terça-feira, 2 de junho de 2020


O pintor da escola negra - Dampyr 242 (maio de 2020)

(Crítica de Paolo M.G.Maino)

Depois das festas para o número de vinte anos, a cores, O cavaleiro de Roccaburna, partimos para os próximos 10 anos de Dampyr com o intenso claro escuro de Michele Cropera para uma história escrita por Nicola Venanzetti, O pintor da escola negra. 
Com uma escolha bem sucedida de alternância, depois de uma história que adentrou na história da Europa do Século XVII e que pôs Harlan em segundo plano, para deixar as honras ao Draka pai, eis uma clássica história de horror e loucura, que pisca o olho para tradição da arte expressionista alemã.
Mas vamos em ordem.
o pintor da escola negra - Dampyr 242
Roteiro e história: Nicola Venanzetti
Desenhos: Michele Cropera
Capa: Enea Riboldi

Um longo prólogo que ocupa um quinto das páginas nos conta de um pai e de um filho (Klaus e Adam Webber) e da relação difícil entre eles e sobretudo de um destino a qual ambos são chamados, mas que eles respondem de modo diferente. O destino é entrar na Escola Negra (aquela do estupendo Dampyr Especial nº 9, desenhado por Paolo Bacilieri), mas enquanto Klaus se recusa, Adam abraça a causa infernal e se dedica de corpo e alma a essa. Porque? Que coisa o anima? Quais objetivos tem? 
De fato o álbum é a resposta a essa pergunta, inserido no mais amplo horizonte da continuidade dampyriana, porque nele se fala da Escola Negra, de inferno e de dimensões do Multiverso, ou melhor, de realidades que não são deste mundo.  
A fazer companhia a Harlan nesta aventura escura e onírica (mas se trata de pesadelos que ganham vida e não de belos sonhos tranquilizadores) tem o fiel Kurjak (aqui realmente o ombro amigo que tem a tarefa de colocar no contexto algum diálogo e amplificar as cenas de ação) e sobretudo a cada vez mais presente Ann Jurging. Além de tudo a história se desenvolve na Alemanha, pátria de origem da bruxa. Quando será decisiva a presença de Ann, entenderão, lendo. Aqui nos basta registrar os já contínuos retornos de Ann que de personagem coadjuvante está se alçando à hospede semi fixa, sobretudo ativa nas histórias mais escuras e ligadas à magia. 
A história de Venanzetti
Venanzetti se confirma como uma bela realidade no restrito grupo dos autores dampyrianos. Uma história por ano, é verdade, mas sempre bem trabalhada e em plena linha com os tons da série (pensem nas duas últimas: O ano novo céltico e Helfire Club). Venanzetti sabe evocar mundos e sabe demonstrar seu conhecimento de literatura, cinema e da arte crepuscular, decadente, underground e de gênero expressionista do século XX com particupar referimento a cultura inglesa e germânica em geral. O tom culturalmente alto (mesmo nos contornos de um quadrinho popular) está garantido sem cair em citações por si só.
O ritmo da história é vivo e alterna momentos planos de explicações (necessárias) a momentos de ação com monstros que definir inquietantes é eufemismo. Muito profunda a dinâmica da relação pai/filho no binômio Klaus-Adam. Sobre isso - talvez seja uma coincidência - me parece pegar um paralelo anti ético com relação a dupla Draka/Harlan, que de alguma forma foi o foco (ao menos com um desejo do pai) no número passado.
Os desenhos de Cropera
A história foi direcionada da redação a um dos desenhistas mais apto a evocar mundos distorcidos e imprevisíveis: Michele Cropera. De suas últimas histórias, muito significativas temos Bloodwood (cinema expressionistas alemão e americano entre as duas guerras); O suicídio de Aleister Crowley (história que gira em torno do poeta português Pessoa) e enfim esta excursão no mundo da arte em O pintor da Escola Negra (não posso esquecer sua contribuição no álbum colorido passado em Lucca - O santo vindo da irlanda).
Cinema, literatura, arte com as indicações de três autores diferentes (Giusfredi, Boselli e Venanzetti) mas com o mesmo êxito: histórias que ficaram na memória também pelos desenhos carregados e intensos de Cropera. As suas figuras alongadas, as suas faces melancólicas, os seus monstros deformados reconhecíveis a quem segue Dampyr habitualmente e para quem o compra só de vez em quando, só podem despertar curiosidade e nunca ('nunca, nunca') indiferença.
Uma menção especial merecem as representações das metaformoses desse álbum (numerosas) que vêm do mundo de Adam Webber e nas criações do pintor.
Apreciamos esse número e que, como sempre, deixa em aberto novas pistas de desenvolvimento que, esperamos, sejam cobertas por uma espécie de continuidade Venanzettina inserida no mais amplo afresco dampyriano.
Nos vemos em junho, quando teremos o retorno de outro desenhista muito amado (Lozzi) para uma história escrita pelo dueto Eccher/Boselli. Da Alemanha voaremos para o norte, para Estocolmo.



Publicado originalmente no site: www.fumettiavventura.it 

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