domingo, 28 de setembro de 2014


DE UM QUADRINHO ITALIANO AO BAIRRO 
GÓTICO DE BARCELONA
Para apresentar Dampyr 175, que irá às bancas italianas em 3 de outubro, entrevistamos Claudio Stassi que, depois de tantos quadrinhos de cunho social, agora se dedica também aos matadores de vampiros!

Depois da ótima repercurssão dos volumes "Uma história quotidiana sobre a máfia" (editora Becco Giallo, 2006), "Por isso me chamo Giovanni" (Rizzoli, 2008) e "O Bando Stern" (Rizzoli/Lizard, 2012), para Claudio Stassi, desenhador de Parlermo "refugiado" em Barcelona, chegou o momento de misturar-se com o horror e a aventura das páginas de Dampyr. 
 "O Carrasco" (nas bancas italianas em 3 de outubro) representa sua estréia na série criada por Mauro Boselli e Maurizio Colombo. Tivemos a oportunidade de conversar com ele e, mais de perto, conhecer a formação e os gostos de Stassi, bem como, saber de alguma coisa antecipadamente sobre a história de Giovanni Di Gregorio.


Você apareceu no meio dos quadrinhos, com "Uma história quotidiana sobre a máfia", antes da publicação desta história de Di Gregório. Qual a sua formação artística? 
Frequentei o Instituto de Arte e depois das Academias de Belas Artes de Palermo. Não estudei num escola de quadrinhos, porque na minha cidade, quando era rapaz, não existia. Porém, regularmente ia ao estúdio do amigo Giuseppe Franzella, que há alguns anos trabalhava em Brandon. Ele soube me dar preciosos conselhos de como construir melhor uma cena ou como dar maior legibilidade aos personagens. Preciosos conselhos que procuro ainda hoje aplicar nos meus trabalhos.

Como nasceu a sua amizade com Giovanni Di Gregorio e que o que aconteceu, para deixar a Itália e transferir-se para a Espanha?  
Eu e Giovanni nos conhecemos em Parlemo faz alguns anos. Naqueles anos, na minha cidade havia uma grande movimentação de jovens desenhistas, animados com o mundo dos quadrinhos. Eu tinha lido uma história dele para "Schizzo", publicada pelo Centro de Quadrinhos "Andrea Pazienza", e gostei muito. Trocamos uma idéia para realizarmos alguma coisa juntos, quando surgiu a possibilidade de contar uma história que exprimisse as nossas idéias sobre as condições política, econômica e social da nossa cidade, pegamos a "bola no alto" e assim nasceu "Uma história quotidiana sobre a máfia".

Pouco depois Giovanni se transferiu para a Espanha. Eu fui vê-lo algumas com minha esposa, no final, até motivos de caráter político-social e levar minha cara metade para dar umas voltas pelas ruas do Bairro Gótico, me levaram para lá. A quem me pergunta "porque Barcelona?", respondo sempre "porque é uma Palermo que deu certo".
Quais foram os autores que mais influenciaram sua forma de desenhar?
Seguramente os autores argentinos e espanhóis (como vê, meu interesse pela terra ibérica vem de muito tempo) José Muñoz, Alberto Breccia, José Ortiz, Victor De La Fuente, Jordi Barnet. Mas também autores italianos como Gipi, Lorenzo Mattotti e Igort me influenciaram muito, cada um de uma maneira, seja na linguagem narrativa, seja na procura do "traço". E depois Majo, Nicola Genzianella e Carlo Ambrosini são, entre os desenhistas da Bonelli que observo com mais atenção e tenho a máxima estima. Na vertente americana, por sua vez, o preto e branco de Michael Lark e Sean Philips são fontes de inspiração para o meu trabalho.



Quais são os materiais com que trabalha e quais são os passos que te levam a realizar a finalização de uma página? Ama papel e pincéis ou passou para o digital?
Nada digital na execução de uma página. Procuro sujar as mãos quando desenho: pincéis, tintas e esponjas; na prática, utilizo tudo aquilo que serve para criar o efeito que procuro.
O digital me interessa  muito: há pouco tempo comprei uma "tábua" e comecei a "jogar". Mas no momento para mim, significa apenas um jogo. Talvez no próximo ano eu compre uma Cintiq... quem sabe!


O que mudou, para você, como desenhista, depois da boníssima acolhida do premiadíssimo "Uma história quotidiana sobre a máfia"? Nasceu da popularidade desse trabalho a oportunidade de trabalhar para a França, ou por exemplo, com Luca Enoch em "O Bando Stern"?
"Uma história quotidiana sobre a máfia" é um quadrinho que amo particularmente. Me deu a possibilidade de ser reconhecido pelos outros desenhistas como profissional e me abriu portas para projetos de grande porte. Aproveito a oportunidade, para uma notícia em primeira mão: Em 2015, será republicada pela Editora BAO Publishing, com uma nova edição, enriquecida com conteúdos adicionais. Será legal ver essa história nas parteleiras das livrarias.
Depois de "Uma história quotidiana sobre a máfia" realizei "Por isso me chamo Giovanni", título do livro homônimo de Luigi Garlando. É a história de um pai que conta a seu filho de 10 anos, quem era o juiz Giovanni Falcone. Graças a esse quadrinho, faz 5 anos que me encontro com rapazes das escolas de ensino fundamental, médio e superior, contando a história de Falcone e dos homens do grupo anti-máfia, na esperança de que os rapazes de hoje, que não viveram o período de massacres de 92-93, entendam realmente que são os verdadeiros heróis.

Sucessivamente tive a sorte de trabalhar com Luca Enoch, em "O Bando Stern". Uma história intensa que procura colocar luz sobre uma página da história contemporânea pouco tratada nos livros e desconhecida da opinião pública: os anos de ocupação inglesa na Palestina e dos grupos armados Sionistas, que lutavam para afastar os ingleses e consentir a imigração sem restrição de judeus e a formação de um estado judeu. Uma história dura, que Luca realizou com profissionalismo, graças a uma atenta procura de fatos documentados.

Todos os três volumes, foram publicados também em outros países (França, Espanha e Alemanha).


Depois de alguns quadrinhos com os pés bem plantados em histórias sociais, como chegou ao mundo fantástico de Dampyr? Já seguia o personagem, antes de se tornar desenhista dele? 
Sempre li quadrinhos da Bonelli. Em casa não fico mais sem Tex. Depois, ao longo dos anos comecei a ler e colecionar Dylan Dog, Julia (graças a minha mulher), Nathan Never, Napoleone e Dampyr. Dampyr era a série que eu tinha vontade de trabalhar. Gosto muito o fato de que os personagens viajem a todo tempo, para lugares diferentes e também que mitos e lendas se misturem com a "história" real. Nunca tinha ido a frente, porque todo mundo com quem falei, me diziam quanto austero era Mauro Boselli. Depois, fiz testes e fui bem, e sinceramente, encontrei uma pessoa explendida: um editor profissional, rigoroso, preciso, mas também disponível. Pessoalmente, estou aprendendo muito com essa experiência profissional.


Precisou adaptar seu traço, filtrar o seu estilo expressionista e "dobrá-lo" aos ditames da página bonelliana?
Sinceramente, não muito. Eu tenho um grande respeito pelos leitores e se este último espera que Harlan venha desenhado como sempre foi, por centenas de edições, é justo que eu respeite as proporções e o realismo do personagem.

Às vezes, porém, nos personagens coadjuvantes utilizo o meu estilo "expressionista" que, sem exageros, não desentoa na série, também porque muitos outros colegas utilizam e eu gosto muito. No que diz respeito a clássica exigência bonelliana, para mim não é limite. Pelo contrário, quando trabalho para outros projetos para o mercado francês, se me é possível, a uso porque é cômodo, permite uma visão global da página e é perfeita para a finalização da cena.


Voltemos a Barcelona, pois é na capital da Catalunha que se passa "O Carrasco". Quais aspectos da cidade e quais ambientes decidiu usufruir para meter "medo" nos leitores de Dampyr? 
As ambientações ficaram mais por conta de Di Gregorio, que leu toneladas de livros para colocar os nossos protagonistas em um período muito nebuloso da história catalã: a guerra civil e a ditadura, eventos que deixaram marcas profundas nas almas dos catalães e nas fachadas dos edifícios.

Posso contar uma historinha? Giovanni tinha apenas escrito as primeiras páginas de "O Carrasco", e do lado de fora tinha sol... Chegando a página 10, levanta os olhos, olha para fora e uma névoa tinha tomado a cidade, igualzinho tinha acabado de escrever na citada página. Me telefonou para me contar o acontecido, e olhando para fora pela fresta da cortina, reiterou que o sol desaparecera e a névoa tinha tomado Barcelona. Pensamos juntos: o Carrasco apareceria a qualquer momento e rimos bastante disso.


A sua próxima história levará Dampyr à Galícia! Por ser uma região muito diferente da Catalunha, não tem medo de sempre ser apontado como um desenhista de história que se passam na Espanha? 
Quando fiz dois quadrinhos sobre a máfia, me perguntavam se não tinha medo de me tornar "prisioneiro" do esteriótipo de desenhista anti-máfia. Francamente, não temo esse tipo de "prisão". No caso de Dampyr, fiquei feliz, pois farei uma trilogia na Espanha. São muitíssimas histórias que podem ser aprofundadas, compatíveis com o mundo de Harlan. Mas isso depende da caneta de Di Gregorio - que com suas viagens pelo mundo, quem sabe conseguirá escrever a próxima história para mim -, e obviamente de Mauro Boselli, que talvez prefira mandar Harlan e seus amigos para as terras nórdicas.



Além de desenhar Dampyr, está levando a frene também algum projeto pessoal?
No momento estou trabalhando nas últimas páginas de um quadrinho escrito pelo Mestre Carlos Sampayo (um dos pais de Alack Sinner) que será lançado ano que vem na França pela Ankama. Para "Il Grionalino" estou desenhando uma história de aventura, sempre escrita por Giovanni Di Gregorio, e, a cereja do bolo... em breve serei pai, talvez quando essa entrevista vir a ser publicada, já terá nascido a pequena Anna.


Matéria publicada no site: www.sergiobonellieditore.it (Entrevista concedida a Luca  Del Salvio)

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