As vingadoras (junho 2023) / crítica
Por Paolo M.G. Maino
Giuseppe Andreozzi e Claudio Falco através dos desenhos de Andre Del Campo nos transportam aos estados do Sul dos Estados Unidos e fazem-nos respirar novamente o calor e a umidade daquelas terras e a sua ligação ancestral com lendas e mitos que se baseiam nas antigas tradições das populações africanas deportadas durante o terrível comércio de escravos.
Essas zonas, de uma forma dampyriana, nos remetem a um dos primeiros mestres da noite que Harlan teve que enfrentar: Legba (Dampyrs 15-16).
Mas vamos em ordem!
AS VINGADORAS - DAMPYR 279
Argumento e roteiro: Giuseppe Andreozzi e Claudio Falco
Desenhos: Andrea Del Campo
Capa: Enea Riboldi
Uma das características peculiares da série Dampyr é a atenção à continuidade que por um lado deve ser respeitada por quem escreve uma história e por outro lado não deve ser tão rígida a ponto de perder a possibilidade de adquirir novos leitores ou ocasionais (como acontece frequentemente durante os meses de verão no período de férias).
As vingadoras é um ótimo exemplo dessa característica da série. O leitor de longa data poderá desfrutar do retorno de lugares e personagens daquele que já é um episódio clássico: a dupla história de Boselli e Dotti (os mesmos autores do Texone recém lançado nas bancas) que contou com o mistérioso fim da banda de rock Swamp Lizards. No entanto, o leitor mais casual (ou compreensivelmente pode ter esquecido essa história) pode desfrutar de uma história cheia de ação e mistério, componentes típicos do terror Dampyriano.
Tendo como pano de fundo os ódios raciais nunca adormecidos, tema sempre observado e proposto com atenção pela editora milanesa cujos heróis sempre defenderam as minorias e lutaram contra todas as formas de discriminação (afinal, até a história do Texone desse ano toca nesse assunto), Andreozzi e Falco combinam as suas interpretações das figuras lendárias do folclore dos estados do Sul, ou seja, as Boo Hags, as belas e implacáveis vingadoras do povo Gullah que dão o título ao álbum. Se trata de uma variante do gênero vampiro, sobretudo pela forma como a vítima drenada em vez de sangrada.
Obviamente como já antecipei, se existem vampiros não-mortos, deve haver (ou houve) um Mestre da noite e na área o mais célebre foi justamente Legba. Novas idéias e referências à continuidade Dampyriana estão, portanto, intimamente ligadas e oferecem vários planos de leitura.
O álbum é repleto de cenas de ação, tiroteios, brigas com punhais, garras e presas. Um coquetel habilmente dosado no roteiro do Doutor Falco e que é oferecido pela habitual excelente atuação de Andrea Del Campo que se sente em casa nas matas e pântanos do profundo sul americano e como sempre nos oferece uma saborosa amostra de dinamismo e sinuosidade.
Belíssimas as Boo Hags, novas sereias que atraem e matam, símbolo do desejo de vingança tanto por serem figuras do folclore de povos afro-americanos brutalmente escravizados, como por serem também figuras de redenção feminina.
Encerro citando duas escolhas que me conveceram particularmente: a figura de Miss Robinson que no roteiro de Falco se torna um oposto não violento das Boo Hags. Uma escolha narrativamente sensata que responde também a certos valores que os quadrinhos Bonelli sempre transmitiram: são obras de entrenimento, mas são também uma oportunidade de comunicar respeito e de potencializar o diálogo. E aí na cena final gostei do uso de um símbolo da Guerra Civil Americana: o canhão!
E com isso, encerramos a resenha do Dampyr de junho, aguardando muito em breve o de julho onde nos encontraremos em uma história de fantasmas dada a presença da médium Maud logo na capa.
Crítica publicada no site: www.fumettiavventura.it
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