Título: Dampyr Color - A biblioteca do horror
Textos: M. Boselli, M. Colombo, G. Giusfredi
Textos: M. Boselli, M. Colombo, G. Giusfredi
Desenhos: Vários desenhistas
Cores: Alessia Pastorello, Matteo Vattani
Capa: Matteo Vattani
Páginas: 98
Edição: Bonelli, 07-2021
O Maxi dampyr deste ano se propõe na nova fórmula antológica do "Dampyr color", com seis histórias todas a cores, realizada por vários autores, cuja narrativa terá pano de fundo, o Teatro dos Passos Perdidos. Como Mauro Boselli explica no posfácio, as histórias estão ligadas a escritores do gênero fantasia e seus escritos, confirmando mais uma vez a ligação entre Dampyr e o mundo da fantasia.
PROLOGO: O ÚNICO (Boselli/Rossi/Pastorello)
Harlan conduz Ambrose Bierce em uma particular sala da Biblioteca dos Passos Perdidos, onde estão guardados os livros nunca escritos pelos autores preferidos de Nikolaus, dos os dois leem algumas histórias.
Na primeira destas, temos como protagonista o próprio Bierce, que no junho de 1864 é tenente do exército nortista na Guerra da Secessão. Durante a batalha de Kennesaw Mountain, o avanço das tropas é impedida por um soldado sulista, que se aproxima das linhas inimigas com desprezo pelo perigo para indicar seus movimentos aos seus. Será Bierce quem descobrirá porque este soldado é invulnerável.
Uma história clássica de fantasmas em um cenário de guerra, como desenhos realistas e sombrios de Luca Rossi, e as cores de Alessia Pastorello carregadas e noturnas.
TSATHOGGUA (Colombo/Messalis)
Em 15 de março de 1937, o pastor Abramos Coulson foi ao hospital encontrar Lovecroft, seu mentor, porque a marca de Tsathoggua em seu braço começou a sangrar novamente. A marca foi gravada nele quando menino, em uma noite trágica, quando sua família foi massacrada por monstros. Mas enquanto o Solitário de Providence está morrendo, Abramus é arrastado para o mundo estranho de Tsathoggua, a situação parece desperadora.
Carinhosa homenagem de Maurizio Colombo a HPLovecroft, numa história onírica e visionária que nos leva a um mundo inquietante. Os desenhos de Helena Masselis são evocativamente efêmeros, com traços sutis e cores vivas.
O CASTELO NOS APENINOS (Giusfredi/De Stena/Vattani)
Durante uma tempestade,Edgar Allan Poe encontra abrigo em um antigo castelo desabitado nos Apeninos. No quarto, ele fica impressionado com o retrato oval da bela Camilla dei Ponziani, esposa do pintor Andrea, que era amigo do Cavaleiro de Roccabruna. Quando ele morreu, o Mestre atendeu ao pedido de Andrea, e Poe também teve a oportunidade de conhecer Camilla.Uma história romântica, com solares assombrados, amores além da tumba, execuções póstumas, solidão, temas primorosamente típicos de Boston, que Giusfredi consegue lidar com destreza, criando uma história atmosférica. Os desenhos sombrios e evocativos de Francesco De Stena são ainda mais carregados de cinzenta melancolia pelo colorido de Matteo Vattani.
DANVERS MANOR (Boselli/Scibilia)
Uma noite, o escritor Edward Benson tem um pesadelo recorrente, no qual ele se encontra em um cemitério abandonado em uma igreja em ruínas. Em um sonho posterior, ele lê uma placa o nome de Daniel Danvers, um amigo de faculdade dele, que um verão desistiu de visitar a propriedade Tywin-on0the-sea. Sua amiga Mabel o aconselha a ir agora, e Benson encontra Daniel lá, que não envelheceu um único dia.Nessa história, Boselli trata com delicadeza da difícil questão da homossexualidade, até a aceitação final do protagonista de sua própria diversidade, em um momento em que não era algo socialmente aceitável. Espetaculares os desenhos de Alessandro Scibilia, com sua profundidade pictória, que retratam maravilhosamente os verdes prados ingleses, as falésias, as casas e vilas inglesas, mas também os personagens muito vivos, retratados em imagens quase fotográficas.
AS SETES FACES DE MILÃO (Giusfredi/Cropera/Pastorello)
Em carta a Caleb Lost, o jornalista Giovanni Drogo conta a convulsão em sua vida nos últimos dias. Desde que conheceu um morador de rua a quem não podia dar esmola, passou a ver rostos monstruosos por toda parte: uma prostituta, um vizinho, um policial, a faxineira porque quem está apaixonado e até seu patrão. Tudo acontece, segundo o que o vagabundo lhe disse, pelo fato do poder ver as "sete faces de Milão", habilidade que marca seu destino.
Ao homenagear Dino Buzzati, Giusfredi apresenta-nos uma bela e inquietante história, em que os tiques e as neuroses do protagonista são ampliados a ponto de (talvez) levar à loucura. Cenas da vida real, na redação, na rua, com os vizinhos, dão veracidade à história, tornada ainda mais envolvente pela narração em primeira pessoa. Entre vistas milanesas e rostos monstruosos, alternando entre realismo e cenas fantásticas, Michele Cropera traz adequadamente a história em imagens, com uma excelente escolha de planos.
PRISIONEIRO DE SARGAÇOS (Boselli/Baggi)
Em 1918, durante a Primeira Guerra Mundial, o Tenente Willian Hope Hodgson estava em Ypres, Flanders, quando dois soldados, conhecendo seus contos fantásticos, se aproximaram dele. Hodgson conta a eles sobre sua desventura no cargueiro "Homebird", a caminho da Jamaica, que ficou preso nas algas do Mar de Sargaços. Havia um outro navio imóvel na água, para o qual foi enviado um bote salva vidas. Este nunca chegou a seu destino, pois foi atacado por uma lula gigante, a que se seguiu o assalto de um exército de homens-peixe. Milagrosamente salvo, Hodgson juros nunca mais colocar os pés em um navio.Boselli carrega essa história com uma sensação de ameaça iminente, que leva a uma invasão perturbadora das profundezas do mar, narrando a ofensiva alemã da Grande Guerra: o horror pode vir de uma natureza implacável, assim como do homem.
Os desenhos são espetaculares, muitas vezes transbordando do quadrinho, mesmo com três desenhos por página inteira, ilustrações reais. Inquietante o exército de homens peixes retratado por Alessandro Baggi, um mestre em desenhar monstros.
EPÍLOGO (Boselli/Genzianella/Pastorello)
Na biblioteca do Teatro dos Passos Perdidos caem das prateleiras alguns livros, de onde espiam sedutoras mulheres-Aranhas, Carmilles e gigantescos insetos kafkianos. Harlan e Bierce percebem que já folearam livros suficientes para o dia.Concluindo, o Dampyr color se revela ser um álbum muito bonito e muito especial. A única citação possível é que os desenhos espetaculares sofrem um pouco com o formato clássico Bonelli. Eles mereciam um tamanho maior e um papel revistido, para serem apreciados em todo o seu esplendor.
Crítica publicada no blog: www.ilcatafalco.blogspot.com
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