sexta-feira, 13 de outubro de 2023

 
Gomorya - Dampyr 281(agosto 2023) / crítica
 
Por Paolo M.G. Maino
 
Dampyr 282 já está nas bancas, mas nesses últimos dias de verão não poderíamos deixar de comentar e apresentar (sem mais problemas de spoiler) Gomorya (Dampyr 281) escrito pelo co-criador de Dampyr, Mauro Boselli e pelo cada vez melhor Simone Delladio.
 
A leitura de Gomorya não pode ser feita assim com uma atitude apática e descuidada: a trama se desenvolve em diferente lugares e tempos e as páginas de Delladio estão repletas de detalhes que nos mergulham em Nápoles desde o fim do século em meio à explosão de Liberdade e ainda nos encontramos perdidos entre as névoas de uma Veneza sombria ao por do sol.
 
Além disso, Boselli gosta tanto de nos enganar que durante grande parte da leitura me perguntei onde ele queria chegar com isso: não estava claro que para mim "quem" estava procurando "o que", mas mesmo assim algo manteve a trama unida e este elemento especial só se torna claro na realidade no final.
 
Mas vamos tentar ir em ordem.
 
GOMORYA - DAMPYR 281
Argumento e roteiro: Mauro Boselli
Desenhos: Simone Delladio
Capa: Enea Riboldi
 
A Gomorya que dá título ao álbum é uma professora letal e persuasiva da Escola Negra do interno e em particular é uma professora de "sensualidade e artes corporais" (você nunca viu matérias tão interessantes). Aqui obviamente para quem é novo na continuidade Dampyriana ou simplesmente um pouco esquecido é bom lembrar que pelo menos o esplêndido especial nº 9, os alunos da escola negra (de Boselli e Bacillieri) deveria ser relido. Mas Gomorya teve um relacionamento com um certo Lorenzo Arrighi em Nápoles no final do Século XIX. Daí mortes, assassinatos e desaparecimentos... tudo é normal se pensarmos em Gomorya, mas na realidade algo não bate desde o início nas ações da co-protagonista da história.
 
Este caso arquivado napolitano está ligado à busca de um objeto mágico: uma das sete chaves infernais. Muitos a procuram além de Caleb Lost e Harlan, Lady Nahema e o mestre da noite Conde Saint Germain que até agora cruzou o caminho de Harlan apenas tangencialmente e sem contato direto.
 
Um turbilhão clássico de personagens (e pulei alguns como o pequeno vampiro napolitano morto-vivo, Don Rafaele, Edgardo Zani, correspondente de Caleb no Triveneto, Senhor Ballarin, homem de Saint Germain...) para nos fazer perder a cabeça e a bússola. 
 
 
Harlan e Kurjak ouvem pedaços da história e tentam conectar pedaços do mosaico, graças a Caleb em Praga e Tesla que se juntou a Edgardo Zani em Veneza.
 
Neste entrelaçamento de histórias (todas elas com uma boa dose de mistério, horror e morte), esperamos um embate final, mas na realidade isso, para minha consternação inicial, não acontece. Gomorya não parece um rival a ser enfrentado desde o início (embora também aja de forma violenta)... Lady Nahema nem aparece e seu capanga acaba mergulhado em um canal veneziano... Saint Germain entra legitimamente nas fieiras dos mestres da noite que são neutros ou até simpáticos... e daí? Boselli zombou de nós por 94 páginas? 
 
Dado que o Bos pode fazê-lo no que diz respeito ao seu personagem... a solução está nas linhas finais de Kurjak. O que lemos não é uma história de terror ou de ação, mas uma elegia de amor. Gomorya, Senhora do Amor, é vítima do amor por Lorenzo Arrighi, atraída pelo pó de uma das chaves infernais que Arrighi encontrou numa viagem ao Oriente e se tornou parte dele. 
 

Um amor que continua macabramente com o simulacro embalsamado de Arrighi e Gomorya como um romance LIsabetta da Messina (quarto romance do quarto dia do Decameron) lamenta seu amado pela eternidade assim como Lisbetta fez com a cabeça de Lorenzo (mas vai???) morto pelos irmãos mercadores. Cabeça que Lisbetta havia separado do cadáver e enfiado em um caso de manjericão! Pensando bem... aparentemente Gomorya  não é uma história de ação e terror, mas dá ao leitor que segue seus fios sutis arrepios macabros.
 
Excelente o desempenho de Delladio. A Nápoles do Século XIX iluminada pela Art Nouveau ou os becos barra pesada, a Veneza crepuscular desprovida de turistas, tudo isso acontece novamente diante de nós e então as figuras femininas de Delladio são persuasivas e fascinantes como na Bella Époque.
 
 
Crítica publicada no site: www.fumettiavventura.it    
 
 

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