domingo, 15 de abril de 2012


ENTREVISTA DE ALESSIO FORTUNATO A
REVISTA
ITALIANA FUMO DI CHINA N° 200


EU E OS VAMPIROS
Alessio Fortunato, desenhista de Dampyr, fala de si.

Por Laura Pasotti
Desde de pequeno era apaixonado pelos robôs dos desenhos animados japoneses e procurava reproduzí-los nos papel. Mas então trocou de rota: sempre apaixonado por vampiros e cinema. Alessio Fortunato levou para os quadrinhos as histórias de Edgar Allan Poe e Freidrich Wilhelm. Seu grande ídolo foi Dino Battaglia, que desde pequeno procurava imitar os traços. Depois de ter desenhado Lazzarus Led pela Star Comics, John Doe pela Eura Editoriale e Maisha pela Edizioni Arcadia, entrou para o time de desenhistas de Dampyr, onde estreiou na edição 130 "A Casa das Cegonhas", com argumento de Mauro Boselli. Em fevereiro foi para as bancas italianas, seu segundo trabalho dampyriano, com uma aventura que se passa em Veneza.

De onde nasceu sua paixão pelos quadrinhos?
Recordo ter sempre lápis e pincel à mão. Desde bem novo sempre me expressei através dos desenhos e das imagens, e era fascinado pelo mundo irreal dos personagens de papel e dos sonhos. Os meus primeiros amores foram os grandes robôs da primeira leva nipônica na televisão italiana: Jeeg e Goldrake, sobretudo. Recordo que dispendia dias na vã tentativa de copiar no papel, os personagens dos quadrinhos, com uma predileção por Actarus e seu maravilhoso uniforme e capacete. Copiei ele até a exaustão, e foi então que comecei a usar a "mística" caneta Pilot BP-S Matic X Fine. Em seguida, comecei a desenhar pedidos dos meus amigos e os pedidos deles eram estranhos e às vezes bizarros: cenas dos filmes de Bruce Lee, mulheres nuas... na época já éramos bastente precoces.

Quais eram as suas leituras naquele período?
Naqueles anos, comecei a ler as histórias da Bonelli e da Lancio. Tex, Zagor, Comandante Mark, Lanciostory e Skorpio. Obviamente, também nessa fase copiava e recopiava até a exaustão, mas aí teve uma novidade, uma outra grande paixão, que tomava corpo: o cinema! Superman, Guerra nas Estrelas, ET, e, os filmes ingleses da Hammer, os clássicos revisitados da Universal e seus "monstros". A união dessas duas paixões fez o resto.


Mas quando entendeu que desenhista seria sua profissão?
Em 1986 quando apareceu nas bancas italianas Dylan Dog, decidi que desenhar quadrinhos seria minha profissão. O processo, porém, foi longo. Em 1993-94 e em 1995, participei de um concurso anual para aspirantes e desenhistas, organizado pela Associação Gulp! Di Bari, dentro da Expocomics. Na última participação, venci e então me senti confiante em realizar meu sonho: me tornar um desenhista de quadrinhos profissional. Em 1995 mesmo, com a revista fanzine Epic!, de Trani, participei de uma auto-produção, cujo título era "Cidade Obscura", com textos de Aldo Pastore e nesse meio tempo, desenhava, tal e qual Dino Battaglia, sonhando com uma grande oportunidade profissional.

O que fez para avançar...
Avancei graças a Ade Capone e a sua Liberty. Era 1996-97 e finalmente estreiei na editora italiana com o número zero de Erinni e Kor-one (personagem de Roberto De Angelis), em seguida chegaram o "Poder e a Glória" e Lazzarus Ledd. Este último com uma história especial, pelos dez anos da Star Comics, história cujo título foi: "Uma noite depois da chuva". O passo seguinte, foi entrar na série regular, na edição 63 - "Uma simples história de amor", e fiz em seguida onze edições da série regular, até o fim de 2002. Em dezembro daquele ano, vim a saber do projeto "John Doe" de Lorenzo Bartoli e Roberto Recchioni e da procura deles por um desenhista. Os dois me permitiram fazer um teste, e, tudo deu certo, então realizei minha primeira edição de John Doe, a edição 10 - "O Rei do Mundo". O trabalho na série foi adiante, até 2009. Durante esse período, intercalei trabalhos com Lanciostory e Skorpio, com textos de Bartoli, e também fiz alguma coisa sobre Detetive Dante. Outra maravilhosa experiência foi a colaboração com Arcadia Edizioni, para a qual, desenhei a mini-série Maisha, idealizada e escrita pelo grande (amigo) Francesco Matteuzzi. Uma história de vampiros com atmosfera inovativa, um trabalho apurado. Sabia que os vampiros entrariam no meu destino de desenhista e o sonho de todos os desenhistas é fazer parte da "Grande Casa de Idéias Italiana", a Sergio Bonelli Editore. Sonho que se concretizou para mim, com o ingresso na ótima série de vampiros: Dampyr. Idealizada por Mauro Boselli e Maurizio Colombo.

Como é trabalhar com Boselli?
A experiência com Boselli, creio que que seja muito interessante para um desenhista: "te força" cada vez mais a apresentar soluções e a melhorar sempre. Há algumas semanas, estou trabalhando em uma nova aventura, muito estimulante para mim, um grande presente de Boselli, uma nova edição de Dampyr, que se passará em Paris. Serão meses fantásticos!
Os vampiros são e serão sempre a minha paixão literária-cinematográfica. Um amor que expresso também na minha tese sobre cinema expressionista alemão, tocando no tema de vampiro, com o grande trabalho de F.W.Marnau - Nosferatu - até chegar aos clássicos da Universal com o grandíssimo Bela Lugosi.

Depois de ter desenhado Lazarus Ledd e John Doe, entrou para o staff de Dampyr. Como foi trocar o seu modo de trabalhar?
O método de trabalho não muda muito do ponto de vista técnico-realizativo, mas tinha meus temores no início da minha aventura em Dampyr. Teria de abandonar meu estilo, minha caneta de trabalho, mas nada disso aconteceu. Os argumentos de Boselli são realmente detalhadíssimos e plenos de pontos de referência, mas deixam espaço para o desenhista exprimir o que tem de melhor. Mas devo admitir que inicialmente estava deslocado com a configuração da página, com um monte de divisão, com muitos quadrinhos, e os movimentos da ação em baixo com os diálogos na parte superior. Porém, não renunciarei a esse modo de trabalhar, é perfeito!
Arquitetura e ambientações são sempre apuradíssimos nos seus desenhos. Isso deriva da sua formação ou da simples paixão?
Certamente a partir dos mesus estudos. Venhor de uma formação cenográfica, os anos na Aacademia na seção cenográfica me proporcionaram uma grande paixão pela "encenação" e atmosfera.

Suas páginas parecem feitas a lápis ou com pouca tinta, mas na realidade são carregadas de tinta. Conte-nos como as realiza?
Se pudesse, deixaria tudo a lápis. O movimento rápido e a frescura do resultado não tem igual... mas creio que todos os desenhistas responderiam assim... Quando comecei, experimentei usar vários instrumentos. Da caneta a pincéis de todos os formatos, esponja a "Battaglia/Corrado Roi", mas com o tempo estas soluções não me agradaram e voltei ao meu grande amor: a caneta! Este instrumento me dá a possibildidade de aproximar-se mais do resultado desejado, pois devo dizer que não gosto do preto puro.

No seu primeiro Dampyr, encontramos uma personagem famosa da série, Lisa. Como foi estreiar fazendo uma personagem tão apreciada?
Confesso que estava nervoso e impaciente para começar. A trama importantíssima com Lisa fez o resto. Tinha obviamente lido às edições do meu grande amigo, Arturo Lozzi e me apaixonei instantaneamente, era o tipo de história que tinha sonhado para minha estréia na série, e assim se deu. A minha predileção vai sempre na direção da atmosfera da história, do romantismo, das grandes paixões e dos detalhes das imagens. Com meu segundo trabalho, aconteceu a mesma coisa, espero ter agradado aos leitores, eu dei tudo o que podia.

Gostaria de desenhar algum outro personagem da Bonelli?
Boa pergunta! A minha resposta é sim. Teria o maior prazer em desenhar... Dylan Dog! Pronto falei! Espero um dia realizar também este sonho. Trabalharei com afinco para que isso possa acontecer, se realizar. Todos saberão quando isso acontecer.

Desenhou uma das histórias de Wonderland (Nicola Pesce). Achou divertido trabalhar um clássico da literatura como "Alice no País das Maravilhas"?
Quando Amal Serena, a responsável pelo volume citado, me propôs colaborar no projeto "Alice", aceitei de primeira e fiquei felicíssimo em participar. O clássico de Lewis Carrol desde sempre foi fonte de inspiração para o cinema, estimulando a imaginação de desenhistas e ilustradores. Entrar através do espelho, naquele mundo mágico e obscuro é realizar um sonho. Fiquei contente também por voltar a trabalhar por alguns momentos com Lorenzo Bartoli.
Quais os desenhistas que influenciaram seu trabalho?
Sobre todos: Dino Battaglia. As suas atmosferas são inigualáveis. Possuo uma edição, da qual tenho o maior ciúme, Totentanz, editada pela Milano Libri em 1973. Para mim, uma bíblia de como se deve recriar uma atmosfera e a magia numa página de quadrinho. O que conta naquelas páginas, sempre me inspirou, mas por hora meu traço está bem distante daquele estilo. Mas ele não é o único a me inspirar. Em ordem aleatória, mas com igual importância: Nicola Mari e Bruno Brindisi, Gianni Freghieri e Giampiero Casertano.
Uma das minhas últimas paixões é Majo, com seu estilo apurado e detalhista, é de um realismo incomum. No entanto, se eu fosse apostar em alguém, seria nos irmãos Cestaro. Para mim, já se encontram no Olímpo dos melhores desenhistas italianos.

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