Crítica: Dampyr 193 - Os Mistérios de Cagliari
Escrita por Jacopo Cerreti
"Não posso, Desiada! Eu... não sou mais humano!
- Eu sei, ao contrário... É mais do que muita gente!"
- de Dampyr 193
VIAGEM A SARDENHA
Uma das marcas dos heróis bonellianos é, frequentemente, a distância com o leitor. Isso favorece imaginar o que acontece nas continuações e, em pobres palavras, nos faz sonhar. Não significa que um herói como Tex transmita mensagens que não sejam atuais e incoerentes com o tempo do leitor, quando muito que os locais das ações raramente coincidem com as ruas que todos os dias transitamos.
São raras as exceções em que os heróis Bonelli visitam as nossas cidades italianas, e sempre que isso acontece eles se tornam protagonistas das histórias nas ruas, e as histórias eles que contam. Recentemente Julia esteve em Gênova e depois em Nápoles, para encontrar o seu grande amor Ettore; Ringo, na segunda estação de Órfãos, atravessou as planícies de uma Itália pós apocalíptica.
Poderia talvez faltar o Dampyr Harlan Draka? Absolutamente não! Quais as melhores locações da Sardenha, Cagliari em particular, para contar um antigo conto de horror?
NADA DE SE BRONZEAR PARA HARLAN
A primeira coisa que vem a mente quando se fala da Sardenha, são as suas explêndidas praias, iluminadas por um sol generoso, em especial nas horas mais quentes, todos os recantos desta terra tão antiga quanto fabulosa.
Pegue o parágrafo anterior e esqueça-o: em Os Mistérios de Cagliari vão ver sobretudo às ruas mais escondidas e antigas do local, o que acontece debaixo da terra, ao escuro da noite, na plena tradição dampyriana. Sem antecipar muito da trama, saibam que no caldeirão montado por Mauro Boselli, encontraremos muitíssimos ingredientes misturados (talvez demais): uma antiga tragédia dos inquisidores espanhóis contra os judeus; um menino não morto que consegue suscitar bondade e um sentimento de amor também em uma escrava não morta; uma dupla de estudiosos sardos que colocam luz sobre a antiga tragédia e que solicitam a intervenção de Harlan Draka.
Como nas outras edições Bonelli com ambientações italianas, o protagonista será deixado um pouco de lado para dar espaço às lendas e aos fatos contados do local.
UMA AGRADÁVEL VIAGEM
Embora a edição tenha como principal defeito o fato de ser caótica, no entanto, consegue seu intento de divertir e fazer refletir. A história de Mauro Boselli se apóia nos sólidos desenhos de Nicola Genzianella, extremamente adaptados à história narrada. A representação das ruas de Cagliari beiram à perfeição, assim como, são bem evidenciadas as expressões faciais a cada emoção provada pelos protagonistas. Genzianella convence, seja nas cenas de ambientes fechados, seja nos abertos, onde consegue dar uma consistência quase sólida do escuro da noite.
Recomenda esta edição, seja para leitores habituais de Dampyr, seja aos neófitos do caça vampiros. Os Mistérios de Cagliari dá aos primeiros qualquer coisa de inédito, e aos segundos a curiosidade de se aproximarem de um personagem que merece toda atenção dos leitores.
Crítica publicada originariamente no site: www.c4comic.it