sexta-feira, 5 de dezembro de 2014


REVOLUÇÃO E NARCOTRAFICANTES NOS TEMPOS DOS VAMPIROS. DAMPYR ESPECIAL 10!

Por Giampiero Belardinelli.

Esquema dos cartéis do narcotráfico mexicano

Na aventura bonelliana, o México sempre provocou um fascínio particular desde 1948 quando, nos Texs júnior, Gianluiggi Bonelli e Aurelio Galeppini tiraram do forno uma obra prima como "Os Heróis do México" (edições 3 e 4). Naquela longínqua história eram mesclados muitos elementos que encontramos nos filmes de Holywood ambientados no México:militares aleados com políticos sedentos de poder, pobres sofrendo assédio, rebeldes e bandidos, cujos papéis às vezes se sobressaiam. Atração do público - ao menos para aqueles crescidos nos anos cinquenta, sessenta e setenta - para as histórias mexicanas, provavelmente se deve às atmosferas imóveis, de um calor sufocante, que improvisadamente davam lugar a uma energia violenta, onde a piedade se perdia entre os assovios das balas e as explosões de dinamite. Aquela mistura de aventura, referências sociais e históricas, personagens característicos, sem dúvida, deixou uma marca indelével no imaginário coletivo dos "rapazes" que cresceram nas décadas supra mencionadas. Um fascínio que não passou desapercebido a Mauro Boselli (criador de Dampyr junto com Maurizio Colombo), como demonstram algumas de suas aventuras escritas para Tex e para Zagor. O editorial boselliano deste Especial, além disso, exala paixão pelo México e pela Revolução e, estando empenhado com Tex e as principais sagas mensais de Dampyr, deixou o teclado para escrever a Antonio Zamberletti, autor de romances editados pela Todaro e personagem aventureiro, além de ter sido agente de polícia. O escritor, entre outros, já debutou como narrador bonelliano no Zagor Especial de 2013.



Frida Kahlo, Os quatro habitantes do México

Antonio Zamberletti se demonstra consciente do patrimônio sugestivo que é o México revolucionário e, o movimento da ação na contemporaneidade dampyriana, não esquece de seguir a História, pescando um episódio marginal da Revolução. O episódio narrado no prólogo, em que se introduzem os elementos resolutivos da aventura, é fundamental para criar aquele paralelo entre a eternidade dos Mestres da Noite e a mortalidade de nós pequenos serres humanos. Dampyr é uma série que, graças sobretudo a Mauro Boselli, é uma agradável miscelânia entre o passado e o quotidiono, pairando sobre portais dimensionais, onde até mesmo os nossos heróis, às vezes, correm o risco de se perder. Em El Lobo a fórmula vem respeitada com a habilidade de Zamberletti: a sugestão fantástica é de fato crível, pois permite ao autor uma reconstrução verdadeira da sanguinária atividade dos narcos. A venda da droga leva traficantes a ganharem muito e a torta é tão grande, que todo tipo de classe social está disposta a qualquer coisa para conseguir a sua parte. Tudo acontece na região de fronteira com os "States", local ideal para invadir com rios de droga, a terra dos ricos americanos.
Seguindo a história, se nota como Zamberletti conhece o modo de agir e de pensar dos esquadrões especiais, mérito sem dúvida de uma forte documentação sobre o argumento e talvez dos seus tempos como agente de polícia. A figura de Anita Montoya é um exemplo peculiar: "Eu entendo há muito tempo o que é a perda no seu sapato e que você tentou resolver três vezes, e o resultado foi mandar seus homens para o necrotério", disse o vilão da história. "Uma policial formidável, essa Anita Montoya..." afirma Harlan poucas páginas depois.


Fronteira entre o México e o Estados Unidos em El Passo


 Fronteira entre o México e o Estados Unidos em Nogales

A agente Montoya é uma figura que, graças ao desenho de Santucci e Piazzalunga, mostra uma forte sensualidade,mas não exibida de forma gratuita. De fato, sua fisionomia é constantemente mostrada em primeiro plano e a sua beleza hispânica deixa transparecer orgulho, tenacidade e uma coragem desconhecida de alguns co-protagonistas masculinos. Ainda vive em uma realidade em que a ação criminal dos narcos torna impossível de se viver naquela região do México, no entanto, não parece resignada e pessimista. A jovem mulher, é talvez uma espécie de alter ego de Zamberletti. Não por acaso, quando conhece Harlan e pards, não reage com ceticismo às informações sobre a presença de vampiros e congêneres, porque ela mesma convive com as lendas do folclore local. La Fronteira - segundo Anita - não é somente aquela entre os "States", mas um lugar indefinível em que o desconhecido é qualquer coisa de palpável e não somente os pesadelos alimentados pelas supertições. 
Os protagonistas da série, Harlan, Tesla e Kurjak, são usados com fluidez nas sequências de ação e, sobretudo nos diálogos, reforçando e revelando a sólida amizade entre os três. O final, como acena acima, é o reforço do prólogo e a sua lógica narrativa, feito de ação racional e conflito entre humanidade e a ferocidade infernal, rende uma sólida arquitetura idealizada por Zamberletti. De uma parte a ação cronometrada pelos "Nossos", da outra o encontro sem tempo entre um jovem padre (Eduardo, transformado em vampiro por um Mestre da Noite no longínquo 1914) e um velho filho que permeia a poesia da história... Eduardo finalmente rejeita sua natureza bestial de vampiro e encontra a harmonia interrompida nesse mundo conflituoso, porém, onde os seres humanos podem escolher livremente de que lado querem estar.
Os desenhos realizados pela dupla Marco Santucci e Patrick Piazzalunga dão uma forte conotação a história. Os enquadramentos sempre originais, os primeiros planos intensos, o sugestivo claro-escuro rendem às páginas, a impressão de movimento.Um quadrinho deve contar as emoções, e antepor este conceito a qualquer outro é somente um artificio retórico.


Matéria publicada originariamente no site: www.dimeweb.blogspot.com

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