segunda-feira, 11 de julho de 2016


Bom sangue não mente: Entrevista com Marco Will Villa


Entrevista concedida a David Padovani, 
Davide Occhicone e Ettore Gabriellli


Marco Will Villa, filho da arte, estreiou em 2014, com o volume editado pela Renoir "A única pista, um par de tênis", escrito por Davide Barzi e que homenageia o compositor milanês Enzo Jannacci.
Neste 2016, o jovem desenhista passou a fazer parte da esquadra de Dampyr.
A estréia acontecerá em conjunto com a Riminicomix - Mostra do Quadrinho do Cartoon Club, que se realizará de 14 a 16 de julho, na conceituada edição extra série, que todo ano é produzida pela organização da feira e que tem como protagonista um personagem bonelliano.
Este ano o personagem será Dampyr e a história será escrita por Giorgio Giusfredi com desenhos do estreiante na SBE, Villa. O título da edição será o "Emblema do Dragão", a seguir, um breve sinopse:

"Durante a guerra bizantina, Ariminum está sitiada pelos ostrogodos do Rei Vitige. O general bizantino Belisario manda um punhado de valorosos soldados guiados pelo destemido comandante Draco (ninguém menos que Draka, o pai de Harlan em ajuda a Iohannes, vulgo "O sanguinário", regente da cidade estratégica para a conquista de Piceno. Enquanto Vaes, lugar-tenente de Draco, deflagra uma nobre vingança, entram em campo para ensanguentar a praia da Riviera, os desumanos hunos às ordens do misterioso Rei dos Mortos..."

Lo Spazio Bianco teve a possibilidade de trocar umas palavras com Marco, para descobrir alguma coisa a mais sobre ele.

Olá Marco e seja bem vindo ao Lo Spazio Bianco.
Inútil negar, a paixão pelo desenho é uma característica de família. Teu pai Claudio, seu irmão estuda arquitetura (e quantos arquitetos são desenhistas de quadrinhos e vice-versa) e você. Te perguntamos então: Como cultivou esta sua capacidade e quando entendeu de transformar o desenho em profissão?
A paixão pelos desenhos sempre existiu, talvez porque em casa tinha desenhistas por todos os lados (lembro que minha mãe é muito boa, tanto como desenhista, quanto como pintora) ou talvez pela quantidade excessiva de quadrinhos que tinha ao meu redor. Recordo que já na escola média, o meu objetivo era frequentar o liceu artístico, assim me inscrevi no "Medardo Rosso" di Lecco. No terceiro ano da escola, no verão, essa organizou um laboratório de quadrinhos, com duração de uma semana, num lugar que posso definir como diferente: num hotel em Casargo, uma pequena localidade entre as montanhas de Lucca. Os professores? Davide Barzi ensinando escrever e Sergio Gerasi, desenhar.
Foi um um curso muito interessante (conservo até hoje o carderno com as lções) e me permitiu olhar "normalmente" para o quadrinho, com uma aproximação aluno-professor que eu nunca tinha lido. Assim, depois do diploma, passou um ano e meio para eu melhorar o preenchimento e o meu desenho, afim de criar um book que tinha projetado. Naturalmente mu pai me deu muitas dicas, mas mais do que ele, a me acompanhar, estavam as edições dos autores que admiro.
Depois deste período de "especialização", perambulei pelas feiras de quadrinhos, com os meus desenhos para entender aquele mundo, não me fazendo valer o meu sobrenome, um tanto pesado.


Quando e como começou a ler quadrinhos; quais são aqueles que mais marcaram a sua infância e o que está lendo agora, se ainda os lê
Comecei a ler cedo. Porém, confesso que não me excitava "lê-los", era mais atraído pelos desenhos. Algumas edições conhecia de memória, mas não sabia do que se tratava. 
Li tanta coisa e de gêneros diferentes, que não posso dizer especificamente qual mais me marcou, porém, ainda hoje leio de tudo: de Andy Capp, Peanuts, Strumtruppen, Rat-Man a 20th Century Boys passando por qualquer edição americana e Bonelli.

"A única pista, um par de tênis", editado pela Renoir e escrito por Davide Barzi, marcou sua estreia no mundo dos quadrinhos. Conte-nos como fez parte projeto, como foi na redação e quanto esta experiência é importante na sua formação profissional?
Depois do período de "oficina", contactei Sergio Gerasi a quem mostrei os meus trabalhos mais recentes. O bate-papo entre ele e Davide Barzi foi breve, e, em uma semana me pediram para participar do projeto. Sendo uma obra original de Davide Barzi, a maior parte do juízo dependia dele, a redação dava uma última controlada, mas Davide era um responsável híper confiável. Para as primeiras páginas "conversávamos" via email todos os três. Davide controlava a direção e a coerência do texto; Sergio se preocupava com o desenho. Ao final de tudo tinha aprendido muitíssimo, a prática com o quadrinho, a relação com a profissão em termos de perseverança, empenho e organização do trabalho.

Que tipos de testes te pediu Mauro Boselli para ser admitido no grupo de desenhistas de Dampyr? E se encontrou com ele que, notoriamente, é um responsável muito severo? 
Boselli me pediu simples desenhos de Harlan Draka antes de passar aos desenhos efetivos dos personagens que animam a minha pequena-grande história que será lançada na Riminicomix. Porém, penso que os "testes" não ficaram somente naqueles, acredito ter sido avaliado também pela forma como me aproximei com a narração de uma história desse tipo. Da minha parte, acredito que o período de avaliação verdadeira acabou lá pela página cinco, o restante foram observações de layout. Os encontros com Boselli sempre foram intermediados por Giorgio Giusfredi e da minha parte não tiveram problemas, e se tivessem acontecido, estaria feliz por me corrigir para minha melhora. Com esta dupla ainda tenho muito a aprender sobre quadrinhos.

Apresentou testes para outros personagens da Bonelli além de Dampyr? Quais os gêneros que e o personagem que mais se sentiu a vontade? 
Sim, fiz cerca de quatro testes para Brandon com Chiaverotti e um para Martin Mystere para Giovani Gualdoni. No dia que recebi a notícia que trabalharia com Dampyr, andava pela Bonelli com testes de Zagor para mostrar a Burattini. Não sei bem que tipo de personagem que eu gosto de desenhar; porém, posso dizer que o gênero "ação" me atrai imediatamente. Basta que seja ação, que eu estou bem.



O seu primeiro Dampyr será uma publicação especial para a Riminicomix, uma história escrita por Giorgio Giusfredi, cujo o título é "O Emblema do Dragão". O que você está achando de trabalhar com um escritor tão jovem quanto você? 
Está tudo bem, ele é um grande escritor. A história é bela e estou apaixonado. Acredito que quando há diversão trabalhando, há prazer, e, com Giorgio está sendo assim. A pequena diferença de idade, permite nos comunicarmos com maior afinidade. Tudo isso sem conhecê-lo pessoalmente. O início está ótimo, não seria nada mal produzir outras aventuras com ele.

Que coisa te atrai mais na série e no personagem Dampyr, e, como se encontra a desenhá-lo?
Como já disse sou um amante da ação, e em Dampyr há muita e de todos os tipos. Gosto da ação ininterrupta que o caracteriza; não sou fã do "sangue congelado", mas como praticante de artes marciais gosto de ação, qualquer que seja. As atmosferas góticas e o horror, alternadas com as mais diversas ambientações, são a cereja do bolo, sem contar a variação de épocas e histórias contadas.
Esta história é dificil, mas me ajuda a me firmar. Me encontro bem, também é de algum tempo que desenho histórias puramente "narrativas" e esta ação me foi divertida e inspiradora. 

Qual é o seu ritmo de trabalho? Como organiza seu dia?
Procuro, possivelmente, acordar cedo e fazer uma página e meia por dia. Este é o propósito, mas qualquer colega mais experiente, sabe que há dias "sim"; dias "indo como um trem"; dias "agora eu choro"; e dias "jogo tudo pro alto". Se faz aquilo que se pode com o máximo de empenho então, sobretudo, numa bela ocasião como essa.

E os instrumentos que você usa (lápis, pincéis, tipos de papel)? Faz uso de instrumentos digitais no seu trabalho
Barzi me definiu "totalmente analógico" e até certo ponto eu sou, mesmo porque há pouco tempo comecei a me acostumar com o mundo digital, mas principalmente uso para as correções. Eu ainda gosto de ouvir que "produzi" uma marca indelével sobre uma folha física, sem o zoom a ajudar-me nas minuaturas; na prática eu gosto da satisfação do fazer (não que o digital seja belo e muito cômodo). Uso folhas A3 lisas. Para preenchimento uso uma caneta Mitsubish com duas pontas e, canetas variadas.

Como supera o "problema" do fechamento da página? Ou seja, consegue parar de correr os olhos ou corrigi-la, uma vez que, a considera terminada ou o impulso seria continuar a trabalhando nela?
O impulso é certo,  mas procuro fazer meu melhor para resistir. Procuro de qualquer forma de desenhar divertindo-me, prestando atenção na espetacularidade e esperando pela satisfação. Muitos talvez não sabem que quando se desenha uma particular cena ou história, são alguns pontos em que o desenhista "ouve" no íntimo de não ter simpatia com determinado quadrinho. Isto cria "tédio" que abaixa o nível de qualidade. Às vezes me basta desenhar um particular, que me dá prazer, também se erro uma indicação do texto, procuro fazê-la de novo, do mesmo modo apaixonado, prazeiroso e produtivo. Estou curioso para saber quantos desenhistas concordam comigo.

Obrigado pela entrevista e tudo de bom, Marco!

Intervista realizzata via mail e conclusa il 22/06/2016. 



Entrevista publicada originariamente no site: www.lospaziobianco.it

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