domingo, 5 de abril de 2020


DAMPYR 240 - POSSESSÃO
Por Carmelo Nigro

Depois da série de números de Falco, dedicados a mitos folclóricos, a mudança de direção nas história, recupera uma outra tradição, a "homenagem" aos grandes autores do horror mundial. Nesse caso específico Stefan Grabinski, escritor polonês ativo entre os séculos XIX e XX. Não é um dos nomes mais conhecidos do gênero, pelo menos para mim. Confesso, aliás, não conhecê-lo. E para dizer a verdade, não teve sorte na sua vida editorial. De fato, foi amplamente esquecido até o final da segunda guerra mundial, quando seus escritos foram recuperados. Mas depois nos anos 80, foi novamente posto de lado. A recuperá-lo para o público italiano foi a Edizioni Hypnos, a partir de 2012, com a história " O vilarejo negro".

Stefano Pianni declara a dívida com o autor desde o início. Em uma das páginas iniciais aparece Demom Muchu, de uma série de contos breve de Grabinski, que um dos personagens está lendo no trem para Lviv. Além disso, o trem e a cidade são dois elementos característicos da narração de Grabinski, dos quais Pianni recupera sobretudo na abordagem, construindo um horror baseado nas obsessões humanas. Para o escrito polonês, aparentemente era a mente humana, as suas obsessões e seu relacionamento problemático com a realidade, eram a verdadeira fonte de horror.

Inqueitante e misterioso até o final, Possessão! a história se faz sem as brigas e rajadas de tiros, como nos filmes de ação, que a série nos acostumou, passando para uma narração sutil, muito próxima do horror wierd. A começar pela ausência de respostas definitivas, quase "a beira dos confins da realidade". Uma série de estranhos suicídios mancada a cidade de Lviv, e a única coisa que os liga, parece ser uma mulher. Indescritível, enigmática, a protagonista é uma femme fatale no verdadeiro sentido da palavra. Irresistível e mortal. Todos os seus amantes morrem, e ainda é impossível dizer-lhe não. A violência então se torna a locomotiva da história, mas perde o traço aventureiro e estético. Infligida e autoinfligida, explosiva, imprevisível e mórbida, a violência aqui é o resultado concreto da obsessão, da ansiedade de posse. É também nesse nesse sentido de empossamento, como alienação da vontade no desejo espasmódico de dominação. O apego ao objeto do desejo assume os contornos de uma doença. Mas por trás disso não há mecanismo de regra biológica. Tem muitíssimo o fantasma do desejo e do medo da morte. Tanto no caso das vítimas, que transfiguram a realidade à luz de seus medos/impulsos/fantasias, vão enfim ao encontro da morte, quase como uma libertação daquela alienação insustentável de posse. Mas, sobretudo o "original" do carrasco: a solidão, o abandono, a impossibilidade - ou melhor, a incapacidade - de processar o luto, que a impelem a revivê-lo repetidamente em sua pele, através de seus amantes. Uma dor que se mascara de prazer físico, carnal, visceral. E confundindo eros e tânatos, ele se replica através da morte. Um prazer perverso e paradoxal, que pode levar, na lógica da história, a uma única conclusão.

A única definitiva definitiva...




Matéria publicada originariamente no site: www.senzalinea.it

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