso entretanto, seu Caleb Lost, que Baggi, obstinadamente desenha, inspirando-se em David Bowie - da época new-wave (com os cabelos longos), aos invés de conformar-se com Caleb Lost-David Bowie da época glam-rock (com os cabelos curtos), como se vê nas páginas de outros desenhistas dampyrianos. Em suma, não é um dos melhores trabalhos de Baggi: em Spectriana, vimos, especialmente na segunda metade, um Baggi muito mais maduro.

Roteiro: 7
Argumento: 7
Desenhos: 6
No todo: 6,5

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Uma história de 160 páginas e outra de 94 páginas, números que fazem pensar em uma história de "Dampyr Especial" e a outra de uma história da série regular "acondicionadas" em um único volume, desfrutando da dupla presença de Baggi. Talvez graças também a estes pequenos particulares, foi possível para nós leitores ler uma edição assim atípica. No próximo Maxi (2011), retornará a formula de três histórias na mesma edição (duas serão realizadas pelo estreiante Alex Cripa e outra por Andrea Artusi), coisa também normal e previsível, pois para realizar este segundo Maxi, foram necessários 10 anos. Boselli manteve a promessa de uma edição melhor que o primeiro Maxi, e este Maxi se candidata como um dos lançamentos mais originais e fora de todos os esquemas dos dez anos da carreira dampyriana. Esperamos que seja uma ocasião para poder decidir qualquer coisa de similar no futuro.


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Matéria publicada originariamente no site: www.osservatoriesterni.it

Tradução: Janete e Joe Fábio Mariano de Oliveira

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