sábado, 2 de abril de 2016


Dampyr 192 - Na pista de H.P. Lovecraft

Escrito por Giuseppe Lamola e David Padovani

"A Grande Besta" é um número importante para a saga idealizada por Mauro Boselli e Maurizio Colombo, por uma série de razões.

A primeira é a mais evidente e já antecipada pela capa que pela atenta introdução à edição, escrita pelo mesmo Boselli. O inserimento de um novo coadjuvante, que como muitas vezes acontece em Dampyr, se inspira numa figura que realmente existiu: Aleister Crowley. 

O segundo motivo remonta aos pesadelos literários idealizados por H.P. Lovecraft, sempre ponto de referência importante para a literatura (com imagens e sem) que visa a criação de mundos horripilantes.


Enfim, o último (não o último), a relação entre Boselli e o desenhista Arturo Lozzi, que nos oferece uma nova e inédita declinação da tendência gráfica bonelliana, inserida no sulco das inovações da linguagem dos quadrinhos da editora.

Aleister Crowley, "a grande Besta"

"Senhor Crowley, que coisa passa pela sua cabeça,
Senhor Crowley,falava com os mortos
O seu estilo de vida me parece tão trágico
Com toda esta capacidade de impressionar
enganou as pessoas com magia
esperou a chamada de Satanás."
Mr. Crowley, Ozzy Osbourne

Figura histórica controversa, Edward Alexander Crowley, conhecido como Aleister Crowley (1875-1947), foi definido "o homem mais malvado da Inglaterra" e também "a Grande Besta". Além de ser conhecido como escritor, poeta e filósofo, foi também um dos pioneiros do alpinismo, entre os seus interesses estava o exoterismo e as religiões ocultas.

Um personagem tenebroso e portanto, decididamente apto a ser incluso no elenco de Dampyr.

Na história em questão, o seu percurso se cruza com aquele do pérfido Sho-Huan, entre os antagonistas mais perigosos de Harlan Draka e dotado do poder de atravessar com facilidade as barreiras que separam os mundos do multiverso. Sho-Huan propõe a Crowley de colaborar, e vê nele um professor, bem como uma versão sua mais velha por causa de uma certa semelhança.

O confronto entre os dois e Dampyr teoricamente é o condutor central da história, mas na verdade é pano de fundo. Boselli prefere concentrar-se nos coadjuvantes, sobretudo o retorno de alguns aliados importantes de Harlan, como Ann Jurging e sua fascinação pelos livros de H.P. Lovecraft.

"Entre infinitos universos, errantes e nebulosos..."

Os lugares das histórias Lovecraftinianas se integram no multiverso dampyriano.

Com um clássico "justificativa a posteriori" (expediente tipicamente utilizado por Alfredo Castelli em Martin Mystere), durante o episódio, vem explicado que o escritor de Providence era "um dos poetas que sonham os mundos intermediários". 
As descrições dele nos reportam a cidades imaginárias como Kingsport, Innsmouth e dunwich, não senão o fruto de experiências oníricas com as quais entidades sobrenaturais se comunicavam com pessoas particularmente receptivas, o que usam os escritores de romances de horror.

Aquele nos confrontos do "visionários de Providence" é uma homenagem coerente com o imaginário da série idealizada por Boselli e Colombo. Uma idéia intrigante é aquela de representar no curso da história, nem tanto uma singular cidade de derivação lovecraftiana, como um mistura de muitas cidades, mas construir um lugar metafísico em que concretiza um lúgebre aglomerado urbano, cuja o nome, no fim das contas, não é realmente relevante.

A continuidade e a "evolução" das páginas com poucos quadrinhos

"Difícil de encontrar o fio da meada embolada"

Estas acima, mais que as palavras de uma das tias de Harlan, antigas tecelães dos destinos e protetoras de Dampyr, sempre pareceria uma reprodução dos pensamentos do leitor ocasional.

Cruz e delícia de todo apaixonado, a continuidade narrativa nas obras sequenciais tem inumeráveis recursos e outros tantos defeitos. Para uma série mensal com quase duzentos números, levar avante uma continuidade coerente e densa de "agitos", pode-se revelar um recurso, mas também um fardo. Assim, torna-se necessário, ocasionalmente, renovar várias linhas narrativas deixando em suspenso no articulado fluxo narrativo da série, histórias já contadas.

Tal necessidade tem o risco de arrastar, às vezes, a história já explicada, entediando tanto o leitor apaixonado que segue a série há muito tempo, quanto o leitor ocasional, que vê sobrecarregar a história narrada em detrimento à fluidez  narrativa. Nesta edição Boselli e Lozzi, evitam de maneira eficaz tais situações ao realizarem várias páginas com poucos quadrinhos, que "agilizam" a leitura das páginas pelas de continuidade.

Examinando com atenção estas páginas com poucos quadrinhos nós percebemos que se trata de qualquer forma de clássicas páginas estruturadas sobre típicas três tiras de forma invisível, e se passa de uma para outra sem problemas, sem interrupções.
Este anulamento dos espaços brancos se de um lado representa, como dito, uma declinação de uma grade "rígida", de outro lado, confirma a eficácia narrativa da Bonelli.

Todas as páginas com poucos quadrinhos, não apresentam nenhuma dificuldade de leitura, o desenvolvimento da história permanece claramente em cada uma delas. Ao mesmo tempo, estas variações sobre o tema quebram o ritmo estrutural do restante da edição e respondem à dupla exigência de manter em evidência às paisagens fundamentais da história e moderar o efeito explicativo das mesmas sequências.


A contribuição de Arturo Lozzi

A contribuição gráfica de Arturo Lozzi nesta história é particularmente convincente. Analisando seu percurso artístico, a partir de Lazzarus Ledd de Ade Capone até chegar a esta edição, evidencia-se uma notável maturação estilística.

O trato de Lozzi é robusto e granítico, particularmente eficaz em paisagens nebulosas e relembra em mais de um ponto aquele dos mestres do horror em quadrinhos, como Bernie Wrighston.

O uso dos volumes e massas bem definidos, a alternância dos negros plenos e mais fundo de intervalo mínimo, demonstram uma inteligente padronização do meio técnico da parte do desenhista que, sobretudo nos primeiros planos, parece ter feito sua lição com um outro importante autor do quadrinho norte americano: Joe Quesada.

Fechando a edição no final da leitura, fica a sensação de encontrar-se diante de uma das pilastras fundamentais da saga dampyriana criada por Boselli em todos esses anos.
Uma história convincente, acima da média da série, que nos leva adiante na complexa trama horizontal e introduz elementos que certamente terão um peso relevante no prosseguimento da mesma.



Matéria publicada originariamente no site: www.lospaziobianco.it

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