O Rei das Cores
di Federico Castagnola
Oi Mauro, seja bem vindo ao Ayaaaak. Se não me engano, Dampyr deveria inicialmente ser publicado dentro da revista Zona X, como uma minissérie. O que mudou do projeto inicial, uma vez que, decidiu torná-lo uma série regular?
Como sabem, eu e Colombo tínhamos proposto Dampyr para Zona X, mas quis o destino que a história se apresentasse de forma diferente. Inicialmente, Zona X tinha um estilo mais “fantasia” e leve e os primeiros números saíram sob a “pena” de Majo. Todos perceberam que o personagem ficou “grande” demais para a Zona X. Na verdade, eu e Colombo ambicionávamos realizar uma série e tínhamos pronto um projeto (que nunca mostramos a ninguém) sobre anjos e demônios. Visto que na época as edições avulsas não eram ainda vistas com “bons olhos” pelas editoras. Foi o próprio Bonelli que nos procurou, se tínhamos idéias para uma série mensal. Jogamos a “bola pro alto”, pois sugestões, tínhamos para dar e vender. O projeto que tínhamos na gaveta, foi modificado e surgiu Dampyr: cuja espinha dorsal é Caleb-Nikolaus-Nergal-Praga, etc...
Você tinha em mente uma conclusão ou pensava de poder ir avante sem perguntar sobre este problema?
Nenhuma conclusão. Como eu disse, não tínhamos pensado no final da minissérie, porque não tínhamos pensado de verdade na hipótese de uma minissérie. Também atualmente não prevejo a possibilidade de um final absoluto. Mas finais internos, isso sim. Em Dampyr, criei um labirinto de histórias destinadas, naturalmente, a chegar a uma conclusão, mas outras histórias irão nascer! Nos próximos meses, por exemplo, nos deixarão para sempre alguns importantes personagens e não me referido apenas aos “maus”. Todavia, nos quadrinhos, nada se destrói de verdade. Existem, os flashbacks e outras alternativas... Pode também reaparecer antigos personagens, se necessário...
Os personagens fundamentais, no entanto, como Draka, Caleb e os três heróis não correm perigo. Destruir e depois substituí-los por figuras de mesma função. Por que deveria fazê-lo? Acho insensato, operações de certos quadrinhos e séries, que é eliminar protagonistas para depois substituí-los por figuras idênticas, mas dotadas de menor carisma e fascínio e menos amadas pelos leitores. Os personagens que fazem sucesso não devem ser tocados. Mesmo com essa afirmação, alguns realmente morrerão...
Num determinado momento, Maurizio Colombo, decidiu abandonar a série. O que a série perde sem ele?
Esse foi um golpe duríssimo. Seu estilo “duro” e visionário é único e fundamental; tentei, em vão, procurar uma analogia em outros autores. Esperava de Cajelli, essa analogia, mas está bem assim como está. Outros bons autores, como Di Gregório, Mignacco, o falecido Mario Faggella, seguem meu modo de interpretar Dampyr. Em suma, Colombo é apenas um e entrou
Não creio que seria muito diferente, não. Digamos que a falta de suas histórias, idéias e eu teria um pouco menos de fadiga. Sua marca de fundo está presente da primeira a última edição editada. As edições sobre Praga e a trilogia transilvânica, dos números 20-21-22, já as tinha concebido e em parte realizadas, assim como, as motivações de Draka, as três tias, Dolly Mac Laine, Amber, Varney, todos. Outras histórias e sagas, ao contrário, surgiram por acaso ou porque procurávamos uma coisa e encontramos outra. Às vezes, um personagem ou uma situação menor, adquire importância e o fluxo de idéias é interrompido. É normal e vital que seja assim. O primeiro a ser surpreendido é o autor. Voltando a Maurizio, criou personagens importantes como Victor e Lamiah. O poeta anarquista deu origem a um ciclo de histórias, mas para Lamiah não consigo encontrar uma boa idéia, para trazê-la de volta. O Thorke de Colombo me deu depois a idéia da sua escrava Lisa.
Na longa história que se inicia na edição nº 101, são entrelaçados fios deixados soltos no curso dos anos. A união de pontos soltos já estava prevista ou nasceu com o tempo?
Respondo, por partes. Nem tudo foi programado, mas é óbvio que isso deveria acontecer. Quem leu minhas histórias de Zagor sabe que tenho paixão por sagas, recuperar coadjuvantes e inimigos. Em relação aos personagens, repito que alguns, como Amber, Caleb Lost, os Lobos Azuis, estão sempre em primeiro plano, mas outros nasceram ou cresceram por acaso. Vera Bendix, a espiã do S.O.E, tem um papel que a princípio, foi concebido para Sandy O´Sullivan. Os personagens de Londres, tornaram-se fundamentais na luta contra o arqui-inimigo Lord Marsden. A paranormal Ann Jurging, criada por Colombo, está “fora de ação” a tempo, mas em breve entenderemos sua importância. Dos outros, descobriremos a importância no futuro. Desde sempre temos as aventuras de Jeff Carter ou as de Lisa, dos protagonistas de “Loch Torridon”... as histórias deles se entrelaçam de maneira imprevisível. Até o “mundo paralelo”, também já existia previsão. Terá importância na luta entre os protagonistas, mas não mudará o estilo de Dampyr e nem tudo somado, os ambientes, a ficção científica das edições 100 e 101...
Nas suas histórias, é inserida uma notável quantidade de informações. Você tem a sensação que todas essas informações são instrutivas e apreciadas pelos leitores ou dificultam a leitura?
Encontrar idéias não é difícil. Tenho a sorte de ter muitos interesses e me dá prazer, usá-los para criar histórias. As assim chamadas noções são as mesmas, são utilizadas para definir as histórias, criar a atmosfera, prosseguir com a história e torná-la o mais “nova” possível. Tudo deve ser vivido pelos protagonistas, não deve ser dissociado do contexto. E depois tem os níveis de leitura. Para aqueles que se aprofundam mais, que não vêem os quadrinhos como simples leitura de horror/aventura.
E os desenhistas, como lidam com a necessidade de utilizarem uma notável quantidade de informações diversas?
Os desenhistas geralmente estão contentes. Alguns como Majo, procuram muito mais informações do que aquelas que lhe forneço.
Em Dampyr é fundamental a exatidão do ambiente, geográfica ou histórica. Faz parte, para muitos leitores, de seu fascínio e contribui para que seja crível as histórias mais fantásticas.
Retornando a saga em curso, podemos esperar algumas revelações surpreendentes?
Aconselho aos leitores de lerem bem o que dizem os personagens. Os mais atentos entenderão. Eles deixarão pistas, sobretudo na edição 100, que se desenvolverão nas edições seguintes, como o papel de Dolly MacLaine. Mas precisam ter paciência.
Superada esta importante meta, o que podemos esperar?
Depois do número 102, retomaremos algumas locações fundamentais. Em Paris, tiraremos da fila, algumas histórias “francesas”, enquanto que em Praga, Caleb Lost comparecerá diante do Tribunal da Lei. Em 2009, conheceremos o passado de Kurjak, na guerra e o retorno de Bastet; depois uma história com continuação com Bugsy Siegel, o detetive-vampiro Jim Fajella e o serial-killer Jeff Carter. No Especial 2009, desenhado por Bartolini, veremos novamente o jovem Yury (lembram dele na edição nº1?) e as origens de Dampyr. Teremos uma história do novo desenhista Alessandro Scibila, um dos organizadores do evento Outono Negro, ambientada entre a Inglaterra e a Escócia, onde veremos o encontro de Duncan e Stuart (Lago Torridon), com os caçadores de fantasmas de York. Ann Jurging, reaparecerá, rejuvenecida, em uma história desenhada por Luca Rossi e mais adiante enfrentará Claudine Bobasch. As histórias de Dampyr, não seguem um padrão definido. As linhas paralelas das histórias, às vezes se entrelaçam. Majo concluiu uma história Friuliana, baseada na última sugestão do falecido Faggela e está finalmente começando a história que se passará em Milão.
E tudo em perfeito acordo com os outros desenhistas.
É muito interessante a química entre eles. Por exemplo, quando Luigi Mignacco me trouxe a idéia, para uma história com uma espada samurai em Veneza, me veio de súbito à mente, a idéia de uma história japonesa, em que pude contar, todos os elementos fantásticos que gosto daquele País. Assim, foi feito, numa história contada em três partes, nos números 76,77 e 78.
O staff de Dampyr é composto por alguns dos melhores desenhistas italianos. O que procura dar a seus desenhistas, quais critérios adota, quando vai a inserir um “novato” no time?
Me interessa, sobretudo, a originalidade e a capacidade de criar uma atmosfera particular. Deve ter personalidade e sobretudo, um estilo próprio. E não correr o risco de confundir uma história de Majo com uma de Baggi.
Para concluir, se amanhã Sergio Bonelli decidisse dar um grande presente a Dampyr, que coisa preferiria: a possibilidade de termos uma edição gigante ou um especial colorido, no estilo do Dylan Dog Color Fest?
Pergunta que me pegaria de surpresa, também porque não terei tempo de realizar nenhuma das duas. Respondendo a segunda pergunta, nem tanto por ser uma edição colorida, mas porque para se escrever uma breve história de terror é sempre muito difícil de fazer.
(Entrevista publicada no site http://www.ayaaaak.net/, concedida a Federico Castagnola, no mês de julho/2008)
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