sábado, 9 de janeiro de 2016



COMO VOCÊ COZINHA OS MATADORES DE VAMPIROS

Entrevista com Giorgio Giusfredi


concedida a Paolo Giuducci

Pode-se indistintamente cozinhar histórias e escrever pratos. Podendo-se fazer preceder as palavras de ordem: servir com gosto e paixão. Sim, porque essas são as duas grandes paixões de Giorgio Giusfredi (nascido em Lucca, 1984, cozinheiro, escritor, roteirista, colaborador da Barnabooth e da editora Multiplayer), a narrativa desenhada e a gastronomia. E o seu objetivo declarado é fazer os leitores salivarem. Giusfredi, no momento está em Zeno Q.B. (uma tira) desenhado por Paolo Bacilieri para a Glamour; no Magazine Bonelli (nova roupagem para os almanaques); e com Dampyr, personagem no qual é um pouco, o braço direito do criador do personagem, Mauro Boselli, onde há pouco escreveu um encarte inédito, ambientado em Rimini (quarta publicação em razão do festival internacional Cartoon Club).
Giorgio, onde nasceu sua paixão por quadrinhos?
Aprendi a ler com Mickey Mouse, como muitos italianos, mas o verdadeiro amor surgiu adquirindo por acaso, uma edição de Tex. Era a primeira metade dos anos 90 e eu assistia com minha avó, os filmes de western que passavam na TV no início da tarde. Por isso, nas bancas, cavalos, cowboys e pólvora. Era uma das primeiras capas de Claudio Villa, a história era de Boselli. Me recordo perfeitamente que não poderia existir nada de melhor - e penso ainda. Era lindo procurar os números atrasados. Quando saiu Dampyr, nunca imaginei que trabalharia com um dos seus "pais": para mim, então, dois autênticos rockstars! Os matadores da Rua Buonarroti me abriram para a leitura de outros quadrinhos. De todos, quero citar Sandman de Nail Gaiman. Sempre achei a riqueza narrativa dampyriana similar àquela do personagem da Vertigo.

De leitor a autor. A estreia foi com Zeno Q.B.
Trabalho com Zeno Q.B. nas cozinhas. A primeira história do cozinheiro criado por mim e por Nicola Rubin para Glamour, saiu somente em 2012, quando eu já tinha 28 anos...

O aprendizado durou pouco. Dois anos mais tarde já estava no mundo dos "grandes" da Bonelli. Em dupla com Maurizio Colombo, assinando "O Senhor da Ilha" um episódio de Zagor. Como chegou na Bonelli? 
Por mérito de Graziano Frediani, jornalista e diretor responsável do Bonelli, além de ser o responsável por várias revistas bonellianas como o último nascimento, o Magazine. Há muitos anos Graziano vive em Milão, mas de vez em quando volta as suas origens, em Lucca. Sua mãe mora perto da minha casa e quando soube que trabalhava na Bonelli, decidi contar-lhe todo o meu entusiasmo pelos quadrinhos. Comecei a frequentar a redação, propondo as minhas coisas, em 2007, Saía de Lucca uma vez por mês. Depois, uma vez a cada 15 dias. Depois uma vez por semana. Por um ano, partia às 5h (cinco horas) da manhã e ia até tarde e voltava na manhã seguinte. No ano seguinte, dormia uma vez por semana. Então, numa manhã Boselli me disse: "Escuta, uma vez que, está sempre por aqui, é melhor que faça alguma coisa!" e, me admitiu como assistente, de acordo com Davide Bonelli e Mauro Marcheselli. Foi uma manhã muito importante para mim, creio que isso foi em 14 de fevereiro de 2014... "Boss" é um ótimo mestre, se preocupa muito com os seus colaboradores e eu não sou exceção. Por isso, me enfureço, quando saem entrevistas ou declarações dando zero para Boselli ou a Editora Bonelli. Eu que trabalho lá, posso assegurar que respeito, profissionalismo e correção para com os dependentes e colaboradores como na Bonelli, não existe no mundo e me rendo, sou um privilegiado.

E transformou-se numa espécie de "mentor"? 
Maurizio (Colombo) era uma dos meus escritores preferidos.Fiquei pasmo quando lhe conheci e entendi que é um homem genial e gentil. Provavelmente lhe pareci simpático. Compartilhamos a paixão pelo cinema, pelo western, pelo noir, pelo horror (e tantas outras coisas) e, uma das primeiras coisas quando nos vimos, soltou sem querer a seguinte frase: "Se tem um argumento, te ensino a fazer o roteiro!"... Eu entendi que era verdade, e, infelizmente para ele, levei ao pé da letra. 

E foi transferido de Zagor a Dampyr. Da aventura para os vampiros. Se bem, que eles estão presentes nas páginas do Espírito com a Machadinha.
Dampyr é um dos meus personagens preferidos. Agora que trabalho com Boselli, não posso incomodá-lo, porque me permite escrever. Na realidade, é graças à gentileza de todos os bonellianos, se um jovem como eu (posso me definir ainda como tal, também minha mãe diz que estou na idade de casar), consegue escrever algumas páginas - Moreno Burattini me acompanhou muito e, espero ainda escrever um Zagor com ele - que aos olhos de quem está de fora, pode parecer fácil, mas necessita-se de muita bagagem. E ainda acredito que não terei o talento dos meus mestres. Assim, passei da aventura de escrever uma história à tentativa de criar outras, sugando como um vampiro, quando possível, o sangue do conhecimento de quem me ajuda.

O sucesso planetário de "The Walking Dead" reacendeu os holofotes sobre os quadrinhos de horror. O que pensa? 
Penso que definitivamente foi uma coisa boa. Houveram outras ações que estimularam leitores e espectadores. Sobretudo, a série se tornou um sucesso, mas para mim é mais emocionante um filme à série. As outras não têm o charme épico ou trágico que de qualquer forma uma história ou uma série de histórias devem ter para atrair a minha atenção. 

Retornamos a Dampyr. Três bons motivos para não perder de vista Harlan Draka.
Porque Mauro Boselli é um grande narrador (e de fato, todos os autores são muito bons, caso contrário, não passariam pelo crivo dele). Porque - espero - Colombo está voltando a escrever. E porque, os desenhistas de Dampyr valem o preço da revista. E também porque os intrincados nós da série estão se desatando, enquanto criamos outros.

Tem liberdade sobre o personagem. Qual dos coadjuvantes transformará em protagonista numa aventura? 
Tesla, obviamente. Mas já o está fazendo Colombo. Para uma história que sairá no novo Dampyr Magazine, ao longo de 2016. Mas também Kurjak, Draka... Nikolaus, porque não? Aff, mas quantos belos personagens tem Dampyr?

Qual vilão da série você prefere? 
Também nesse caso são muitos, belíssimos. São Mestres que deixam marcas. Não cito nenhum nome, mas digo que um dos meus preferidos, criado por Colombo, o veremos novamente em uma história escrita por mim, que estão desenhada por Michele Cropera. Enquanto um outro vilão, cuja a primeira aparição foi numa aventura em sequência, tatuada na minha memória, retornará no número 200, escrito por Boselli e desenhado por Luca Rossi, em novembro. As primeiras páginas são de tirar o fôlego.

Dampyr é ação, mas também fascínio. As ambientações, especialmente às góticas, influenciam muito. Onde gostaria de levar Harlan para viajar? 
Quer que eu te conte os roteiros antes que o "Chefe" os veja? Estou trabalhando numa história. A ambientação é segredo, senão revelo tudo... E tenho muitas outras idéias, mas esperarei o juízo de Mauro, para avançar. 

Entretanto entrou em ação numa cidade praiana e ensolarada como Rimini...
A aventura se passa à noite e é plena de monstros e cosplayers. E, sim... acontece durante a Riminicomix! Maurizio Rosenzweig foi fantástico ao mesclar tintas escuras e a atmosfera de festa de férias. 

Como nasceu essa aventura? E sua parceria com Maurizio?
Mauro me perguntou se poderia escrevê-la, e, não pensei duas vezes. Ele me sugeriu os personagens e do que deveria falar: ligar duas tramas dampyrianas. Eu pedi a Rosenzweig e ele colocou cenas "com sua marca registrada", pois aquilo que tinha em mente, seria o estilo dele. Ele deu conta do recado. Ele foi excelente. Posso dizer que ao menos no que diz respeito aos desenhos, esta pequena aventura conseguiu atingir seus objetivos. Mas os leitores me dirão quando tiverem com a edição nas mãos, mas Maurizio de fato fez um trabalho maravilhoso, na minha opinião.

É um desenhista perfeccionista ou deixa espaço para o desenhista?
Sou muito, muito perfeccionista. (da escola Boselli-Colombo), mas me assombro prazeirosamente com as soluções encontradas pelos desenhistas que, seguramente têm muito mais experiência do que eu.

Harlan e seu pai Draka. Se fosse Freud a escrever...
É a relação mais bela e complexa da série. Eu também, como todos os leitores dampyrianos, estamos ansiosos de sabermos sempre mais. Se fosse Freud, colocaria a culpa na mãe morta e o déficit de acompanhamento. Não que as três velhas tias não fossem boas o suficiente - aaah - na versão jovem, se me entende!


Entrevista publicada na Revista de Quadrinhos Italiana Fumo di China nº 240/241.

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