segunda-feira, 27 de janeiro de 2014


Silvia Califano concedeu uma entrevista ao site da Bonelli, no último dia 02/01, onde falou sobre sua carreira e Dampyr 166, que foi para as bancas italianas em 04/01.



NASCIDA PARA DAMPYR

Encontramos Silvia Califano, a primeira desenhista do staff do Matador de Vampiros bonelliano, que estreiou na edição que foi às bancas italianas em 4 de janeiro.


Nascida em Roma em 1984, cresceu a "pão e quadrinhos" de todos os gêneros, depois dos estudos clássicos, frequentou a Escola Internacional de Quadrinhos, para formar-se em Literatura, Música e Espetáculo. Depois, "se entregou" à sua paixão pelos quadrinhos e começa a colaborar com a Editoriale Aurea, trabalhando em "John Doe", "Lanciostory" e "Skorpio". Em 2012 entra para o staff de desenhistas de Dampyr, estreiando no número 166, "O sopro quente do Hermatão". Estamos falando de Silvia Califano, a primeira mulher a desenhar o nosso Matador de Vampiros. Mantivemos contato com ela para conhecê-la melhor, e, ouvir o que tinha a nos dizer.

Como aconteceu a aproximação com os quadrinhos, quais os personagens e os autores que influenciaram o seu gosto e os seus traços?
Aproximei-me dos quadrinhos desde muito cedo, seguramente antes mesmo da possibilidade de ler sozinha o conteúdo de um "balão". Talvez eu deva acrescentar "felizmente", pois as primeiras revistas que foliei eram edições de Ranxerox, os Freak Brothers e alguns Manara e Pazienzia, deixadas pela casa pelo meu pai, e tinha também "O Eternauta". Nesse mesmo período, recordo que minha mãe lia para mim Asterix e Kamillo Kromo, mas minha autonomia ganhei lendo páginas de Mickey Mouse. Somente mais tarde, nos primeiros anos da década de 90, me aproximei dos super-heróis americanos, sobretudo através de Batman, e também outros quadrinhos italianos da Bonelli, como Dylan Dog antes entre todos, e, depois Mister No. Recordo também de Corto Maltese... um belo mix!


Influencia clara nos meus traços não saberei citar, comecei a desenhar bem pequena, sobretudo personagens da Disney, mas muitas vezes "copiava" desenhos animados um pouco de cada lugar. Aprecio muitos autores longínquos, mas algumas vezes procurei de aproximar-me de estilos que pensei ser o mais adequado para um tipo específico de história. Digamos que vem de fora é utilizado como tendência para um traço mais clássico. Talvez. Nos tempos de escola já era leitora feroz da Bonelli e recordo que muitos desenhistas que observava já trabalhavam em Dampyr.

Por exemplo, quem te inspirava mais?
Por um longo tempo observei muito o trabalho de Maurizio Dotti, sobretudo para os cortes de luz, mas também Nicola Genzianella, Stefano Andreucci e Majo... Depois de outros títulos: Bruno Brindisi, Corrado Roi, Giuseppe Franzella, Laura Zuccheri, Massimo Carnevale... muitos! Sem contar os grande mestres como Sergio Toppi, Dino Battaglia e Hugo Pratt. E estou citando apenas os italianos. Eu poderia citar uma longa lista, onde há alguns que é um prazer ver trabalhar e sempre se tem uma chance de aprender. Obviamente americanos e desenhistas de todo lugar inclusos. David Lloyd, o Dave McKean, Darwyn Cooke, Hiroaki Samura, Werther Dell´Edera, Sean Philips, Juanjo Guarnido, Eduardo Risso, Luca Rossi, Benjamin, são somente alguns dos nomes que amei, amei ler e amei procurar estudar.



Quando decidiu de transformar a paixão pelo desenho em trabalho de verdade e como conseguiu? 
Quando muito pequena, com seis ou sete anos, lembro, por um período, decidi me transformar numa desenhista para desenhos animados da Disney, sobretudo aqueles que tinham saído nos cinemas. Naquele tempo já tinha desenhado alguma coisa, história de piratas, canibais e viagens no tempo. Então, depois da escola média, os desenhos se transformaram mais num passatempo entre tantos, deixado mais de lado devido a estudos de grego, latim, etc. Um evento casual, foi crucial. Sendo a minha paixão por quadrinhos conhecida, como eles diziam, até pelas pedras, um dia, o namorado de uma amiga, me deu um folder da Escola de Quadrinhos, dizendo somente que "bom, pensei que poderia te interessar". Obviamente, respondi que não, realmente não estava interessada... No mês seguinte estava inscrita na Escola Internacional de Quadrinhos. Mais dois meses e a idéia de poder chegar a trabalhar como desenhista era uma obsessão. Eu sempre tive as idéias muito claras. 

De John Doe a Dampyr. Quais são as principais diferenças para trabalhar com um e outro personagem? Teve dificuldade para se adaptar a rigidez bonelliana? 
As diferenças são enormes em várias frentes, a partir do ritmo de trabalho com o personagem, a gestão narrativa e o tipo de publicação no geral.

Em John Doe trabalhava num ritmo tranquilíssimo, com uma média de três meses para finalizar uma edição. O argumento chegava completo, mas num bloco de no máximo vinte folhas. Obviamente, influenciava as escolas de estilo. Em Dampyr a regra das enquadraturas, a distribuição dos quadrinhos e do material está todo nas mãos do autor, enquanto em John Doe, o desenhista tinha indicações mais elásticas, mais liberdade.

Na primeira parte da projeção da página, apresentei o layout a Roberto Recchioni, com regras alternativas para uma mesma sequência, com variações fortes também para número de quadrinhos e distribuição dos diálogos.


A "fadiga" a respeito das regras bonellianas, se resolve se educando a "ver" o argumento, antes de começar a página. Entender a leitura de uma sequência e imaginá-la com cortes e enquadraturas que, às vezes, estão muito longe das escolhas do autor, por puro e simples gosto ou sensibilidade. Neste caso, em Dampyr há obviamente margem de confronto, mas as indicações são do autor e servem de parâmetro, para possíveis modificações.

Que tipo de história te confiou Boselli? Concordaram qual seria o melhor tipo de aventura para os seus traços? 
Não creio ter sido a escolhida para "O sopro quente do Hermatão", por alguns detalhes... mas por ter facilidade em cenas de ação, talvez tenha pesado ao meu favor. As histórias de Claudio Falco são sempre extremamente viariadas e espetaculares, dadas numerosas ambientações, cenas ricas em diálogo e sequências de pura ação.

Onde nos leva o Dampyr de janeiro? 
O número de janeiro continua a luta entre Harlan e o Mestre da Noite Laforge, maravilhosamente desenhado por Michele Benevento em "Os fantasmas do Distrito 6" e que eu tentei, com muito esforço, seguir. Principalmente a parte que envolve a África, mas há uma breve passagem por Praga e um giro pela Europa, seguindo os rastros e as intrigas de Laforge.


Entre os desenhistas de Dampyr, há algum em particular que procurou seguir para conseguir a precisa atmosfera da história ou a caracterização dos personagens? Foi difícil "criar" os rostos de Harlan, Tesla e Kurjak? 
Quando fui catapultada nas atmosferas e sombras noturnas do nosso Matador de Vampiros, procurei me cercar de muitas referências de estilos diversos, chegando a um traço mais claro.

Para criar a tonalidade certa e procurar me familiarizar com alguns efeitos, vi um pouco dos desenhistas que já nominei. Sempre gostei da série Dampyr e procurei criá-lo com aquilo que atraia quando era bem jovem. Observei atentamente o trabalho de Genzianella e Majo.

Para os cortes de luz ainda tenho muito a aprender com Dotti, mas talvez aquele que mais procurei me basear tenha sido Andreucci, que tem a incrível capacidade de criar soluções com extraordinária facilidade.



Para as atmosferas, tenho presente na cabeça vários autores, entre os quais Alessio Fortunato, capaz de criar incríveis e refinadas atmosferas.

Quando aos rostos, procurei criar os personagens de acordo com a minha cabeça, de leitora de velha data. Procurei desenhar de um modo que os desenhos nascessem da união de pontos de referimento aos personagens originais, as várias interpretações datadas no tempo e aquela que apurei através da leitura. Não foi fácil e provavelmente ainda amadurecerei, mas procuro sempre ser fiel a idéia que tenho todo um "time", como leitora aficcionada.

Fiquei particularmente contente de "encontrar" Tesla, página após página. Tornou-se clara, como se tivesse "pulado de um carro em movimento" e depois não tive mais dúvidas! Entre os conselhos e as observações de ajuda sobre o meu trabalho, destaco sobretudo Fabrizio Russo, que me ofertou a sua experiência com grandíssima gentileza. Na realidade são muitos colegas e mestres que devo agradecer pela ajuda e conselhos, durante o percurso de preparação de Dampyr 166.De Dell´Edera e Gabriele Dell´Otto e também aos outros colegas que conheci "durante o caminho".

Sabemos que Boselli é muito detalhista ao fornecer documentações para as histórias de sua autoria. Foi difícil atender seus pedidos? Como foi trabalhar com ele? 
"O Sargento da Bonelli"! Obviamente estou brincando! Tive oportunidade de conhecer pessoalmente Mauro e ele é simpático. Estou muito contente e tenho a sorte de ter tido a possibilidade de trabalhar com um baluarte do quadrinho italiano.

Certo é que no início "marcou colado"! Sobretudo por telefone, por onde chegava um tsunami de correções e recomendações, explicações e instruções gerais como se "fazer as coisas", num ritmo inumano! Basta pensar quantas milhares de páginas passaram na frente de seus olhos, como supervisor para entender a que velocidade funciona a comunicação com todos desenhistas e autores. Digamos que nos primeiros momentos o importante é não entrar em pânico e esquecer a idéia: "vou jogar tudo para o alto e desistir!".



Na realidade, durante os trabalhos das primeiras páginas passei sufoco devido a gama de material que tinha a meu dispor: ambientes, rostos, dezenas de personagens e referências... mas Mauro também soube prontamente dar a dica certa para eu encontrar o "fio da meada" e começar bem as páginas. Quanto ao manuseio do material visual, trabalhando com Falco nos textos, recebi dele as imagens e as fotos.


E agora em que está trabalhando? Te encontraremos novamente em Dampyr?
Atualmente estou em ação, nas primeiras páginas de uma nova história de Claudio Falco, onde encontraremos um Mestre da Noite já conhecido: Tziao-Min. Também nessa aventura a parte de procurar informações, mostra-se muito trabalhosa, pois a aventura começa durante a Guerra do Vietnã... e não digo mais nada!



 

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