domingo, 26 de agosto de 2018


DAMPYR 221 - PLANETA DE SANGUE

O FILME IMAGINÁRIO DE GEORGE MÉLIÈS QUE FAZ ENLOUQUECER OS EXPECTADORES
No álbum de Dampyr de agosto, cujo título é Planeta de Sangue, nos conduzem na Paris da Belle Époque, para uma história que reúne conotações fantasiosas e horripilantes às biografias de duas figuras que realmente existiram, centrais para o nascimento e desenvolvimento do cinema como o conhecemos hoje: Louis Le Prince e George Méliès.

(Nós não queremos estragar o filme de ninguém, então o público da sala está aconselhado que o seguinte pode conter spoilers, sangue e perdição. 
Apaguem-se as luzes.) 

O trailer da história

Como na melhor tradição dampyriana, a história parte de um fato real: o desaparecimento de Louis Le Prince, pioneiro da arte cinematográfica. O inventor da primeira câmara de lente única que desapareceu de fato misteriosamente em 16 de setembro de 1890, enquanto estava no trem entre Dijon e Paris, antes de conseguir levar sua invenção para os Estados Unidos. Deste evento historicamente não resolvido, o enredo tramado por Giorgio Giusfredi se desdobra, que reconecta o desaparecimento de Le Prince à figura de George Méliès, diretor, ator e ilusionista francês, inventor do cinema de ficção e horror. Este último assinou um filme maldito, cujo título é "O Planeta de Sangue", que fazia enlouquecer os expectadores. 
Considerado o tema cinematográfico, no episódio não faltam referências a obras que fizeram a história da grande tela. A presença de um certo Mestre da Noite cinéfilo, capaz de materializar as suas ilusões, na verdade oferece possibilidades narrativas potencialmente ilimitadas para realizar homenagens e inserir citações. Giusfredi e Fortunato desfrutam disso para inserirem em cena numerosos tributos narrativos e visuais, a partir da cena inicial em que são retratados, sentados a mesa do restaurante do trem, monstros de diversas natureza, entre os seres esqueléticos, criaturas lovecraftianas, zumbis e outros ainda (entre os outros que nos parece conhecidos, em ordem dispersa, criatura e monstros presentes em alguns filmes, como A Coisa, Gremlins, Alien, etc.)
Nas cenas ambientadas nos dias de hoje, Harlan e Ljuba estão no cinema para verem os 400 Golpes, filme autobiográfico de François Truffaut de 1959 (que se passa em Paris, exatamente onde os nossos vão para vê-lo quase sessenta anos depois), que levou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes, de 1959 e também o prêmio Méliès 1960 de melhor filme.
Rascunho da página em que Harlan e Ljuba estão cinema
Página finalizada agora, com um figurante especial, Giorgio Giusfredi a esquerda de Harlan e na penumbra atrás dos três, vemos o co-criador da série, Mauro Boselli

O enredo tramado por Giorgio Giusfredi, linear e eficaz, mergulha subitamente o leitor em uma atmosfera impregnada de mistério e sempre a cavalo entre história, pesadelo e horror.
Um grande vantagem da história de Giusfredi é a rara capacidade de misturar-se na história deixando entre as páginas sua marca registrada, isto é, o cuidado em traçar seus personagens do ponto de vista psicológico e os seus personagens menos importantes (vejam a adolescente Ljuba, o não-morto Gabbo, os blogueiros cinéfilos com seus tiques e preconceitos). O autor nascido em Lucca, relativamente jovem para os conceitos bonellianos e atualmente também com o último Zagor Color, demonstra toda sua competência em inserir-se na série levando avante algumas tramas de modo extremamente coerente com o que ele e Mauro Boselli realizaram nesse último ano e meio, mostrando um admirável talento no saber inserir esse episódio na série dampyriana que tem relação por outro álbum de sua autoria (Bloodywood, Dampyr # 204, outra homenagem ao cinema de outros tempos). 
Se pensarmos em procurar um defeito neste álbum, provavelmente seria a impressão que se tem lendo-o, de uma história levemente desbalanceada, com uma ótima construção da trama, do contexto e das ambientações e um final que se resolve talvez de maneira muito rápida (defeito, no entanto, encontrado em outros episódios da série).
O trabalho de Alessio Fortunato para esse episódio é magistral. Amigo Audace de velha data (já eleito Audace do Ano e Audaci Awards 2012,autor de uma inesquecível página dampyriana), continua a nos presentear com sua constante e personalíssima evolução no modo de usar a caneta e recriar o mundo das sombras ue tem na cabeça. Álbum após álbum, ano após ano, o desenhista da Puglia, confirma ter nascido para desenhar e pintar histórias escuras que deixam amplo espaço para criaturas monstruosas, as névoas gotejantes, as decadentes vilas aristocráticas, as arquiteturas complexas (observem as suas reproduções das estradas de Paris para entender o que estamos falando).
A atmosfera do episódio parece ser feita para o seu estilo. Em algumas cenas as sombras são tangíveis e penetrantes que parecem se apossar dos personagens e engoli-los numa escuridão sufocante.
Este último trabalho dampyriano demonstra em suma, quanto Fortunato está dentro do mundo criado por Boselli e Colombo e quanto a sua contribuição está cada vez mais importante na evolução da série. 
Em suma, caros leitores audaces, entenderam que este álbum é particularmente prazeiroso e que o indicamos enfaticamente. Poder apreciar o trabalho de uma dupla artística assim rica de talento como esta constituída de Giusfredi e Fortunato é o que de melhor um leitor de Dampyr poderia esperar da série neste verão de 2018. Seja porque ambos os autores estão entre aqueles que toda vez que se dedicam uma história, fazem questão de deixar uma marca, seja porque Harlan e seu mundo continuam a fascinar como se lêssemos toda vez o número um.
Chefe Audace & Rolando Veloci
(con sanguinolenta ajuda do cinéfilo Grullino Biscottaci)



Publicado originariamente no blog: www.gliaudaci.blogspot.com

Um comentário:

Sílvio Introvabili disse...



O Giusfredi é prolífico por demais! O cara escreve para Dampyr, para Zagor, já enveredou pelo universo de Tex! E o Boselli tem dado carta branca ao cara (que tem apenas 34 anos) que tá aproveitando essa onda de "atualização" da SBE e está deitando a foice nas inovações. Eu estou adorando essa nova onda (que não é a do Imperador) KKK