Com Mauro Boselli: Dampyr, Tex e o trabalho na Bonelli - Primeira Parte
Mauro Boselli é hoje uma das figuras mais importantes Sergio Bonelli Editore. Responsável por Tex e Dampyr, personagem criado por ele, junto com Maurizio Colombo, é também autor de histórias desses dois personagens, e também de Zagor. Boselli é também uma das figuras históricas da editora da Rua Buonarroti, a descobriu menino, quando amigo da familia de Gian Luigi Bonelli, observava o pai de Tex, escrever suas histórias do Ranger.
Em fevereiro passado, por cerca de uma semana, toda manhã conversei por telefone com Mauro Boselli. Surgiu uma interessante e longa entrevista, que envolve muitos assuntos, e que apresento dividida em partes.
Olá Mauro, seja bem vindo ao Lo Spazio Bianco!
Depois de quatorze anos da estréia de Dampyr, quais são as suas reflexões? Como se encontra a evolução do personagem, está seguindo a sua idéia inicial, como evoluiu as dinâmicas entre os personagens...
Quando se inicia uma obra, não se pode dizer aonde ela chegará. Certamente, tanto eu como Maurizio Colombo, tínhamos grande idéias e pensávamos em fazer algo além do caça vampiros pura e simplesmente, como muitos podem ter pensado. Não é por nada, mas na série já era previsto o inserimento do personagem Caleb Lost, criatura da raça dos Amesha, um potente estirpe, proveniente de um mundo paralelo. Também os nossos super vampiros, os Mestres da Noite, são de uma outra realidade.
As idéias do multiuniverso e das suas complexas potencialidades narrativas já "faziam parte do projeto". Então, claramente, nos primeiros números era necessário por as bases da série, apresentar os Mestres da Noite, as características deles, e, o carisma de superpredadores, introduzir o modo com que Dampyr combate eles e seus escravos não mortos, ou seja, os vampiros comuns. Assim, as primeiras histórias têm mais aventura e ação, também tem excessões, como aquelas do ciclo de Praga, que, a partir do número 5, Sob a Ponte de Pedra, mostram as facetas mais fantásticas e imprevisíveis que a série iria desenvolver mais tarde.
Tinha então em mente as principais tramas: a luta contra a outra potência (a parte os Amesha) que quer dominar o Multiuniverso, isto é, a aliança infernal, e a procura por parte de Harlan a seu pai, o Mestre da Noite Draka, seus encontros e desencontros com ele, que de qualquer modo se transformou em uma aliança à distância.
As evoluções da série, em síntese, são essas: muitas das histórias paralelas claramente me vieram a mente depois, outras já eram pensadas desde o início. Maurizio abandonou a série muito rápido. Ele deveria ter continuado com as suas temáticas aventurosas, de ação e de horror puro. Para esse gênero de história às vezes eu sou o autor, outras são Diego Cajelli.
Depois, você se ocupou mais da trama horizontal da série, desenvolvendo episódios importantes para a continuidade, e, Colombo das aventuras autônomas?
As idéias do multiuniverso e das suas complexas potencialidades narrativas já "faziam parte do projeto". Então, claramente, nos primeiros números era necessário por as bases da série, apresentar os Mestres da Noite, as características deles, e, o carisma de superpredadores, introduzir o modo com que Dampyr combate eles e seus escravos não mortos, ou seja, os vampiros comuns. Assim, as primeiras histórias têm mais aventura e ação, também tem excessões, como aquelas do ciclo de Praga, que, a partir do número 5, Sob a Ponte de Pedra, mostram as facetas mais fantásticas e imprevisíveis que a série iria desenvolver mais tarde.
Tinha então em mente as principais tramas: a luta contra a outra potência (a parte os Amesha) que quer dominar o Multiuniverso, isto é, a aliança infernal, e a procura por parte de Harlan a seu pai, o Mestre da Noite Draka, seus encontros e desencontros com ele, que de qualquer modo se transformou em uma aliança à distância.
As evoluções da série, em síntese, são essas: muitas das histórias paralelas claramente me vieram a mente depois, outras já eram pensadas desde o início. Maurizio abandonou a série muito rápido. Ele deveria ter continuado com as suas temáticas aventurosas, de ação e de horror puro. Para esse gênero de história às vezes eu sou o autor, outras são Diego Cajelli.
Depois, você se ocupou mais da trama horizontal da série, desenvolvendo episódios importantes para a continuidade, e, Colombo das aventuras autônomas?
Sim, eu deveria me ocupar mais da continuidade e ele das histórias "desconectadas", embora na realidade era previsto que ele também fizesse histórias ligadas à continuidade, mas ao fim dos primeiros números percebi que esse tipo de história também ficaria para eu fazer. Recordo que Colombo deveria escrever uma história sobre Praga, mas o resultado foi uma aventura completamente diferente e entendi, num estalo, que deveria me encarregar da macrotrama da saga. Certo, não imaginei que depois de seis meses da estréia ele teria uma crise e tudo sobraria para mim! Esta, foi a única coisa que não tinha programado, também porque já me ocupava de Tex e Zagor, depois, se eu soubesse que teria de conduzir uma outra série, não sei se teria tido audácia para tal. No entanto, tudo somado, as coisas andaram super bem, e acredito, nunca ter perdido o leme!
Dampyr é uma série de horror, de um horror muito particular. Ambientada em um mundo real e como protagonistas, os personagens talvez mais nobres do horror, isto é, os vampiros. Nascida em 2000, muito antes da moda dos vampiros, que nos últimos anos voltou à tona no cinema e na literatura. Quais são hoje as dificuldades no propor uma série de quadrinhos de tal gênero?
Desde o início nós já divergíamos com relação a moda dos vampiros "em luva de pelica", como aqueles de Ann Rice ou de Conde Saint Germain, outra série famosa (escrita por Chelsea Quinn Yarbo). Queríamos fazer uma coisa muito mais dura e muito mais realística.
Entre seus mil componentes, Dampyr tem duas bases. A primeira é aquela realística, isto é, fatos que se passam no nosso mundo. Se deve dar a ilusão, diferente daquilo que acontece em Dylan Dog, que aquela de Dampyr é a nossa realidade.
Um detalhe técnico que insisto sempre com as aspirantes a autor é o seguinte: Em Dylan Dog é legítimo que tenhamos cataclismas de todo tipo, Londres submersa, um terremoto ou invasão de zumbis. Em Dampyr isso não pode acontecer, aquilo que acontece na série é o que acontece ao nosso redor. Se uma cidade como Praga na série vier a ser submersa por uma enchente, é porque aconteceu verdade. Nós fingimos que aquele de Dampyr seja o nosso mundo, não um alternativo. Uma das idéias portanto da série, no início, era aquela de mostrar das guerras "desconhecidas", este é o filão que não temos seguido como queríamos, também porque às vezes há controvérsias políticas ligadas a esses aspectos. Por exemplo, na história ambientada na Chechênia (Dampyr 14 - Os Rebeldes), usamos os nomes originais chechenos dos territórios, pouco conhecidos do grande público.
Há uma série de quadrinhos americana editada pela Vertigo, American Vampire, que se tornou famosa. Por ter nascido dez anos depois de Dampyr, encontro na citada série afenidades com o Caçador de Vampiros da Bonelli.
Dampyr é uma série de horror, de um horror muito particular. Ambientada em um mundo real e como protagonistas, os personagens talvez mais nobres do horror, isto é, os vampiros. Nascida em 2000, muito antes da moda dos vampiros, que nos últimos anos voltou à tona no cinema e na literatura. Quais são hoje as dificuldades no propor uma série de quadrinhos de tal gênero?
Desde o início nós já divergíamos com relação a moda dos vampiros "em luva de pelica", como aqueles de Ann Rice ou de Conde Saint Germain, outra série famosa (escrita por Chelsea Quinn Yarbo). Queríamos fazer uma coisa muito mais dura e muito mais realística.
Entre seus mil componentes, Dampyr tem duas bases. A primeira é aquela realística, isto é, fatos que se passam no nosso mundo. Se deve dar a ilusão, diferente daquilo que acontece em Dylan Dog, que aquela de Dampyr é a nossa realidade.
Um detalhe técnico que insisto sempre com as aspirantes a autor é o seguinte: Em Dylan Dog é legítimo que tenhamos cataclismas de todo tipo, Londres submersa, um terremoto ou invasão de zumbis. Em Dampyr isso não pode acontecer, aquilo que acontece na série é o que acontece ao nosso redor. Se uma cidade como Praga na série vier a ser submersa por uma enchente, é porque aconteceu verdade. Nós fingimos que aquele de Dampyr seja o nosso mundo, não um alternativo. Uma das idéias portanto da série, no início, era aquela de mostrar das guerras "desconhecidas", este é o filão que não temos seguido como queríamos, também porque às vezes há controvérsias políticas ligadas a esses aspectos. Por exemplo, na história ambientada na Chechênia (Dampyr 14 - Os Rebeldes), usamos os nomes originais chechenos dos territórios, pouco conhecidos do grande público.
Tudo somado, portanto, o fato de ser ligado a essa nova realidade dura e não uma fantasia adocicada que nos coloca em desacordo não só com o gênero literariamente apreciável, de Ann Rice e similares, mas também com aquela que resulta cor de rosa dos Twlight e congêneres. Não tem nada a ver com aquele sub-gênero e não podemos, portanto, ao menos cavalgar a onde do sucesso. Entre outro tipo de história de vampiros, como também outras que precederam, como Bufty, a caça vampiros, é totalmente "fantasia", totalmente irreal. Aquilo que ao invés nós procuramos fazer nas histórias de Dampyr é encontrar plausibilidade, sem elementos mágicos exagerados, absurdos, contrários às leis da física.
A segunda base é aquela fantástica, quando entram no jogo as criaturas de outros mundos ou aquelas do folclore. Ou ainda os mundos literários de famosos autores de horror. Respeitando as regras da série, este tipo de história dá direito a uma maior liberdade e doses maiores de elementos oníricos, surreais e perturbadores. Com um limite: o fantástico é sempre laico e racional. Se usamos um personagem do folclore "trazemos" ele de algum modo para a mitologia da série.
Faz muito uso de personagens da mitologia e usa os países aonde se ambientam às histórias.
Sim, mas com critério de que já falei. No último Especial (Especial nº 9 - Os Estudantes da Escola Negra), que é ambientado na Islândia, não há nem Odin ou Thor. E se houvesse teríamos que explicar racionalmente. Um possível mal entendido: lendo somente qualquer número de Dampyr vendo nas páginas anjos e demônios, pode-se pensar que seja baseado numa religião, mas não é assim! Temos apresentado aquelas figuras como raças que combatem para a posse do multiuniverso. Nós temos feito acreditar que são anjos e demônios, mas na realidade não são. Na verdade, o que se destaca nas histórias é que os adversários de Caleb e Harlan, por serem maus e assustadores, podem ter suas razões políticas para se comportarem desse modo.
Para citar um exemplo, em Dampyr há um personagem serial killer/justiceiro, Jeff Carter, que nasceu antes de Dexter.
Em todo caso, inspiração para Dampyr foram alguns filmes de John Carpenter, com aqueles seus vampiros (Vampire, 1998), que tinha qualquer elemento de western real, cru. Não tenho dúvidas então que alguns álbuns Vertigo, como Sandman e Preacher, tenham obviamente influenciado o nosso imaginário. Alguns elementos provêm dali, a inspiração principal vem do cinema e da literatura. Seja eu ou Maurizio Colombo, somos dois admiradores dos filmes de Dario Argento, do cinema expressionista, das histórias fantásticas de Weird Tales (revista americana, por muito tempo a revista de ponta do gênero) e dos clássicos de horror, do gótico e do universo de Praga. Todos esses elementos juntos formam o imaginário dampyriano.
Tem intenção de escrever, ou aceitar de outros autores, novos episódios de Dampyr em que temos como "pano de fundo" eventos ligados à realidade ou com denúncia, como aquela aventura que se passou em Áquila (Dampyr 155 - O Segredo de Lazaro)?
Primeiro citei o número que se passou na Chechênia, que foi uma espécie de denúncia.
A história dedicada a Áquila nasce de uma raiva interior pela situação (e, quando lá estive, essa raiva aumentou). Eu mesmo, entrei em polêmica com um leitor que afirmava que o então Governo Berlusconi e os políticos locais tinham feito grandes coisas. Eu fui lá depois de três anos e verifiquei exatamente o contrário. Então, aquilo que está escrito na história, a preocupação das palavras de Harlan e de Kurjak são realmente o que pensa o povo de Áquila, o desespero dele.
Neste caso aceitei a história de Diego Cajelli, porque eu não tinha tempo de escrevê-la, mas a parte que a denúncia se caracteriza, foi uma sugestão minha.
Esta atenção com a realidade e o social é típica de outros quadrinhos bonellianos. Mister No, por anos, foi usado por Sergio (Bonelli), como um meio para dizer as coisas que pensava sobre a realidade, sobre política e sobre a situação na América do Sul. Naturalmente tudo visto no contexto de uma história de aventura, totalmente imaginária.
Você ainda é capaz de mostrar, também visualmente, determinadas situações que por si só caracterizam uma denúncia, de expor a situação.
Fomos ao local e documentamos o estado das coisas, tirando fotografias, Em outros casos, basta informações de livros e reportagens. Por exemplo, a história que se passou em Angola é um espelho da realidade africana, onde temos situações de desespero e de guerra. Aquela história é baseada na realidade. A única diferença é que temos nesse meio, alguns vampiros!
Esta atenção com a realidade e o social é típica de outros quadrinhos bonellianos. Mister No, por anos, foi usado por Sergio (Bonelli), como um meio para dizer as coisas que pensava sobre a realidade, sobre política e sobre a situação na América do Sul. Naturalmente tudo visto no contexto de uma história de aventura, totalmente imaginária.
Você ainda é capaz de mostrar, também visualmente, determinadas situações que por si só caracterizam uma denúncia, de expor a situação.
Fomos ao local e documentamos o estado das coisas, tirando fotografias, Em outros casos, basta informações de livros e reportagens. Por exemplo, a história que se passou em Angola é um espelho da realidade africana, onde temos situações de desespero e de guerra. Aquela história é baseada na realidade. A única diferença é que temos nesse meio, alguns vampiros!
Dampyr é uma série com forte continuidade interna e com um senso real do tempo que escorre. Pensou em um fim para a série, a dificuldade de mantê-la "infinitamente", ou teremos uma "passagem da tocha" por parte do protagonista?
"Infinitamente" não pensei, porque nada é infinito e então não há problema!
No passado, os quadrinhos Bonelli e italianos de um modo geral, não tinham continuidade, com as devidas exceções: o Pequeno Ranger, por exemplo, era estruturado para a continuidade. Também Ken Parker tinha uma continuidade ferrenha, com o personagem envelhecendo no curso das aventuras.
Digamos que, em poucas palavras, existem dois tipos de possibilidade para a série: aqueles que têm uma continuidade e aqueles que não têm. Dylan Dog com as suas diferente namoradas todas as vezes. Se há uma continuidade, as coisas se complicam, precisa-se arrastar detalhes, encontros, recordações, personagens, ações dos personagens, causas das ações, etc... Deve-se elaborar um mapa espacial-cronológico com tudo o que fazem os vários personagens, também quando não estão presentes nas páginas, para saber como e quando reaparecerão...
Naturalmente nem sonho em fazer algo tão meticuloso e científico! Isso requer muito tempo! Confio apenas na minha mente confusa e num emaranhado de anotações desorganizadas e ilegíveis, com as linhas a serem seguidas da saga e mais algumas anotações que realizarei no futuro. O importante é manter a bússola durante a complicada navegação. São tantos personagens que voltam, há tantas histórias dentro da macrosaga de Dampyr, e, portanto pode haver tantos finais, exceto, obviamente aquele que diz respeito ao protagonista.
Em 170 e tantos números (nesse momento, estamos realizando o número 190) muitos coadjuvantes dampyrianos já morreram e suas hsitórias se concluíram. Em uma série com continuidade, os leitores sabem o que pode acontecer na vida real. Há a morte e o envelhecimento. A vida de todos eles pode ser interrompida, exceto obviamente a do herói. Se a série fosse avante, como Tex por exemplo, sessenta anos, não acredito que isso aconteça, então todos os personagens morreriam de velhice, exceto aqueles como Tesla, os vários seres de outro mundo e naturalmente Harlan, que enquanto Dampyr pode chegar a quase três séculos! Idéia fantástica para um quadrinho super longo! Falando de tempo, os quinze anos de vida de Dampyr me parecem notáveis. Pensemos com reverência em Mágico Vento que, apesar de fazer sucesso, nos deixou já algum tempo. Repito, as histórias da série podem acabar e, de fato, algumas as conclui, também de personagens interessantes, como a agente especial do S.O.E, Vera Bendix, e o poeta Victor que morreram, de velhice. Outros foram mortos tragicamente, como o serial killer Jeff Carter. Também Lisa, por quem Dampyr era apaixonado.
Como em Ken Parker há o envelhecimento dos personagens, o mesmo em Dampyr. A vida escorre verdadeiramente na série, diferentemente do que temos em outros quadrinhos.
Exato, com as exceções que te disse. O único que poderá ter qualquer problema é Kurjak, que tinha quase quarenta anos na época do primeiro número e agora tem cinquenta anos. de fato, precisa parar de fumar pois está envelhecendo, e em qualquer história perguntará quem empurrará sua cadeira de rodas.
Um outro personagem que prezo muito, é Ann Jurging, idealizada por Maurizio Colombo, já era uma anciã no início da série e então milagrosamente a rejuvenesci, graças a um truque espaço-temporal. Outros personagens estõa em uma espécie de limbo e eu os "deixei de lado", mas em breve ouviremos falar ede Dolly McLaine e do Professor Foster.
Existem algumas linhas narrativas que queria seguir mais, mas outras se sobreporam. Espero dar espaço a todas, se os leitores continuarem a segui-las. Por exemplo, em breve retornarão Amber Tremayne e o ciclo céltico. Reaparecerão Black Annis, Matthew Shady e as histórias deles se conectarão àquelas de Draka e Dolly McLaine. Será revelado o mistério do Dampyr do passado, reaparecerá aquele do futuro, etc... etc...
Já no número 162 nasceu um outro Dampyr, Charles Moore...
Sim! É claro que por ser tão pequeno, não acredito que vá ter um papel de herói, não tendo a série assegurada uma longevidade como Tex ou Zagor! Seguramente, no entanto, aparecerá em outros episódios que já estou escrevendo, em papéis precisos.
Alguma vez já pensou em escrever histórias sobre Taliesin, o Dampyr do passado?
Como te falava, existem algumas prontas, outras em produção, e que ainda não saíram devido à complexidade da trama, mas verão a luz finalmente, a partir do início de 2015. O único problema desse tipo de história no passado é que, tenho que estar atento a construir duas histórias paralelas, uma no passado e uma outra no presente, ou a usar o truque de ambientá-la em um passado alternativo, como fiz no ciclo da Londres Vitoriana (Dampyr 133-136), desta vez estou cansado de usar subterfúgios, então teremos, em alguns casos, nas aventuras de Amber Tremayne, Taliesin e outros personagens de época, a não participação ativa de Harlan Draka. Algo bastante extremo, porque o titular da série não aparecerá na história, se não como um leitor.
Dampyr 167 nasceu do roteiro de um leitor, compartilhe conosco!
Bom, se temos uma boa idéia, e esta, segundo me parece era, ou seja, o fato do filho de uma vítima de Tesla quando era uma malvada vampira, e que agora quer vingar-se na heroína, porque não realizá-la, também porque não tivemos essa idéia?
A parte interessante foi chamar a atenção para Tesla.
É interessante justamente porque revelam coisas sobre o personagem. O leitor autor, falando desta sua idéia, citou uma história minha. O Passado de Kit Carson (Tex 407-409), como fonte de inspiração.
Uma história que trata do passado, da alma e dos sentimentos de um dos personagens principais é sempre interessante. O fato que a história tenha surgido da idéia de um leitor é irrelevante, poderia ter sido de um outro profissional, e que não fez o roteiro porque não é tecnicamente ligado à série. Isto acontece muito raramente em Dampyr, somente uma duas vezes, uma história foi roteirizada por colegas que no momento não tinham tempo ou que, infelizmente, tenham nos deixado, como Mario Faggela, que eu realizei o roteiro de uma história dele (Dampyr 107 - O Músico Enfeitiçado). Por isso que o caso do número 167 é um caso singolar, mais único que raro, mas porque não?
Voltando para dentro de um Dampyr, um autor seu, Claudio Falco, trabalha em outra área e continua a trabalhar, certo? Ele é médico!
Sim de fato. Também era um apaixonado, mas todos nós nascemos como apaixonados.
Em uma recente entrevista que fizemos com Fabiano Ambu, também centrada na edição que produziu "As Páginas da Casa de Faust" (Dampyr 121), falando do material extra da edição, ele disse: "Os conteúdos extra são as "páginas" da história de Mauro Boselli, verdadeiras obras de arte que mostram a notável criatividade da escrita de Mauro, as "piadas" para o desenhista ou admirar seus "projetos" de desenhos que servem para definir as cenas".
Na realidade é aquilo que já fazia GLBonelli. As suas páginas de história, que via direto anos atrás, era feitas segundo a técnica do layout e de storyboard, que é mais imediata e gráfica. Além disso, ele "falava" por escrito com os desenhistas com piadas e comentários, como fazia também Tiziano Sclavi. Também Sergio Bonelli dividia a página em partes, porém quase não escrevia as descrições; ele se limitava a "desenhar", as "desenhava" num estilo humorístico! O diálogo direto com os desenhistas ajuda a encontrar a harmonia precisa para um trabalho melhor, não funciona sempre, procura-se criá-la, esta sintonia.
Li recentemente uma crítica sua publicada anos atrás para o Texone desenhado por Pasquele Frisenda (Patagônia - 2009), onde se perguntava se algumas escolhas gráficas foram devido à minha história. Na verdade, é assim, você sabe o que o desenhista pode fazer, mas não pode simplesmente pedir algo preciso a ninguém. No caso em questão, era o grandíssimo Pasquele Frisenda e pude exigir dele coisas difíceis.
Autor e desenhista trabalham separadamente, mas trocam telefonemas,e-mails com os esboços. No que me toca, quando o desenhista passa na editora e nos vemos, examino as páginas da história, quadrinho por quadrinho, e chegamos a ponto de seguirmos em frente ou fazemos alguma correção.
Disto isto, se pode fazer sem! Deve-se ver as páginas que, casualmente, são desenhadas por dois desenhistas diferentes, porque talvez um interrompeu a história. Por exemplo, uma história que agora está desenhando Corrado Mastantuono para Tex que deveria ser, originariamente, o Texone de Massimo Carnevale. Justo ontem estava vendo os esboços e os enquadramentos, as distâncias, o ângulo é idêntico, troca-se os rostos dos personagens. Isto porque os meus roteiros são exigentes, e quem trabalha comigo pela primeira vez, rapidamente entende que não deve "sair do roteiro". Roteiro é a regra de um quadrinho. Depois há aqueles mais ou menos livre: por exemplo, um caro amigo meu, o mestre catalão Alfonso Font, às vezes tem liberdade, mas se afasta-se muito, chamo-lhe a atenção. Poderes do curador...
Certos aspectos fundamentais não podem ser derrogados: Para a Bonelli a legibilidade e a compreensão vêm antes de tudo, não se pode desenhar quadrinhos artísticos, mas incompreensíveis, a narração é fundamental. Por exemplo, quem fala primeiro deve estar a esquerda, com exceção de raros casos. Estas para nós são regras absolutas, que não se fazem presentes em outros gêneros de quadrinhos. Eu era um grande leitor da Marvel, mas ultimamente suas revistas me parecem todas iguais, com páginas iguais, cores confusas e pesadas, que não consigo ler. No entanto, se pegar na mão um Jack Kirby, ainda acho fantástico.
Entrevista concedida a David Padovani - publicada originariamente no site: www.lospazobianco.it
Nenhum comentário:
Postar um comentário