segunda-feira, 2 de abril de 2018


A Mulher da Boca Cortada - Dampyr 216 (março de 2018)

(Crítica de Paolo M.G. Maino)

O andarilho Harlan (somente nesses três meses do ano esteve em Magdeburgo, São Francisco e agora em Tóquio), vai para o Japão, chamado pelo amigo, o ronin Kenshin (que vimos pela última vez em ação no histórico Dampyr 200 - A Armada de Harlan), para resolver o complexo de uma série de homicídios ligados a um demônio da rica tradição mitológica nipônica: a Kuchisake-Onna, a mulher com a boca cortada que faz a seguinte pergunta as suas vítimas: "Estou bonita?".


A história imaginada e escrita por Stefano Piani (autor prolífico que varia dos quadrinhos a TV passando pelos romances) joga sobre dois planos temporais: uma primeira série de hediondos assassinatos entre 1988 e 1990 e o retorno da Kuchisake-Onna no presente. Os acontecimentos em Osaka no fim dos ano oitenta envolvem 4 jovens rapazes, rapazes que revemos agora com quase cinquenta anos, que vemos novamente em ação com Harlan e Kenshin.
A história é rica em cenas de ação e de horror, mas não é privada de momentos introspectivos e dedicados sobretudo no trato às relações do passado e no presente dos grupo de rapazes, mas também da jovem enfermeira que tem uma participação importante na história. O todo é temperado com uma piscadela de olho ao imaginário coletivo do mundo do Sol Nascente (imaginário que coincide perfeitamente com tantos contextos e situações típicas do mangá e animações): as estudantes com uniformes um pouco fora da regra e desinibidas; o trânsito da cidade de Tóquio, e, ordem e disciplina exemplares no ambiente de trabalho, mas também uma certa solidão daqueles que se encontram vivendo essa realidade. 
Stefano Piani conhece bem estes elementos e os oferece ao leitor, que os espera e de fato realiza uma espécie de mangá à ocidental, que recorda muito séries animadas, evitando justamente de confrontar-se diretamente com aquela história dupla japonesa de Bosell e Genzianella (Dampyr 77-78), que é considerada um dos vértices da saga dampyriana.
Preciso fazer uma observação: Kenshin, que é o elemento decisivo para fazer Harlan ir até o Japão, pouco a pouco, deixa de ser o centro da ação e ao meu ver, foi pouco valorizado (mesmo se Piani inserisse uma cena realmente incomum para Dampyr: Kenshin e a bela Keiko às voltas com um problema culinário na cozinha, também essa variação entre drama e comédia lembra muito certos mangás japoneses).
Agora chegamos nos desenhos e, aqui assistimos realmente uma estréia de altíssimo nível, aquela dede Giorgio Gualandris. Gualandris estreiou no mundo dos quadrinhos com uma recente história de Larry Yama, ou seja, Claudio Nizzi. E o jovem desenhista não decepcionou. O seu traço é eficaz, realístico, observa mínimos detalhes tanto nas cenas externas, quando nas internas, passando pela expressão das faces (ótimo o seu Harlan). Gualandris domina a página Bonelli, demonstrando também coragem de romper o padrão da editora, como acontece por exemplo, na página 67, quando Harlan pula na página para bloquear a Kuchisake-Onna.. espetacular!
Em suma, o grupo de desenhistas trabalhando em Dampyr continua a contar com excelente elementos que poderão dar a contribuição deles nos próximos meses e anos.



Crítica publicada originariamente no blog: https://fumettiavventurarecensioni.blogspot.com

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