domingo, 4 de setembro de 2022

 
DAMPYR COLOR. A CINEMATECA DO MISTÉRIO.
 

Estamos na segunda edição da série Color que Dampyr inaugurou no ano passado com o volume "A biblioteca do horror". Se, como vimos em nosso artigo anterior, a primeira ocasião foi propícia para homenagear e contar aqueles autores literários que Mauro Boselli, ao longo de mais de vinte anos, citou e, em alguns casos, fez protagonistas de suas aventuras, neste segundo lançamento é a vez do mundo do cinema. 
As referências cinematográficas em Dampyr sempre estiveram lá,  ainda que certamente menos exploradas e aprofundadas do que as literárias. Uma figura exemplar a este respeito é a o figura do Mestre da Noite Alexis Musuraka introduzido imediatamente no universo dampyriano (Dampyr nº 18, A tela demoníaca), mas que com a mesma rapidez desapareceu.
Tivemos que esperar pelo Dampyr 204 "Bloodwood" para retomar a tendência cinematográfica de forma decisiva graças à entrada em cena do Mestre da Noite Graf von Henzig.
O nobre vampiro de Praga, amigo do falecido Musuruka, ainda hoje está ativo e engajado em maquinações caprichosas contra Harlan & Cia. e é, com o devido mérito, merecedor deste registro especial.
No prólogo do álbum, Henzig se insinua, mais uma vez, nos sonhos de Ljuba, dando lugar às pesquisas de Harlan e as histórias deste segundo Dampyr Color.

Viagem a lua, direção de George Méliès
Era quase óbvio, senão obrigatório, começar homenageando o diretor e ilusionista francês George Méliès. Boselli e Paolo Barbieri criaram uma história onírica e delicada, entre a fantasia e o sonho, no puro estilo Méliès. Graças ao traço tênue e delicado de Barbieri, as atmosferas da história têm pouco horror e muita magia. O desenhista, com suas aquarelas, dá cor ao cinema fantástico e de ficção científica de Méliès, dando forma a uma história agradável que reconstrói bem o que foi a carreira do diretor, mesmo que apenas com um breve panorama.

Doppelganger com Paul Wegener
A história desenhada por Fabrizio Longo e dedicada ao ator alemão que se tornou imortal (no sentido artístico) poro sua interpretação no filme mudo Der Golem: Paul Weneger.
A história, ambientada em Praga ocupada pelos nazistas, é uma homenagem ao autor e ao homem. Na noite escura e ambígua da história, Boselli traça a carreira do ator com inúmeras referências e citações e mostra, com a ajuda de Nikolaus, sua missão de protetor dos judeus perseguidos pelo regime. Críptica e complexa na apresentação do artista, a história ganha fôlego e se completa no final, graças também ao encontro com Nikolaus e ao diálogo deste com Paul. 

O pesadelo de Natal de Ed Wood
A história de Giorgio Giusfredi e Michele Cropera é dedicada a Edward Davis Wood Jr.
Diretor, roteirista e produtor de cinema americano hoje descrito como "o pior diretor de cinema de todos os tempos" e já homenageado por Tim Burton no filme homônimo de 1994 com Johnny Deep.
Uma viagem surreal e perturbadora na mente do artista para refazer suas loucuras e fracassos. Uma história a meio caminho entre Buzzati e Bukowski que, aproveitando a figura decididamente exagerada e cara ao diretor, consegue evocar bem delírios e alucinações. Entre suéters, emasculações e Bela Lugosi, a história traça uma carreira e uma vida louca cujo fim será obra do próprio von Henzig.

Vampira com Jeanne Roques
A última história, de Mauro Boselli e Alessio Fortunato é um afresco boêmio bem conservado dedicado a Musidora, a sexy e multifacetada artista francesa que estrelou Les Vampires.
Toda história vive da combinação Henzig/Boselli: o Mestre da Noite, como é roteirista, é vítima do charme da bela artista parisiense. Toda a história, assim como a história que a põe em movimento, é artisticamente criada com o único propósito de conhecer/homenagear a fascinante artista no que é uma clara coroação de Jeanne Roques como musa do cinema de vampiros na opinião do cinéfilo Boselli.
 
Conteúdo extra: Dark Pinóquio
Embora, como sempre quando Boselli explica suas fontes, o livro seja fascinante e interessante, os picos dignos de nota (e horror, mas essa mudança de direção já havia sido adivinhada pelo título) são raros. Talvez uma exceção a isso seja, em termos de tom e renderização gráfica, a história de Ed Wood. As restantes histórias, embora agradáveis como referido, não vão além da homenagem ao artista a quem são dedicadas. 
Este Dark Pinóquio é bem sucedido. Aqui encontramos os personagens e pesadelos de Musuraka aos quais Giusfredi consegue dar um novo tom, amargo e melancólico. A história de Collodi revive e adquire uma nova interpretação. Se Musuraka o transformou em um horror inquieto, Giusfredi, com a colaboração de Alberto Dal Lago, Simone Delladio e Alessia Pastorello, o devolve à esperança, ao amor e à paz.   
 
 
Publicado originariamente no site: www.magazineubcfumetti.com

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