sábado, 23 de maio de 2015



HARLAN, TE APRESENTO ROSENZWEIG!

Encontramos o desenhista de vários quadrinhos, desta vez a serviço no matador de vampiros bonelliano, na primeira parte de uma história dupla, nas bancas (italianas) desde 6 de maio.

Os traços de Maurizio Rosenzweig são inconfundíveis, para os apaixonados pelos quadrinhos.

Tanto pessoal quanto vigoroso, posicionado entre o instinto e a perturbalção, capaz de explosões de dinamismo quanto de pausas contemplativas, à procura de alguma coisa...

Uma procura que sempre acompanha o desenhista milanês nos seus trabalhos pessoais, quanto naqueles avulsos, realizados para o mercado americano.

Um percurso que continua com um novo desafio, aquele com o quadrinho bonelliano e com Dampyr, em particular, que desenhou uma história dupla. Uma aventura que se iniciou em 6 de maio, com a chegada às bancas do número 182 do matador de vampiros de Boselli e Colombo: "Na Dimensão Negra".

Encontramos o eclético Rosenzweig, o qual, antes de responder as nossas perguntas, se dispôs a realizar uma vídeo homenagem aos leitores de Dampyr!

Desenhista de quadrinhos, ilustrador, professor, adorador do Kiss (a banda de rock), mestre de artes marciais... Qual desses você se sente mais próximo, nesse momento?
Desenhista de quadrinhos sou, quando há 4 anos, fiz meu primeiro trabalho: Superjoe contra Bakak. Minha última luta, foi em 2006, e me deixou sem andar direito, por algum tempo. Não ensino mais wing chun (luta marcial chinesa) há anos, e tenho o tempo de reação de uma anciã, e sobre isso não se brinca. Se não tem tempo de reação, não se prática.

A escola de quadrinhos se transformou numa fadiga, o cansaço surgiu com problemas existenciais, que me tiraram toda competitividade. Coisas, em overdoses diferentes, que sugaram as forças, apesar da idade ajudar.

Fazendo as contas então, junto à procura de contar histórias, só me sobrou a devoção ao Kiss, a melhor banda de rock do planeta.

Quais são as coisas que te agradam e o que menos suporta quando faz quadrinhos, sejam aqueles seus ou de outros autores, seja para o mercado americano, seja para o italiano? 
Tudo me agrada. Os gostos são questão de cultura; mais coisas você conhece e mais coisas você valoriza. Eis o motivo porque respondi ao chamado da Bonelli. Tenho realmente procurado fazer coisas novas, de deixar a trincheira do estilo. Resolver problemas novos. O desenho e o amor te medem sem frescuras.

Não gosto de desenhar motocicletas. Este é o único pedido que faço aos escritores com quem trabalho. As motos, e as cenas de violência contra mulheres. Recentemente eu me recusei a desenhar uma história americana. O autor estendeu meu desconforto com aquela situação. Uma mulher não é um homem. Por isso não admito violência contra eles.



Dos meus livros detesto a ansiedade que me deixa com frio na espinha, enquanto trabalho, quando penso que não há mais tempo, que não estou "dizendo" o que gostaria, e aquele personagem ninguém o desenharia melhor e que pobrezinho é você, tem que se contentar assim.

Então, eis a relação de coisas que não gosto de desenhar:
- As motos.
- Não aos cavalos.
- Não aos amigos da mãe, que te dão a foto de um horrível recém nascido e te pedem para fazê-lo igual. Nasceu feio e eu não tenho tempo a perder.
- Não aos super heróis. Exceto meus personagens.
- Não a pizza à noite, porque é carboidrato e tem gordura saturada.

Qual foi o seu percurso de aproximação do quadrinho bonelliano, e a Dampyr, em especial? 
Leio Martin Mystere desde os primeiros números, junto com Homem Aranha e Superman. Me interessei por Dampyr por causa dos desenhos de Majo.


Há muitos anos, fiz uns testes para desenhar o personagem de Boselli e Colombo. Me recordo que não fui tão mal... Tive que ajustar a face de Harlan, que eu vejo vampiresca, e ao contrário, queriam bela. Mas recordações não inspiram confiança. Esqueça o passado, e pense que as coisas aconteceram melhor do que acredita. Penso que não era maduro o suficiente para um trabalho desse calibre. Era muito explosivo.

Uma outra coisa que percebi desenhando Dampyr é que entendi que não se pode dizer nada dos quadrinhos desenhado por outro. É um trabalho gigante, tanto quanto uma vida. Tem-se que respeitar o trabalho alheio. Não consigo criticar o trabalho de ninguém, porque sou do meio e imagino que aquele profissional tenha passado mais de um ano debruçado sobre seu trabalho, gastou seu tempo estudando, analisando, etc.

Quando se faz as coisas por conta própria, se sente o Rei da Cidade. Mas o estilo se torna um álibi para fazer as coisas de seu jeito. Desenhar de modo crível um carro que entra no estacionamento, a panorâmica de uma cidade, ou uma moça que dorme sem fazê-la para a filha de satã, que devora almas, é uma outra história. Isso mede o trabalho. E você não pode inventar quando desenha carros e roupas.

Depois, o trabalho de um outro pode não ser do seu agrado, por questões suas, mas se deve dizer qualquer coisa, deve fazê-lo com educação. Caso contrário, o criticado, tem todo o direito de ser mal educado. É uma questão de civilidade. Não importa se a internet permita muitas coisas. Você tem que ter boas maneiras. 

Para fazer melhor as páginas de Dampyr, observo muito Luca Rossi, Stefano Andreucci... e.... claro, Majo! Gosto muito de Michele Cropera.

Espera. Não entendi bem a pergunta. Em que senso "percurso de aproximação"? Vacilei... respondi para nada. Faça-me uma outra. Esta eu pulo.


Qual o aspecto mais difícil, nessa história dupla escrita por Boselli? Gostando de monstros e criaturas demoníacas, deve ter se divertido, na Dimensão Negra...
No início os desenhos era muito restritos e rígidos. Os rostos apenas caracterizados, tudo muito limitado. Afinal, desenhar personagens já bem conhecidos de todos com naturalidade, sem fugir do meu estilo. Isso me deixou super assustado. Depois peguei firme o timão e comecei a entender o todo, e, como resolver os problemas. Espero. Creio. Espero.



Gosto muito da forma como escreve Mauro, tem muitas idéias. Mesmo que me tenha feito retirar a logomarca do Kiss da camiseta de Harlan e me fez corrigir o tamanho da saia de um personagem feminino, que tirou-lhe a elegância. Isso não se faz. Se corrijo as minhas mulheres, tiro-lhes a feminilidade, aquela verdadeira. Mas essa história de beleza depende do gosto de cada um.

Uma outra coisa que tive que me adequar é o tempo narrativo de uma edição Bonelli. Completamente diferente dos quadrinhos americanos. A ação deve ficar meio que suspensa. Feita de fotografias. Talvez é porque é direcionada. Nos quadrinhos americanos, um soco nocauteia o inimigo, no fundo, atinge o que o leitor quer.

De todo modo, me diverti muito, tendo eu também uma paixão por vampiros, demônios e monstros. Tenho mais DVD´s de terror que consigo lembrar. 


O meu personagem preferido dessa história é Vapula, o Homem Pantera, mesmo sem entender porque não tem orelhas. Sem orelhas não fica bem. Propus a Mauro (Boselli) um especial sobre ele e a sua escola de artes marciais. Espero que ele me diga sim. Gostaria de contar como ele perdeu as orelhas. Não é brincadeira.

Uma manhã, na Bonelli, vi fotocópias das minhas páginas já prontas. Foi emocionante. De verdade. São coisas que não se pode explicar.

Não vejo a hora de ver a edição pronta, sentir o cheiro, como quando lia Martin Mystere... Quando me chamou para o staff da série, foi um belo momento. Me pareceu uma promoção.

Falando de outros mundos e criaturas impossíveis, quais são os ilustradores, os pintores, os desenhistas de quadrinhos, os autores que mais influenciaram o seu gosto pela fantasia? 
Cresci com Richard Corben e as mulheres de Robert Crumb, e acredito que esta coisa se vê ainda, nas sínteses que uso para os corpos femininos. Depois de Jack Kyrby e Jonh Romita. E em tempos recentes tenho observado Go Nagai, Shinichi Hiromoto, Tsutomu Nihei, Hideshi Hino. Acredito que as lições mais úteis e funcionais para este trabalho chegaram de Alex Raymond.

Tem também Modigliani, Felini, Sorrentino, Playboy, Frank Capra, Stallone com Rocky e Rambo, Neil Simon, I Kaiju, Wood Allen, as comédias dos anos 80 e os filmes televisivos de Colombo e o imaginário do Heavy Metal, do paganismo, dos filmes de horror e os italianos de Elio Petri.


Não lei tanto quadrinhos. Dou umas foleadas. Leio os livros de Diego De Silva, e, assisto filmes. A inspiração pode chegar de toda parte e nos momentos menos oportunos, com câimbras ou recebendo um presente. Também de alunos ou de amigos que seriam incapazes de fazer uma linha reta em um caderno.

Olhando para trás, como sua forma de desenhar mudou e o seu modo de visualizar uma história, no curso do tempo?
Qiuanto tinha - acredito - 8 anos, descobri que fazendo um rascunho primeiro, limitava o número de erros.

Me senti como Copérnico.

Tenho um episódio emblemático para responder o que pergunta. Neste trabalho você nunca para de descobrir coisas. Caso contrário, você para. Deve crescer com você, e, você se torna maior. Também o tempo de trabalho te leva a procurar soluções que "funcionem" e que sejam práticas, deve ter sempre tempo para estudar coisas novas.

Você vê nos desenhos,também, essa inteligência. O bonito é que a um certo ponto são tudo de bom, porque um já descobriu como transformar as máquinas em perspectivas, e um outro como fazer os cabelos das mulheres. Para dizer que, no final, todos nós entendemos algo melhor que os outros, e que a solução está na experiência, para todos.

Essa é a beleza de desenhar. Se de uma parte você faz algo ao mundo, que somente você pode fazer, de outra parte compartilhamos soluções e descobertas.

Dirigindo o olhar para o futuro em vez disso? O que te espera, após Dampyr? Projetos pessoais e para o mercado do EUA, mas também há uma edição de "As Histórias", se não me engano...
Aquela edição de "As Histórias" com Antonio Serra que você citou que estou trabalhando, é uma história ambientada no Japão na década de 50. E depois eu não sei.

Muitas coisas eu ainda preciso planejar, mas nesse meio tempo espero escrever um livro. Meu. Estou convencendo a história nesses meses. Daquilo que quero realmente. Lá estarão todos os meus personagens.

Depois outro número de Dampyr, e o retorno de um personagem meu (Zigo Stella). E mini-séries para vocês, e, para mim.

Procurar viver sempre mais tranquilo.
Recuperar os velhos amigos com os quais eu perdi contato.
Continuar a detestar os cavalos e as motos.
Arrumar uma namorada que não me importune tanto.
Não a pizza à noite, porque sou contra carboidratos, gordura saturada e refrigerante.



Entrevista concedida a Luca Del Savio



Publicado originariamente no site: www.sergiobonelli editore.it





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