sábado, 20 de agosto de 2016


PAIXÃO POR QUADRINHOS por Giancarlo Vidotto: Dampyr e a geografia da dor


Harlan Draka, o Dampyr da homônima série de quadrinhos da Sergio Bonelli Editore, é filho de um vampiro e de uma humana. A sua natureza híbrida - é de fato um homem mas também potencialmente um vampiro - faz com que seu sangue seja um veneno para os mesmos vampiros, cujo o contato tem um efeito corrosivo e incendiário. DAMPYR é uma série de horror com aventura, idealizada e administrada por Mauro Boselli (autor e co-autor de Tex) e Maurizio Colombo. Junto aos seus companheiros de aventura, Emil Kurjak, ex-soldado Sérvio-Bósnio, e, Tesla Dubcek, letal vampira inspirada na cantora Annie Lennox, tem como base, Praga, uma das cidades mais belas e fascinantes do mundo, camuflada numa aura de mistério e romantismo. Mas o romantismo na série de Dampyr acaba aqui.


Os vampiros em Dampyr não são aqueles românticos das modernas sagas literárias e cinematográficas. Ao contrário, são seres potentes e sedentos de sangue, escondidos no meio dos homens desde o início dos tempos. Os Mestres da Noite - este é o nome da casta dominante e originária - são seres solitários, dotados de incríveis poderes, também psíquicos, que permitiram a esses seres de assumirem no curso da história posição de destaque. Somente os Mestres da Noite podem criar outros vampiros, que organizam em bandos e os controlam através de poderes mentais. Também estes ex-homens são potencialmente imortais, mas são obrigados a obedecerem a seus mestres, pois não têm seus poderes, mas sobretudo, não têm resistência ao sol. Por esse motivo, os Mestres dsa Noite não exitam em usar para os seus serviços, serem humanos normais.


Mas como é possível que esta estirpe de vampiros imortais, junto com seus bandos, puderam se misturar aos humanos e nutrir-se do sangue deles sem deixar traços de sua passagem? A resposta está na capacidade deles de se esconderem nos lugares aonde às condições são mais favoráveis, podem influenciar e causarem eles mesmos: conflitos, guerras e tragédias, mas também ambientes caracterizados pelo isolamento e pobreza. Por esse motivo Harlan, Tesla e Kurjak - na missão deles de caçadores de vampiros - movem-se continuamente seguindo todas as pistas que indiquem a passagem destes sanguinários e cruéis seres. Nessas missões são ajudados por Caleb Lost - ser imortal com a face de David Bowie, e, diretor do "Teatro dos Passos Perdidos" - que se serve de informantes espalhados pelo mundo para recolherem notícias úteis sobre potenciais vampiros e outras criaturas malvadas.


A série Dampyr tem uma forte conotação geográfica - bem como, histórico - caracterizada pela representação de lugares, onde ainda hoje, têm guerras e conflitos, situações de exploração, criminalidade, degradação, pequenas e grandes tragédias. Não é por acaso que os protagonistas vêm de países da ex-Iugoslávia, teatro de uma das guerras mais sangrentas e cruéis ocorridas no século passado. Mas são tantos os lugares de dor, muitas vezes esquecidos que caracterizam a nossa Terra, na África, América do Sul, Ásia, mas também nos países mais evoluídos, embora talvez em áreas mais limitadas. No curso dos anos, aos criadores Boselli e Colombo, se juntaram outros autores, que trouxeram novas experiências e sensibilidade, enriquecendo as aventuras de Harlan e pards de experiências ligadas a lendas históricas e lugares muito próximos a nós. A Itália é de fato riquíssima em histórias misteriosas, eventos perturbadores e lendas ligadas ao folclore local.


Um belo exemplo da geografia da dor em Dampyr, pode ser encontrado nas 3 histórias do Maxy Dampyr atualmente nas bancas. Uma edição contendo aventuras bem escritas e bem desenhadas, atraente e prazeirosa de ler, cada uma caracterizando um lugar e um acontecimento histórico. "Caça a Raposa" de Claudio Falco e Arturo Lozzi, narra acontecimentos ligados à Guerra na Bósnia-Herzergovina e em particular ao trágico passado de Kurjak. "Vale da Escuridão" de Luiggi Mignacco e Andrea Del Campo se passa na Itália, no baixo Piemonte, nos confins com a Liguria, onde trágicos acontecimentos ligados à Segunda Guerra Mundial, causam novos delitos e desaparecimentos. "A Klan Vampira" de Nicola Venanzetti e Daniele Statella acontece no Arkansas, no sul dos Estados Unidos, em lugares aonde a escravidão e a Guerra Civil - no passado - e a maldade e negócios - no presente - constituem terreno fértil para os interesses de um potente e cruel Mestre da Noite.


Horror e aventura, mas também muito trabalho de pesquisa, seja histórica, seja documental, para apresentar de modo real e credível lugares e acontecimentos. É uma marca de fábrica da Bonelli, faz tempo, desde quando Gianluigi Bonelli calculava o tempo a cavalo, que Tex percorreria, nos mapas históricos e inseria referências precisas nas suas aventuras. Tradição repassada para o filho Sergio Bonelli, que transferiu seu amor pela Amazônia e a África para as aventuras de Mister No, utilizando o vasto material de suas viagens para escrever as aventuras. Alfredo Castelli, com a criação de Martin Mystère, fez um mecanismo quase científico, fazendo assim a base das aventuras do seu protagonista. Coisa que, em parte, constitui também o corpo das aventuras de Dampyr.


 Dampyr está nas bancas desde de abril de 2000 ("O FIlho do Diabo") e até hoje conta com 197 edições na série regular, 11 Especiais e 8 Maxi. Atualmente está nas nas bancas com a edição 197 - "A Vingança de Serena". Nas livrarias encontramos também um belo volume com encadernação especial com 416 páginas, "Os Mistérios de Praga", que conta algumas aventuras escritas por Mauro Boselli e desenhadas por Luca Rossi e Nicola Genzianella, este último, autor também da belissima capa de "Os Mistérios de Praga", aliás, capa inédita (que pode ser vista na imagem abaixo.
  








 









Artigo publicado originariamente no site: www.100torri.it

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