domingo, 4 de agosto de 2013


Mauro Boselli entrevistou para nós Giovanni Di Gregorio, autor do Maxi Dampyr, que foi para as bancas em 30 de julho de 2013.

O DESENHISTA DOS PÉS DE VENTO
O Rimbaud dos quadrinhos Bonelli comparece a redação inesperadamente e falante, vindo de qualquer longínquo e bizarro (Marrakesh, os Pirineus, a Córsega), com roupas nada propícias para a estação e uma necesserie, que cabe no máximo, uma escova de dentes...
Agora, aonde você foi, Giovanni? 
Na Normandia com uma amiga, à procura de traços de uma vida passada dela. Conferimos microfilmes de jornais de setenta anos atrás e circulamos pelas estradas de Saint-Aubin-sur-mer: "Se recorda se morreu aqui? Naquela pracinha, talvez? No verão prefiro gastar energia: escalar, nadar, pedalar, fazer caminhadas. Quando atravessaremos juntos os Pirineus? 

Prefiro peregrinar em Santiago de Compostela, para me sentir abençoado! Mas porque não para mais? Vive na Inglaterra, França, Espanha, Kosovo, Nicarágua, Botswana. Vai a caça de mulheres estrangeiras?
E você acredita que seja somente por diversão? Estive entre os refugiados na Albania, nos campos minados do Kosovo, com os zapatistas em Chiapas... Fiz um treinamento em Cooperação Internacional e um curso com as Nações Unidas: quero me transformar em um peacekeeper.
Procurando por você na internet, o que encontrei foi um resultado incompreensível, pleno de símbolos... Parece interessante, mas o que é? Química? 
Tenho doutorado em química quântica.
Então te chamarei de Primeiro Levi dos quadrinhos! Gostou? 
Sobretudo "A Tabela Periódica". Eu dei uma cópia para a biblioteca do Museu Britânico onde trabalhei como historiador.

Em suma, é um dos tantos "cérebros em fuga"... Mas como então, no fim, escolheu as "nuvens que falam"? Os quadrinhos te deixam livre?
Fígado em fuga, isso sim! Sim, o quadrinho te permite troca contínua. Hoje estou em San Cristobal, amanhã no inferno, no Renascentismo, entre os Khemer Vermelhos. Na mesma edição posso ser astronauta, policial e vampiro. Posso mudar de gênero, ritmo, registro. E depois escrever me deixa apaixonado. Escrever, porém, escrever. Mesmo a lista de compras.
Pode falar (esta entrevista é um resumo) não fique acanhado. Mas tem suas raízes, não? Na Sicília? 
A minha cidade natal é Palermo. Mas nunca fiquei mais de dois anos no mesmo lugar! Com a minha família eu vivi no Canadá, em Nápoles e na Calabria. Sou 25% toscano. Mas minhas raízes? É importante? O Mediterrâneo, talvez. Seguramente me sinto mais a vontade em Essaouria que em Exeter.

E se transferiu para Barcelona. Conquistou a guerra civil espanhola ou a gastronomia local com seu pan amb tomaquet? 
Nos aproximamos do sétimo ano, se o superar, entre eu e Barcelona existe um amor verdadeiro. Na Catalunha se vive bem, é a Itália como poderia (e deveria) ser. Não é a toa que nós italianos somos a maior comunidade. Se encontra aqui também Claudio Stassi, com quem estou terminando um Dampyr ambientado entre as ruelas do Bairro Gótico. Acabaremos como os nossos bisavós imigrantes, em um barzinho empoeirado, tecendo comentários, entre uma partida de futebol e um café, entre uma tarantela e uma foto amarelada, e o último penalti da Salernitana!

Que imagem deprimente! Eu pensei que tivesse seguido os passos de Orwell, Vasquez Montalban ou o pior de Ruiz Zafon! Que coisa lê, entre uma mulher exótica e outra... pardon, entre uma viagem e outra? 
Ultimamente me interesso por livros de esoterismo. Na minha opinião, Tex tem um problema no terceiro chakra, por isso usa sempre a camisa amarela. Cinesiologia e reiki a parte, amo as histórias grotescas, surreais, que mexem com a realidade tornando-a mais leve. Que mostram as coisas de uma perspectiva diferente é a grande força da ironia. Por isso gosto do Groucho: a sua loucura é um antídoto para a verdade nua.

Paremos aqui com os quadrinhos. As tuas melhores histórias? 
Histórias quotidianas da Máfia, realizada com Claudio Stassi. De Dylan Dog a breve "Por uma Rosa". O número 19 de Monster Allergy. Uma aventura de Pato Donald em um centro comercial. O primeiro episódio da série animada da RAI, Spike Team. Entre os Dampyrs, a edição que se passou em Palermo (Dampyr 114), obviamente. Personagens? Adoro Tesla: um monstro protagonista é um golpe de mestre.
Bem! Espero que os leitores apreciem o seu Maxi Dampyr, que é uma amostra do seu delírio. Se não é assim, onde deveremos te procurar? 
Estou partindo para a Turquia!... Com um pouco de sorte consigo ainda participar das manifestações por lá!


matéria publicada originariamente no site: www.sergiobonellieditore.it

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