quinta-feira, 5 de julho de 2018


Quadrinhos, Mauro Boselli: "Dampyr um herói complexo". A entrevista

Um herói filho de uma guerra no coração da Europa e que deixou feridas ainda abertas, uma criatura suspensa entre o nosso mundo e aquele dos vampiros, os Mestres da Noite, entre seu pai Draka, que o gerou, e os humanos que o criaram. Junto a ele, Tesla, uma vampira renegada e Kurjak, um ex-soldado, que combatem junto com ele uma guerra entre o bem e o mal, humanos e vampiros, anjos e demônios.

Harlan Draka, Dampyr (Sergio Bonelli Editore), é o personagem criado por Mauro Boselli e Maurizio Colombo, nascido com o novo milênio e que está próximo de conquistar a maioridade. Ele fica raízes na história e no folclore europeu, um personagem de grande carisma, extremamente fascinante pela sua natureza dupla, homem e vampiro, sempre a procura de novos desafios entre mil perigos, e que tempo base uma cidade mágica por excelência. Praga.

Ao longo dos anos Harlan cresceu não ficando prisioneiro do seu papel de caçador de vampiros, o seu universo narrativo expandiu-se para uma infinidade de cenários, que o faz mover-se com seus pards em constante evolução, para sustentar as tramas de grande estrutura.

"Se penso que Dampyr era para ter sido uma mini-série - conta Mauro Boselli - ainda fico estarrecido com o fato que os cenários de fundo tomaram uma proporção além da  medida, não somente no nosso mundo, mas também outros universos. Harlan que no primeiro número não conhecia ainda a sua verdadeira natureza e que no número 100, de que falamos a respeito na entrevista de 10 anos atrás, enfim interagia com seu pai Draka, agora não é somente mais um caçador de monstros e vampiros, mas transformou-se em um herói complexo, fruto de uma série de macrotramas que, de tempos em tempos, se refere a um grupo de amigos e companheiros de aventuras."

Harlan, Tesla e Kurjak são personagens de grande estrutura, mas sobretudo versáteis, vivos, ao ponto de poderem se mover sem se distorcerem em contextos extremamente variados, usando as oportunidades oferecidas por uma galáxia de coadjuvantes e vilões extremamente variados.

"Sim - confirma Boselli - esses personagens, que no curso dos anos se juntaram ao trio originário de protagonistas, e deram a possibilidade de expandir a nossa saga. Se Caleb Lost e Nikolaus e os seus respectivos aliados celestiais e infernais estavam previstos no projeto original, certo que não imaginávamos que por exemplo, a vidente Ann Jurging que aparece pela primeira vez no número 13 "A Ilha da Bruxa", seria transformada depois em peça fundamental, ou que Araxe e Amber, duas Mestres da noite, se aliariam com os nossos amigos, ou que teríamos conhecido um pouco de cada vez, as diversas personalidade dos Príncipes do Inferno. Um mundo extremamente variado e complexo, tanto que já estabelecido que a complexidade do mundo de Dampyr é ao mesmo tempo uma cruz e deleite para os leitores e para o autor e editor, ou seja, eu mesmo."

Se é verdade que a mitologia de Dampyr se apresenta vasta e articulada, é também verdade que um leitor não habitual pode ter a oportunidade de se deixar levar por uma narração rica e densa, capaz de variar entre o folclore local e mitologia nórdica sem perder o carisma. Que Mauro seja um narrador capaz, se compreende isso vendo a grande atenção em cada história, mas sobretudo, no modo que consegue alternar a Praga de hoje com a fronteira de Tex, a série do qual é responsável e, como em Dampyr, também escreve as histórias.

Tex e Harlan são personagens diferentes somente na aparência mas que têm muito mais pontos em comum que diferenças. "Já disse várias que tenho predileção por heróis clássicos. Mesmo adorando Ken Parker e Dylan Dog (e teria gostado muito de escrevê-los) sempre fui atraído, dada a minha formação profissional sobre a sombra tutelar de G.L.Bonelli, por personagens aparentemente todos de um peso, como Sam Spade, Bogart, Tex, Ulisses, Orlando e companhia. Notará que alguns são falhos, por exemplo, Orlando morreu louco, Bogey sofre por amor e por aí vai. Tex, com alguns distinções, é ao contrário, uma rocha inabalável. Da parte deles, o trio dos aventureiros do horror de Dampyr, Harlan, Tesla e Kurjak, repetem um pouco o esquema dos Quatro Mosqueteiros, o dos quatro pards de Tex, e respeitam o esquema dos heróis sem dúvida e sem temores; isso não impede que possam ter nuances interessantes, assim como D´Artagnan por exemplo, que elimina os homens do cardeal, mas é abrandado por Costanza, ou como Tex sofre pela morte de Lylith. Personagens complexos mas, em suma, não anti-heróis, heróis com as certezas deles, um aspecto indubitavelmente inquestionável para os leitores. Dizer então como se passe de um para o outro, me levaria muito longe. Digamos que para Dampyr não existem fronteiras e eu posso explorar meus interesses e conhecimento humano, enquanto Tex é um homem da fronteira e para ele conta muito respeitar uma determinada data e um determinado lugar. A isso se junta o detalhe que Dampyr foi inventado por mim (com Maurizio Colombo) e por esse motivo nos seus confrontos tenho liberdade absoluta. Tex ao contrário, não é um personagem meu e devo tratá-lo com respeito". Tex é - segundo alguns - uma rocha que não se escreve, mas se faz escrever. 

Falando de mundos em colisão, foi interessante, o verão passado, ler o encontro entre Harlan e Dylan Dog, e ver em confronto as duas diferenças deles - herói e anti-herói - na qual Boselli não escondeu um certo divertimento em brincar com o personagem de Sclavi, Groucho sobretudo: "Sim, me diverti e, teria prazer, se for possível, que Dylan aparecesse ocasionalmente, como uma participação especial em outras histórias de Dampyr. Veremos se, quando e como, será possível. O encontro deles na verdade o fizemos quase por brincadeira e acredito, ficou razoável."

Sobre a possibilidade que os dois possam voltar a terem seus caminhos cruzados, Boselli foi equilibrado: "Enquanto isso neste verão sai uma edição especial que contém as duas aventuras", anunciou, mas sobre a vontade explorar os possíveis cruzamentos entre os companheiros de editora, muito é contado das histórias anunciadas para o futuro próximo, sobre o encontro em branco, preto e vermelho entre Dylan Dog e Morgan Lost no qual Claudio Chiaverotti já está trabalhando.

Voltando ao presente, com Harlan, Boselli mostra não somente um personagem em constante mudança, mas também uma certa vontade de deslocar os leitores. No múmero passado, o 218, pela primeira vez, Tesla é o centro da história (e que história), uma história de grande impacto e com um final dramático, e com relação ao Dampyr que saiu esses dias, li antecipadamente, e que graças às páginas realizadas pelo Mestre Roi, um fora de série, mantém altíssima a tensão da primeira a última página.

"Danças Macabras", o 218, é uma daquelas histórias que servem para por os refletores sobre os coadjuvantes (neste caso em Tesla). O diabólico Mestre Henzig, diabólico e cruel, serviu disso para agir, uma homenagem a alguns clássicos. No que se refere ao triângulo Kurjak, Tesla e Samael - a bela vampira está dividida entre o amor de seu soldado e a paixão de um amesha, irmão de Caleb, mas senhor infernal de grande fascínio -, tem tempo que queria resolvê-lo e Henzig me deu a oportunidade."

O resultado é um álbum, cujo título é Tudo por Amor, no qual os nossos devem enfrentar uma das provas mais duras, uma viagem no tempo e espaço a procura da verdade ainda que temida. Um álbum que, entre mil referências e reviravoltas, segue a anunciar alguma coisa que preocupa os leitores; há muito tempo há demonstrações sobre o estado de saúde de Kurjak, inevitável a pergunta muda de acordo com a ocasião, cuja resposta faz perder o fôlego. 

"Os leitores fazem bem em ficar preocupados - anuncia Mauro - porque Kurjak é o único personagem humano do trio e superou, de verdade na vida, os sessenta. A sua tosse é sintoma de uma grave doença. Veremos que coisa nos reserva as próximas aventuras."

Além deste anúncio que promete novidades imprevisíveis, e que se refere aos presságios ameaçadores do Livro do Tempo Perdido, o Dampyr Especial 11, que contou sobre possíveis futuros para os nossos, e tem muito mais. 

Bom - conta o seu criador e curador - teremos no outono uma especialíssima edição sobre Lucca, a cores, um volume que sairá tanto na série regular quanto num encadernado e que terá quatro desenhistas da série regular e mais nove ilustradores famosos", e que já se anuncia como um dos produtos mais esperados na próxima Luca Comics & Games. "Além disso - anuncia - Harlan e os seus estão mergulhando na guerra contra os Grandes Antigos de Lovecraft". Uma antecipação que confirma como Dampyr não é somente um personagem das mil oportunidades narrativas, mas que, sobretudo, é capaz de explorá-las sem perder o fascínio. Uma declinação do horror capz de renovar-se continuamente, ficando fiel à linha traçada há dezoito anos.

Entrevista concedida a Francesco Cascione



Entrevista publicada originariamente no site: www.mentelocale.it

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