domingo, 5 de junho de 2016


Crítica: Dampyr 194 - A Cidade Abandonada

Escrita por Jacopo Cerreti


"O mal que há sobre a Terra às vezes é causado por nós mesmos!"
- de Dampyr 194


TRINTA ANOS DE CHERNOBYL
No dia 26 de abril de 1986, na central nuclear de Chernobyl se consumava uma catástrofe causada por um acidente cujas causas não são claras até os dias de hoje. Igualmente obscuros são os resultados efetivos deste desastre: as estimativas apontam que os números de doentes/mortos variam segundo quem se interroga, passa de pouco mil, segundo declarações da ONU, até chegar ao dado de 6.000.000 estimados no espaço de 70 anos pela associação ambientalista Greenpeace.
Os números de qualquer forma, são impressionantes, como impressionante é a repercussão desta tragédia na consciência dos cidadãos: em particular, o seco "não" da Itália à energia nuclear, está condicionado ao acontecido em Chernobyl. 
Depois de ter feito uma visita a Cagliari, Dampyr e sua dupla de amigos são chamados a investigar algumas estranhas aparições e acontecimentos nos arredores de Prypiat, a cidade onde viviam os operários da central nuclear aonde aconteceu o acidente. Mais uma vez Harlan, Tesla e seu companheiro são deixados de lado para dar espaço a uma cidade que por si só, conta ao leitor o próprio drama. Pois com os anos foi transformada em point do turismo macabro, se rebela, regurgitando toda a dor que a ferida ainda quente provoca nos sobreviventes e nos escombros ainda radioativos. Para traçar a história desta cidade devastada, Luigi Mignacco baseia-se na perspectiva de Fyodor, guia clandestino para Pripyat. Este personagem, sente na própria pele todo o horror da cidade radioativa, através de uma monstruosa fusão com ela, e consegue contar perfeitamente em toda a sua tragicidade, o drama de uma cidade ainda ferida.


O VIAJANTE DO MAR DE NÉVOA  
O coração desta edição está estampado perfeitamente na capa confeccionada por Enea Riboldi, em tributo ao "O viajante do mar de névoa" de Caspar David Friedrich. O homem está aterrorizado com o mar abaixo dele mas não consegue fugir de seu horrendo fascínio.
Luigi Mignacco consegue no entanto escrever uma história apaixonante que consegue divertir e entreter com uma temática bem simples. Particularmente o personagem de Fyodor, um monstro "especial" que na saga dampyriana, dificilmente será esquecido.
No que diz respeito a parte gráfica, às páginas de Andrea Del Campo foram um trabalho sem igual. Consegue-se respirar da primeira a última página, o ar insalubre de Pripyat, retrata finamente o interior dos edifícios abandonados e a vegetação que começou a tomar conta, depois que o homem abandonou o local. Outra característica desta edição está em tudo que envolve a radiação, pois com uma temática assim forte, realmente não seria interessante limitar-se apenas aos lugares e cenas de ação "soft".
Mignacco obriga o leitor a perguntar-se mais e mais vezes sobre quem é o "monstro" a ser combatido; e não encontrar facilmente resposta a esta pergunta é um tanto inquietante quanto interessante.


UM ABISMO A SER EXPLORADO
Seguramente "A Cidade Abandonada" é um dos números mais interessantes de Dampyr que saíram ultimamente. A temática inquietante, um segmento gráfico de respeito à altura da matéria narrada, rendem uma edição particulamente prazeirosa. Vista a autoconclusão da história, o foco da ação, decisivamente distante dos matadores de vampiros, este quadrinho cai bem também àqueles que nunca tiveram entre as mãos um Dampyr. Olhar de fora o abismo da consciência humana é fascinante, mas muitíssimo perigoso, se tiverem coragem de fazê-lo, serão recompensados com meia hora de grande entretenimento e um boa dose de reflexão, que nunca é demais...





Crítica publicada originamente no site: www.c4comic.it

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