segunda-feira, 2 de junho de 2014


Sangue novo para Dampyr!
Encontramos Daniele Statella, nova aquisição "Dampyriana", que fará sua estréia na edição que vai para as bancas em 05 de junho - "Jovens Perdidos".


Se é apaixonado pelos quadrinhos populares italianos, sobretudo os considerados "bonellaides", o nome de Daniele Statella não será novidade: tantos são seus desenhos, no curso dos últimos anos, a serviço das publicações da Star Comics e Eura Editoriale. E agora aportou em Dampyr, com uma história (nas bancas em 5 de junho). Conseguimos que nos contasse coisas de seu passado, das suas "origens" quadrinhísticas e de suas paixões.

Quando começou a desenhar quadrinhos? 
Desde de pequeno. Os outros sonhavam em ser astronauta, eu, sonhava em desenhar quadrinhos. Lia, como todos, Mickey e depois Homem Aranha, os Quatro Fantásticos, etc.

Da estante da livraria de meu pai roubava as edições de Tex e Zagor, que depois comecei a colecionar. Adorava e adoro tudo relacionado ao gênero western e redesenhava as histórias do Ranger em um caderno, do qual destacava a capa para realizar histórias desenhadas por mim, a lápis, sobre as folhas pautadas. Tinha treze anos, quando um dia, passando por Milão com meu pai, ele me levou para visitar a redação da Bonelli, porque sabia que meu sonho era se tornar desenhista de quadrinhos. 

Na Rua Buonarroti veio abrir a porta, um jovem redator, que me aconselhou a terminar os estudos e continuar a desenhar. Um dia, então... quem sabe... talvez... Posteriormente, descobri que aquele redator era Mauro Boselli. Se segui esse caminho, em parte também por culpa dele.
Auto-retrato de Daniele Statella

Quais são os autores que influenciaram seus gostos e seus traços? 
Há 22 anos me inscrevi na Escola de Quadrinhos de Milão e devo dizer que os professores que me influenciaram foram: Pasquale Del Vecchio (que na época desenhava Nick Raider) - de quem apreciava a linha clara - e Alessandro Baggi, de quem admirava a loucura criativa. Na escola, naturalmente, tive meios de conhecer os trabalhos de mestres dos quadrinhos mundial e aqueles que mais gostei, só para citar alguns: Moebieus, Magnus, Andre Pazienzia, Sergio Toppi, Alex Raymond, Alex Toth, Jack Kirby, etc.

Mas se devo pensar quem realmente influenciou o meu modo de desenhar não posso deixar de citar os desenhistas da Bonelli, primeiramente entre todos, Claudio Villa, que eu tive a oportunidade de conviver e por desenhos (depois contarei a participação dele em um filme western horror que eu dirigi). Os nomes são tantos: Giovanni Ticci, Fabio Civitelli, Briuno Brindisi, Angelo Stano, e os mais recentes Massimo Carnevale, Corrado Mastantuono, os irmãos Cestaro, Stefano Andreucci, Majo...

Desenhar quadrinhos é a minha paixão, antes ainda que uma profissão! Tenho ainda tanto para aprender e quando vejo as páginas desses grandes desenhistas me sinto milhas e milhas deles, mas é lá que quero chegar. Nem tanto desenhar esse ou aquele outro personagem. Certo, desenhar Tex é o meu sonho guardado na gaveta, é nisso que miro e ser tão bom quanto aqueles desenhistas que estimo no trabalho e que para mim são atualmente inatingíveis. Mas chegarei lá!
Conte-nos sobre suas origens e experiências, que o leveram a realizar sua primeira história de Dampyr. 
Depois da escola, em 1996, participei de um concurso para a revista musical "Tutto", cujo prêmio era um "teste" para a Bonelli. Foi assim que encontrei Mauro Marcheselli, que então era responsável por Dylan Dog. Era ainda muito imaturo, mas ele foi gentilíssimo em me acompanhar e me passar algumas páginas de teste de Dylan. Foi muito importante para mim. Me fez encontrar Tiziano Sclavi: recordo bem o seu casaco longo e seus sapatos Clark. Depois desta experiência, passou-se anos e anos antes de conseguir voltar a transpor a porta da redação.

Fiz um percurso muito articulado: inicialmente trabalhei no setor de quadrinhos para adultos. Com aquele gênero de publicação você "aprende" a desenhar anatomia. Quando fechou a editora em que trabalhava, comecei a fazer trabalhos "free-lance", mas sempre me dedicando a um quadrinho escrito por mim, ambientado na minha cidade, Vercelli, tendo meus amigos como protagonistas. Se tratava de uma história de horror cômico, vagamente inspirada em "Invasores de Corpos", com atmosfera a John Carpenter e monstros que se transformavam em mosquitos gigantes! Decidi auto-produzir e então dei uma volta pelas gráficas para verificar quanto custaria.

Uma gráfica (Edizioni Saviolo), convencida que o produto era bom, decidiu editá-lo às suas custas. Uma tiragem de 1.500 cópias, em brochura, formato A4 francês. Vendeu tudo e o editor se convenceu de produzir outras duas sequências, que também tiveram boa aceitação. Confiante com esse pequeno sucesso, retomei minha busca por uma editora para encontrar trabalho e consegui como desenhista para revistas e romances do Grupo Mondadori. Logo comecei a colaborar com jornais e revistas de várias editoras, realizando ilustrações para a "Cosmopolitan", "Rolling Stone", "Marie Claire", "Ok. Salute"... Mas eu queria contar histórias. 
Um dia, Giuseppe Di Bernardo me deu a oportunidade de desenhar para "L´insone", e assim, em 2006, aconteceu minha estréia nas bancas como desenhista de quadrinhos de uma série no formato da Bonelli. Durante muito trabalhei na Star Comics, na qual desenhei quase todas as mini-séries produzidas, de Cornélio a Dr. Morgue, terminando em Pinkerton. Naqueles anos, trabalhei também em "Unidade Especial", para Eura Editoriale, "Nick Raider" (Versione Edizione IF) e "Diabolik", para a Astorina. Nesse meio tempo, com Alessia Di Giovanni - ajudei a fundar a Associação Cultural Creativecomics com a qual realizei e realizo vários eventos ligados aos comics e um filme longa metragem de western horror em março de 2013, com efeitos especiais de Sergio Stivaletti e músicas de Manuel de Sica, mas também com uma ponta de Claudio Villa que aparece no filme desenhando um cartaz de "wanted" (procurado) com a face de Tex.

Em 2012, fiz alguns testes para as novas séries da Bonelli e esses testes forma para nas mãos de Mauro Boselli. Um dia, toca meu telefone: "Olá, é Boselli, gostaria de fazer um teste para Dampyr?" Quase cai da poltrona!

Foi difícil desenhar Harlan, Tesla e Kurjak? Tem um desses personagens que gosta mais de desenhar? 
Os personagens eu consegui de primeira, porque sempre li Dampyr, desde o primeiro número, e só recentemente o "perdi de vista" um pouco, então foi um reencontro e não a primeira vez que o vi.
Mas inspirei primeiramente em carne e osso, ou seja, Ralph Fiennes para Harlan, David Bowie para Caleb, Annie Lenox para Tesla, mas adotando as minhas idéias que tinha para os personagens. Kurjak é aquele que consigo desenhar com mais facilidade, fora Harlan é indubitavelmente Tesla: feminina e misteriosa, aparentemente frágil, mas na realidade poderosa!

Como foi trabalhar em dupla com Marco Fara? Foi a primeira que alguém preencheu seus desenhos? 
Conheci Marco Fara em 2007. Tinha que preencher uma edição de "L´insonne" em pouco tempo e precisava de um preenchedor que me ajudasse a entregar o trabalho no prazo. Temia muito que alguém, metesse as mãos em meus desenhos, não respeitasse as fisionomias e as atmosferas. Ao contrário desse raciocínio, Marco se revelou muito respeitoso e, do meu canto, procurei sempre de fazer desenhos precisos, indicando o trato a ser empregado, bem como, a quantidade de preto, de modo a deixar pouca margem para interpretações. 

Confesso que o preenchimento é a parte que menos gosto neste trabalho, prefiro dedicar-me à página e, acho que o confronto com uma outra pessoa que trabalha sobre minhas páginas seja ainda mais estimulante, tanto que na minha breve carreira trabalhei dessa forma em várias ocasiões. Com Elisabeta Barletta na mini-série "Laura Melies", Lucilla Stellato (Unidade Especial) e Mateo Bussola, em "Unidade Especial" e "Fator V". E todos hoje são meus colegas na Bonelli. Cada um seguiu seu próprio caminho, nos encontramos aqui, onde talvez tenhamos sempre desejado chegar. 

Falando da história que irá para as bancas, aonde estará Dampyr, em "Jovens Perdidos"? 
Dampyr de junho leva Harlan e amigos às favelas do Rio de Janeiro, onde se esconde a terrível ameaça de uma nova Mestre da Noite, que protege os "meninos de rua", os jovens vagabundos, transformando-os em vampiros. Entre outras coisas, esse episódio sai em junho, quando os refletores do mundo estarão apontados para o Brasil por causa do mundial de futebol.

Que tipo de documentação recebeu de Giovanni Di Gregorio para servir de referência para as atmosferas do seu trabalho?

Eu nunca fui ao Brasil, mas tenho uma amiga que já esteve nas favelas e me forneceu um pequeno material fotográfico, muitíssimo útil para caracterizar melhor as ambientações. Giovanni, ao contrário, sempre dando voltas ao mundo, soube me indicar as zonas do Rio aonde a história se desenvolveria, assim encontramos o material necessário para ambientá-la de maneira convincente e realista. Me forneceu também documentações relativa aos hábitos e costumes e para os esquadrões da morte. 

Acredito ser fundamental, para uma série como Dampyr, recolher uma documentação satisfatória para realizar a aventura, não somente sobre a localização, mas também em termos de sugestões visuais e atmosfera. Por exemplo, Claudio Falco, para o episódio especial da Riminicomix 2013, "Baile de fim de verão", me sugeriu de ver alguns filmes, entre os quais "Amarcord" de Federico Felini, utilíssimo para a cena da dança, que depois desenhei. E o Doutor Falco deixou uma porta aberta, visto que adoro cinema e uso filmes para a atmosfera ou para inspirar-me para certos personagens.

Página de Dampyr 171

E agora, o que te espera? Em qual nova aventura está trabalhando? 
Já estou na metade de uma nova aventura de Dampyr! É uma história de Boselli, cujo título é "O Filho de Kurjak". Trabalhar com Mauro é muito desgastante, mas muitíssimo gratificante. Escreve os roteiros desenhando com lápis vermelho os balões em que receberão os textos, indicando com flechas aonde estão os personagens. Depois datilografa no interior dos balões os diálogos. Ele segue de maneira férrea o roteiro, porque tem em mente a página e você não pode "sair desse roteiro". Se você toma muita liberdade, a ira dele pode ser fatal!

Brincadeiras a parte, a história foi um desafio porque se trata de um daqueles episódios que deixarão marcas na série e estou muito feliz de ter sido o escolhido para realizá-la. Mas como diz alguém: "grande poderes, derivam, grandes responsabilidades", finalizo aqui, os saúdo e volto a Harlan, que deixei em apuros, precisando de uma mão. Munida de lápis...


Entrevista concedida a Luca Del Savio


Matéria publicada originariamente no site: www.sergiobonellieditore.it

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